“Foi uma operação de guerra”, resume José Fuentes Molinero Jr., vice-presidente de eletrônicos de consumo da Samsung no Brasil. Ele se refere à intrincada logística criada pela empresa para conseguir repetir no Brasil o que já havia feito no Exterior: lançar antes da concorrência os televisores 3D no País.

 

Vendidos nos EUA a partir de março de 2010, os aparelhos aterrissariam por aqui apenas em junho. Mas um anúncio de que a rival também coreana LG planejava lançar seus televisores tridimensionais já a partir do final de abril fez a Samsung rever seus planos. 

 

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Molinero Jr. e Silvio Stagni (à esq.) 

 

Molinero mobilizou suas tropas e conquistou o terreno cobiçado. Não sem um certo sacrifício. Como todo o material para a montagem das tevês em Manaus foi trazido de avião e a distribuição dos aparelhos também foi feita por via aérea, as margens da Samsung foram sacrificadas em um primeiro momento. 

 

Mas, entre abril e setembro, a empresa monopolizou o mercado de tevês 3D vendidas no Brasil, com participação de 99,87%, segundo a consultoria GFK. “Apenas o ganho de imagem junto ao consumidor compensou esses gastos”, afirma Molinero Jr. 

 

A agressividade em lançamentos é regra dentro da Samsung. Em 2010, a marca colocou três produtos por semana nas prateleiras brasileiras, em média. Entre as sensações da temporada, ao lado das tevês 3D, estão os tablets. 

 

Criado pela Apple, o iPad foi lançado em abril nos EUA, mas chegou ao Brasil só em dezembro. Mais rápida, a Samsung conseguiu colocar o seu Galaxy Tab nas prateleiras brasileiras em novembro, dois meses depois da sua criação. “Todo novo mercado tem a hora certa para chegar”, pondera Silvio Stagni, vice-presidente de telecom da Samsung no Brasil. 

 

Além da agilidade, a empresa é reconhecida pela beleza de seus produtos. Atualmente, a tevês de LED modelo C9000 encanta os consumidores. Com 55 polegadas, ela oferece imagens 3D em altíssima definição e conexão à internet, tem acabamento de titânio escovado e 0,79 cm de espessura. O preço: R$ 18 mil. 

 

Não é por acaso que, na última década, a Samsung ganhou mais prêmios da prestigiada Sociedade de Design Industrial da América (IDSA, em inglês) do que qualquer outra companhia no planeta. “A força da Samsung reside na fabricação disciplinada e no apuro do seu design”, disse à DINHEIRO o analista americano Rob Enderle.

 

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Tanta beleza e agilidade parecem tentar disfarçar a maior falta da Samsung: a timidez em lançar produtos inovadores antes dos outros. “Ela ainda não se mostrou capaz de criar um produto matador”, disse à DINHEIRO Willy Shih, professor da escola de negócios de Harvard. 

 

Apesar de algumas tecnologias e produtos lançados em primeira mão, a Samsung não criou produtos revolucionários. Dispositivos como o toca-fitas portátil Walkman, da Sony, e o console de videogame Wii, da Nintendo. Ou ainda produtos criadores de mercado, como o leitor de e-books Kindle, da Amazon, e o próprio iPad, da Apple.

 

“A Samsung luta para superar o medo de ser a primeira a ter uma ideia nova”, resumiu o porta-voz da empresa, James Chung, ao diário londrino Financial Times. 

 

Mas será que os consumidores percebem ou valorizam tanto o esforço de inovação? O fato é que a estratégia da Samsung é bem-sucedida. Ela é hoje a maior empresa de tecnologia do mundo, à frente da americana HP, com vendas superiores aos US$ 117 bilhões em 2009. 

 

A empresa é líder no Brasil no mercado de televisores de tela fina, tocadores Blu-Ray e celulares. O último posto ela ocupa desde agosto quando superou a finlandesa Nokia em participação de mercado. 

 

Em câmeras fotográficas é vice-líder. A partir de 2012, os coreanos planejam entrar no mercado de máquinas de lavar e geladeiras e, para isso,  já inauguraram uma nova fábrica em Manaus. 

 

Estima-se que a receita local da companhia já se aproxima dos R$ 10 bilhões. Os números acabam revelando o que o consumidor já avalizou: com um senso de oportunidade e de beleza apurados, a Samsung vem provando que parecer uma empresa inovadora pode ser tão eficaz quanto ser uma.