O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é um homem de sorte. Na segunda-feira 18, depois de ver o dólar despencar para R$ 1,6686, ele aumentou de 4% para 6% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o capital estrangeiro aplicado em renda fixa, redobrando a aposta que fizera algumas semanas antes para conter a valorização do real.  A medida, de alcance limitado para frear a queda global da moeda americana, foi vista com ceticismo por muitos analistas econômicos. Mas na terça-feira, quando os mercados de câmbio abriram no Brasil,a notícia de que a China aumentara a taxa básica de juros de 2,25% para 2,5% ajudou a dar suporte ao dólar, que subiu para R$ 1,6868, patamar que manteve na quinta-feira. 

 

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Entre os países emergentes, o real foi a moeda que mais perdeu valor entre segunda e quinta-feira. Exatamente o que queria o governo, pressionado pelo setor industrial a manter o câmbio mais favorável à produção nacional. 

 

“A alta do IOF teve algum efeito de curto prazo, mas é óbvio que essas medidas são paliativas e, se houver uma nova rodada de enfraquecimento da moeda americana, não vai ser o IOF que vai impedir”, disse à DINHEIRO Zeina Latif, economista-sênior para a América Latina do Royal Bank of Scotland (RBS).

 

Enquanto os chineses aumentam os juros para 2,5% para conter pressões inflacionárias e esfriar bolhas especulativas que surgem no mercado imobiliário de algumas cidades, o Brasil prefere manter a taxa básica Selic em 10,75% ao ano, o nível mais alto do mundo. 

 

Foi esta a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central, dirigido por Henrique Meirelles, na quarta-feira. Aqui, a previsão é de crescimento de 7,5% do PIB em 2010, o que torna difícil a tarefa de reduzir juros, especialmente em época de campanha eleitoral. 

 

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Mesmo com o IOF de 6% na renda fixa, o dinheiro de fora continua entrando e o BC, comprando dólares: as reservas internacionais do País chegaram a US$ 282,9 bilhões, US$ 7 bilhões a mais do que no dia 1º de outubro. 

 

A guerra cambial não tem data para acabar e novas medidas podem ser adotadas pelos governos nas próximas semanas. Um estudo do HSBC mostra que a moeda brasileira, a R$ 1,67 por dólar, tem uma sobrevalorização de 8,4% em relação à “taxa de equilíbrio”. 

 

Já a China vive a situação inversa: a subvalorização é de 17,7%. O gigante asiático divide com os Estados Unidos o papel de vilão dos desequilíbrios cambiais. A esperança do ministro Guido Mantega é que os dois países, junto com europeus e asiáticos, concordem com uma posição conjunta sobre o câmbio na reunião do G20, na segunda semana de novembro, em Seul. Por enquanto, foi o gongo chinês que salvou o Brasil.