18/11/2016 - 20:00
Quando conduz uma entrevista de emprego, o canadense Stewart Butterfield gosta de perguntar se o sucesso do candidato à vaga veio da sorte ou do trabalho duro. Ele prefere contratar quem se considera um sortudo. Afinal, Butterfield atribui à sorte 98% de sua ascensão no mundo dos negócios. Ao longo de sua trajetória, o empreendedor tem colecionado boas tacadas. Ele é um dos fundadores do Flickr, um dos primeiros sites de imagens da internet, vendido para o Yahoo por US$ 35 milhões, em 2005. Agora, está à frente da Slack, uma das startups mais quentes do momento e que está dando dor de cabeça para dois gigantes do setor de tecnologia: Facebook e Microsoft.
Fundada em 2013 em São Francisco, a Slack desenvolveu uma solução de colaboração e de mensagens usada por empresas como Airbnb, eBay, Samsung e Ticketmaster. Toda baseada na internet, a plataforma permite que empresas compartilhem informações de forma mais eficiente que o tradicional e-mail. Desde sua origem, a Slack recebeu US$ 540 milhões dos principais fundos de venture capital do Vale do Silício, como Accel Partners, Founders Club e Andreessen Horowitz. Hoje, está avaliada em US$ 3,8 bilhões, com faturamento anual estimado em US$ 100 milhões.
Nos últimos cinco meses, o número de usuários cresceu 33% para quatro milhões de pessoas que, diariamente, usam o aplicativo para trocar documentos e agilizar negociações. Destes, 1,25 milhão pagam até US$ 12 por mês para obter versões com mais funcionalidades. “Acredito que daqui a dez anos, todas as empresas vão usar o Slack ou uma solução similar”, afirmou Butterfield. Esse sucesso instantâneo nos escritórios atraiu dois gigantes do setor de tecnologia. A Microsoft, que é dona de um longo reinado em aplicações para empresas, e o Facebook, do alto de seus 1,8 bilhão de usuários, apresentaram soluções que competem com a plataforma da Slack.
“Tenho sido paranoico sobre isso por um longo tempo”, disse, recentemente, Butterfield, sobre a chegada desses concorrentes, pesos pesados do setor de tecnologia. É uma luta ferrenha. Todos estão de olho em uma receita que deve chegar a US$ 6,7 bilhões em 2020, de acordo com estimativas da consultoria americana IDC. “O Slack é uma boa ferramenta para agilizar comunicação, tem funcionalidade de busca interessante, mas terá que ser mais ágil ainda para competir com essas empresas”, diz Claudio Carvajal, coordenador dos cursos de administração e de gestão de TI da Fiap.
A companhia de Mark Zuckerberg foi a primeira a enfrentar o Slack com o Workplace, versão corporativa de sua rede social, anunciada em outubro. Como o Facebook original, os usuários poderão encontrar uma seção com as notícias principais, bater papo em grupo ou de forma privada e compartilhar documentos, vídeos e áudios durante uma conversa. A Microsoft, no começo de novembro, apresentou o Teams, que será integrado ao Office 365, versão online de seu popular pacote de automação de escritórios, a partir do primeiro trimestre de 2017.
O novo aplicativo também conversará com produtos concorrentes, pois sua interface é aberta, o que permite que os desenvolvedores possam adaptá-lo para funcionar com outros serviços. O programa de mensagens Skype também rodará na nova ferramenta da Microsoft. “O Teams integrará bate-papos, reuniões, notas e os aplicativos do Office em uma única plataforma”, disse Satya Nadella, CEO da Microsoft, no anúncio da ferramenta. Outra vantagem é a base de usuários que já usam o Office 365: são 85 milhões de pessoas, de acordo com a Microsoft.
“Essa é a grande força da Microsoft: sua integração com o Office”, afirma Alan Lepofsky, vice-presidente e principal analista da consultoria americana Constellation Research. O Slack não demorou a reagir à chegada dos dois concorrentes de peso. Em outubro, anunciou um acordo com a IBM, para usar a plataforma de inteligência artificial em seu serviço. Também fechou acordos com o microblog Twitter e o sistema corporativo da Salesforce, para integrá-los ao Slack.
Em um sinal de irreverência, a startup publicou um anúncio de página inteira no jornal americano The New York Times, saudando a chegada da Microsoft. “Querida Microsoft”, começa o texto. “Estamos realmente animados por ter alguma competição.” Depois, elencava as razões que tornam o Slack um produto melhor. A estratégia de Butterfield foi a mesma da Apple, na década de 1980, que também pagou por um anúncio para celebrar ironicamente a chegada da IBM no mercado de computação pessoal. O resto é história: a Apple virou a empresa mais valiosa do mundo e a IBM saiu do mercado de PCs. Terá o Slack um destino tão glorioso? A sorte está lançada.