21/10/2019 - 8:00
Passada sua quarentena de ex-ministro da Fazenda Eduardo Guardia assume a posição de CEO da BTG Pactual Asset Management com a missão de atender os clientes institucionais da gestora para uma realidade de juros baixos na economia brasileira. Em linha semelhante com as novas projeções macroeconômicas do Itaú e de outras seis instituições financeiras, Guardia também prevê que a taxa básica (Selic) ficará entre 4,5% (2019) e 4% ao ano até o final de 2020. “O juro vai continuar caindo, 4% ao ano é uma taxa viável”, afirma.
Na visão dele, ninguém viu uma taxa de financiamento tão pequena no Brasil, e diante dessa perspectiva, a alocação de recursos irá mudar. “É uma discussão relevante, como as pessoas vão investir o dinheiro? O retorno alto com Selic em 15% e liquidez diária ficou no passado. O juro menor vai trazer uma transformação importante”, diz.
Entre essas mudanças, Guardia já nota um movimento muito saudável para companhias que acessam o mercado de capitais doméstico, com empresas captando via debêntures com taxas menores e prazos mais longos. Na prática, esses emissores vão economizar com despesas financeiras mais baratas após a troca de dívidas caras antigas ou terão a capacidade de buscar recursos para projetos de investimentos com custos razoáveis no segmento de títulos corporativos.
Para o investidor, diante da necessidade de melhor rentabilidade, o ex-ministro da Fazenda aponta uma migração natural de parte do volume em títulos públicos para fundos de ações, fundos de private equity (participações societárias em empresas ou projetos) e cotas imobiliárias listadas em bolsa. “No Chile, esse movimento de redução de juros começou bem antes”, disse referindo-se a experiência da asset do BTG Pactual em outros países da América Latina como Chile, Colômbia e México.

Ao detalhar esse caminho, Guardia falou da oportunidade para aportes em private equity, fundos imobiliários, de shoppings, carteiras com projetos de infraestrutura e renda variável. Ele destacou que fundos de renda de aluguéis proporcionam ganham líquidos de 5,5% a 8% ao ano. “E ainda veremos um deslocamento de recursos que estavam em papéis públicos para ações”, afirma.
Questionado sobre qual seria esse volume indo em direção ao mercado acionário, ele lembrou que mais de 60% do dinheiro aplicado em fundos de investimento, algo como R$ 3 trilhões, está em renda fixa. “A gente vai passar por esse momento [de diversificação] para ações, investimentos alternativos e fundos globais”, diz.
Na gestora do BTG Pactual, duas estratégias são ofertadas aos investidores para atender essa futura transformação nas aplicações financeiras: a do fundo Absoluto que reúne de oito a dez ativos no máximo de empresas com boa performance nos resultados; e a estratégia Smart Beta, que buscar superar o Ibovespa ou outro índice referencial. Ao lembrar de sua passagem como ex-diretor financeiro da BM&FBovespa (hoje B3) e das recomendações da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Guardia alertou que a renda variável possui riscos. “É preciso suitability para não oferecer o produto errado para o cliente que tem outro perfil de risco, e agilidade para apresentar o produto mais adequado”, afirma.
Questão fiscal Pelo ambiente macro, o crescimento virá no próximo ano, no cenário básico da asset do BTG é de 2% de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2020. “O Brasil está na direção correta, mas isso não quer dizer que não tenha muita coisa a ser feita. Para a taxa de investimento subir de 16% para 20% do PIB é preciso confiança”, afirma o ex-ministro da Fazenda.
“A Reforma Tributária é importante, mas a Administrativa
primeiro. Não vamos resolver o problema pela
receita, mas sim pela despesa.
Quanto aos riscos, Guardia considerou a questão fiscal do País como relevante e ressaltou que a aprovação da reforma da Previdência é dada como “precificada” pelo mercado, ou seja, sem prêmios (ganhos adicionais) aos aplicadores. Ao mesmo tempo, ele considera a aprovação como condição necessária para a retomada da confiança e dos investimentos. “É isso que vai fazer a diferença. Temos um Legislativo muito comprometido com essa agenda e que também vai começar a discussão da PEC paralela com os estados”.
Para exemplificar sua preocupação com as contas públicas, ele citou que entre os próximos passos do Congresso Nacional dá preferência para o andamento da reforma Administrativa, que enfrentará o crescente aumento das despesas com o funcionalismo. “A Tributária é importante, mas a Administrativa, primeiro. Não vamos resolver o problema fiscal pela receita e a mudança na estrutura dos impostos, negociada com estados e municípios é tão difícil quanto à da Previdência, com uma transição de vários anos”, diz.
Novidades ao mercado O executivo contou que a gestora prepara o lançamento de um novo fundo de private equity que possa gerar ganhos de longo prazo aos investidores. “Os institucionais tiveram uma experiência ruim com private equity no passado, mas com o juro baixo, a meta atuarial não será batida”, afirma. Sem dar detalhes, Guardia também mencionou a série de fundos imobiliários ofertados ao mercado.
Sobre novidades de terceiros, o BTG Pactual informou em comunicado que distribuirá toda a gama de fundos do T. Rowe Price UCITS em toda a região da América Latina, mais especificamente para investidores institucionais e profissionais de Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai. A T. Rowe Price é uma das maiores administradoras de ativos do mundo, com US$ 1,13 trilhão em ativos sob gestão e presença em 16 países. “Dentro do próprio banco, a asset concorre com produtos de terceiros, temos que mostrar resultados”, conclui Guardia. A BTG Pactual Asset Management possui R$ 226 bilhões de ativos em gestão e administração.