Até 2012, havia 20 vagas no curso de pós-graduação em telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). No ano passado, esse número mais que dobrou, para 52, preenchidas por médicos que estão de olho no futuro. “No futuro não; no presente. Essa já começa a ser a nossa realidade”, afirma o médico e professor Chao Lung Wen, coordenador do Núcleo de Telemedicina e Telessaúde do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e presidente do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde. Segundo ele, irá ocorrer com a telemedicina, que consiste na interação virtual médico-paciente, o mesmo fenômeno que aconteceu com o internet banking nos últimos dez anos no Brasil. 

 

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“As instituições financeiras precisaram mudar o conceito e a abordagem dos serviços bancários para atender à demanda digital”, afirma Lung Wen. “No caso dos serviços de saúde, estamos falando de algo muito mais sério, que é cuidar e salvar vidas a distância”, diz. No Brasil, por lei, só é permitido o atendimento remoto em duas situações: quando não há médico no local e quando há risco de morte. Mas a telemedicina vai muito além do atendimento remoto. É possível, por exemplo, obter uma segunda opinião a distância, realizar triagens de pacientes, dar apoio ao diagnóstico e ajudar na tomada de decisão. 

 

“Há ainda o desenvolvimento de programas educacionais baseados em tecnologia para atualização profissional, treinamento de profissionais não médicos, informação e motivação da população geral para prevenção de doenças”, diz o professor Wen. A telemedicina é uma das áreas apontadas no estudo “Carreiras do Futuro”, coordenado por Renata Spers, professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), e realizado através do Programa de Estudos do Futuro (Profuturo) da Fundação Instituto de Administração (FIA). “As profissões do futuro estão ligadas à sustentabilidade, inovação, preocupação com a qualidade de vida e aumento da expectativa de vida da população”, afirma ela. Essas profissões foram inicialmente identificadas nos estudos internacionais realizados pelo World Future Society, com sede nos EUA. 

 

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A partir de uma lista com 30 profissões, os especialistas apontaram aquelas com maior potencial para desenvolvimento de carreira no Brasil. Dentre elas, estão gerente de ecorrelações, gerente de inovação, conselheiro de aposentadoria e técnico em telemedicina. Essas profissões são impulsionadas por tendências como a maior preocupação com o meio ambiente, com a qualidade de vida, com o envelhecimento da população e a necessidade de inovação e globalização. Para acompanhar a velocidade das mudanças, além de optar por uma carreira que atenda às demandas das próximas décadas, o profissional precisa ter, cada vez mais, capacidade de aprendizado e buscar um desenvolvimento constante. 

 

“Muitos dos desafios enfrentados pelas empresas exigem profissionais com conhecimento em mais de uma área e não há cursos que entreguem um profissional pronto para lidar com esses desafios. Então, a pessoa precisa se preparar por meio de cursos formais (na empresa ou fora dela), assim como leituras, viagens e outras formas complementares de aprendizado”, afirma a professora Renata. Ela cita como exemplo o gerente de ecorrelação que pode ter uma formação básica em engenharia ambiental e uma pós-graduação em comunicação, ou em legislação ambiental, para complementar sua formação. 

 

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Atendimento médico virtual: Chao Lung Wen, coordenador do Núcleo de Telemedicina da USP,

diz que a medicina digital é a solução para treinar médicos, além de cuidar e salvar vidas a distância

 

E fica o aviso de Renata: a educação continuada será fundamental em qualquer área ou profissão. O ambiente das organizações é bastante complexo e dinâmico, as pessoas devem sempre se atualizar para lidar com as exigências impostas. E, definitivamente, romper as barreiras do digital, em todas as áreas, é e será o grande desafio nos próximos anos. É o que mostra uma pesquisa da Accenture sobre as novas tendências e a reconfiguração global dos talentos. De acordo com o estudo, graças à globalização e ao avanço digital, as companhias estão formando times de profissionais cada vez mais internacionais e com habilidades diversificadas. 

 

“O profissional não precisa estar no país onde trabalha; ele pode operar de forma remota o tempo todo. E isso já é uma realidade em várias empresas”, afirma Guilherme Portugal, diretor da área de talentos e organização da Accenture. Ele cita o exemplo da Índia, onde existem centenas de call centers prestando serviço para empresas americanas. Segundo ele, o Brasil começa a ocupar um certo espaço nesse movimento, mas ainda existe a barreira do idioma. Ter o inglês fluente é o divisor de águas. Além disso, mais do que nunca, a capacidade de adaptação e de mudança é fundamental. “O que o profissional faz hoje será diferente do que ele irá fazer daqui a cinco, dez anos”, diz Portugal.

 

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