09/04/2015 - 18:00
Quem visita com certa frequência o complexo World Trade Center, na Zona Sul de São Paulo, pode acabar se familiarizando com a presença energética do empresário português João de Nagy. Sempre se movimentando pelo hotel e pelo centro de convenções – que, juntamente com o shopping de construção e design D&D e uma torre de escritórios, compõem o WTC São Paulo –, ele pode ser costumeiramente visto conversando, com um leve sotaque lusitano, com os funcionários e hóspedes. Nagy é um dos donos da empresa que administra o empreendimento, em sociedade com o amigo e parceiro de negócios Gilberto Bomeny.
Apesar de passar parte considerável de seu tempo no local, o empresário português de 56 anos não tem uma sala própria. Ele aboliu, já em 1986, a prática de ter um escritório e até mesmo uma secretária para cuidar de sua agenda e de seus telefonemas. “O meu escritório é o lugar à frente da pessoa com quem estou falando no momento”, diz. “Quando tenho uma reunião a fazer, vou para a sala disponível.” Para evitar trabalhar o tempo todo, mora num quarto de hotel, a 700 metros do WTC. Aos fins de semana, desfila pelas ruas com um Fusca 1965.
Piloto de aviões e ex-praticante de judô e de rugby, o despojado empresário não é do tipo que gosta de ficar parado. Agora, ele terá mais motivos para agitação. Devido ao modelo integrado que adotou no empreendimento em São Paulo, a empresa de Nagy e Bomeny foi contratada para gerenciar o maior projeto imobiliário atual da França. Trata-se do International Trade Center (ITC), um complexo de centro de convenções e sete hotéis com 1,8 mil quartos, que vai custar € 750 milhões – cerca de R$ 2,5 bilhões. Com previsão de ficar pronto até 2019, ele será erguido em Roissy, uma vila nos arredores de Paris, na qual está baseado o segundo aeroporto com maior trânsito de passageiros da Europa, o Charles de Gaulle.
Como se não bastasse, agora que está completando 20 anos de operação no Brasil exclusivamente em São Paulo, o grupo WTC negocia levar a marca para, pelo menos, outras duas cidades. Nagy não revela quais são elas, mas há rumores de um complexo no Rio de Janeiro. “Inventamos coisas o tempo todo”, diz. “Os executivos costumam, depois de dois anos de trabalho aqui, se cansar dessa busca eterna por novidades e acabam pedindo para sair.” Mas essa mentalidade tem feito a diferença desde que o empresário lisboeta se tornou sócio do WTC São Paulo, em 2006. A história do empreendimento começou há 25 anos, quando Bomeny comprou o terreno, que era uma fazenda, numa área pouco explorada da cidade.
O empresário brasileiro faz parte de uma família tradicional nos negócios do Rio de Janeiro – o seu irmão, José Ricardo Bomeny, fundou a Brazil Fast Food Corporation (BFFC), dona da marca de lanchonetes Bob’s e dos restaurantes Pizza Hut no Brasil. Bomeny havia acabado de conseguir os direitos para usar no País a marca WTC, criada pela família Rockefeller e que se tornou um símbolo capitalista tão poderoso que acabou sendo o alvo do ataque terrorista mais letal da história, no fatídico 11 de setembro de 2001. No Brasil, a construção do WTC moveu para a região da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini o centro corporativo de São Paulo.
Hoje, mais de 10 mil empresas têm escritórios nas proximidades. A estruturação da região ainda atraiu um grande número de competidores internacionais, como os hotéis Hyatt e o vizinho Hilton. São 3,3 mil quartos nas imediações. “Existem mais apartamentos aqui do que em Salvador ou Curitiba”, diz Luciano Montenegro, CEO do WTC. Apenas pelo complexo, circulam diariamente 15 mil pessoas. Apesar de tudo isso, o empreendimento não dava lucro. A experiência de Nagy no ramo de hotelaria ajudou a mudar a situação. Bomeny estava abandonando o contrato com a rede espanhola Meliá, que não trazia resultados, e o português ajudou a fechar negócio com a americana Sheraton.
Nagy chegou ao Brasil em 1977, para atuar nos hotéis Othon, a maior rede brasileira da época. Depois, passou seis anos na Alemanha, onde construiu cinco hotéis da bandeira Kempinski. Ele ainda mantém esses negócios, que são gerenciados a distância. Voltou ao Brasil em 2006, por conta de problemas pessoais, e foi logo convidado por Bomeny para entrar na sociedade. Hoje, o WTC fatura em torno dos R$ 100 milhões, com boa rentabilidade. No ano passado, o lucro ficou em R$ 30 milhões, e deve crescer mais de 10% neste ano. “O WTC não é conhecido como um lugar de luxo, mas de negócios”, diz Nagy. “Em tempos de austeridade, funciona como um Fusca: tem charme, é simples e não te deixa na mão.”