28/11/2012 - 21:00
A crise internacional que afeta a Europa e atrasa a economia chinesa e a recuperação americana gerou desconfiança no mercado e mais aversão ao risco. Muitos investidores realizaram seus lucros e decidiram optar por investimentos sem a volatilidade tradicional da renda variável. A bolsa sempre reserva fortes emoções para quem não está devidamente preparado para suportar e absorver o risco, mas é uma excelente alternativa para quem pensa no longo prazo. Essa é a aposta dos gestores de fundos de ações, que em 2012 tiraram da cartola estratégias bem-sucedidas para garantir bons retornos aos seus cotistas. E que estratégias foram essas?
Patrick O’Grady, diretor da XP Gestão, por exemplo, apostou no cenário doméstico e colocou o fundo XP Absoluto na primeira posição do ranking que avalia a melhor relação entre risco e retorno para as carteiras de ações Ibovespa Ativo, segundo a Economática. “Buscamos empresas de setores que têm uma correlação baixa com o cenário externo, como o de consumo e o de shopping centers”, afirma O’Grady.Segundo ele, com os incentivos do governo com redução de impostos e juros, além do crescimento da renda da população e dos baixos níveis de desemprego, focar em empresas que se beneficiam do mercado interno foi o segredo para driblar as incertezas do mercado.Nesse sentido, o trabalho do gestor também faz a diferença. “Apesar de terem sido anos difíceis para o mercado, quem soube garimpar boas oportunidades conseguiu bons retornos”, afirma O’Grady.
Essa estratégia foi seguida pelos gestores da BB DTVM. O fundo BB Ações Consumo foi eleito o melhor da categoria setoriais livre. Segundo Jorge Ricca, gerente executivo de fundos de ações da gestora, o produto focou em empresas defensivas em relação ao cenário externo e que se beneficiam do crescimento econômico, como as do segmento de educação, incluindo Anhanguera Educacional, Kroton e Estácio. “Além disso, para dar segurança à carteira, apostamos no setor de bebidas e fumo, com Ambev e Souza Cruz, que têm um fluxo de caixa estável e são boas pagadoras de dividendos”, afirma Ricca. O Itaú Ações Consumo, também destaque da categoria, deixou de lado setores ligados ao mercado externo, como mineração e petróleo, e se concentrou no consumo doméstico.
Focar em empresas que se beneficiam do mercado interno foi o segredo para driblar as incertezas do mercado
Segundo Gilberto Nagai, superintendente de renda variável do banco, o mercado tem evitado, de forma geral, papéis de empresas exportadoras, principalmente ligadas à venda de commodities. O cuidado que os gestores deverão tomar daqui para frente é avaliar se as ações que tiveram bons desempenhos até agora não estão caras demais. “O trabalho do gestor vai ser unir o cenário macroeconômico favorável a uma análise criteriosa dos preços e fundamentos de cada papel”, diz Eduardo Miziara, gestor de renda variável da Capitânia. “Assim, a desvalorização de papéis de empresas com bons fundamentos pode ser uma oportunidade para o gestor mais atento.” O ano que vem pode ser importante, também, para as empresas que pretendem abrir o seu capital.
Depois da euforia de aberturas de 2007, quando 64 empresas lançaram ações e atraíram uma multidão de novos investidores ao pregão, esse mercado viveu um marasmo em 2012, com apenas três operações (BTG Pactual, Unicasa e Locamérica). “O cenário externo ruim fez muitas empresas adiarem a decisão de captar na bolsa”, diz André Ferreira, sócio da Ernst & Young Terco. Em todo o mundo, as aberturas de capital levantaram US$ 24,1 bilhões no terceiro trimestre de 2012, queda de 16% em comparação com o mesmo período de 2011. O IPO serve como um termômetro para os investidores saberem como está o mercado. Para 2013, deve haver uma melhora. “A perspectiva de crescimento maior do Brasil para o ano que vem deve animar os empresários a partirem para a bolsa, principalmente aqueles dos setores de infraestrutura e consumo”, diz Ferreira.