Caminhão ou navio? Quando o assunto é logística, a primeira opção é a mais utilizada no País, responsável pelo transporte de 67% de tudo que o Brasil produz e consome. A segunda, com apenas 10%, é a mais desejável. Com razão. Sob a ótica dos custos, a disparidade é imensa. Cada tonelada transportada sobre as águas custa R$ 66 por quilômetro, em média, muito abaixo dos R$ 292 pagos pelo frete via estradas, de acordo com cálculos do Instituto ILOS, do Rio de Janeiro, especializado em transportes. Soma-se à vantagem econômica o fato de os navios poluírem menos e aumentarem a segurança das mercadorias, já que as embarcações são pouco suscetíveis a roubos e acidentes. É com base nesse arsenal de argumentos que a gigante alemã Hamburg Süd, com faturamento global de € 5,3 bilhões no ano passado, montou sua estratégia no Brasil. 

 

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Navegar é preciso: Julian Thomas, comandante das operações brasileiras,

negocia a compra de quatro navios no País

 

A companhia, que faturou R$ 3,3 bilhões no mercado brasileiro em 2013, quer diminuir o tamanho da hegemonia dos caminhões e ampliar o vai e vem de seus navios no litoral. Nas últimas semanas, o diretor-superintendente da Hamburg Süd no Brasil, Julian Thomas, intensificou as negociações com estaleiros locais para a construção de mais quatro navios para fazer o transporte marítimo interno de cargas, conhecido como cabotagem. Os contratos, que podem chegar a R$ 600 milhões a preço de lista, dependem apenas da disponibilidade dos fabricantes, segundo o executivo. “Atualmente, grande parte dos estaleiros está ocupada com as encomendas da Petrobras”, diz Thomas. “Temos de assinar as compras até o fim deste ano para que os navios comecem a navegar em 2017.” 

 

No ano passado, a Hamburg Süd, por meio da Aliança Navegação e Logística, transportou 673 mil contêi­neres no Brasil, um crescimento de 15% em relação a 2012. “Nossos negócios estão crescendo com um desempenho muito bom, principalmente na cabotagem.” Enquanto os novos navios não chegam, a Hamburg Süd tem colocado a pleno vapor – sem trocadilho – as dez embarcações de sua frota no País, quatro delas com capacidade para 3,8 mil contêineres – os maiores que operam em águas brasileiras. No início deste ano, esses supernavios, comprados por R$ 450 milhões da chinesa Shanghai Co., ajudaram a turbinar os negócios da companhia por aqui. “Os serviços de navegação costeira estão crescendo de forma pujante no Brasil”, afirmou Thomas. 

 

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Gigante logística: o faturamento da companhia alemã atingiu ? 5,3 bilhões no ano passado,

com o transporte de 3,3 milhões de contêineres 

 

Parte da aposta da Hamburg Süd está na Zona Franca de Manaus. O polo industrial da Amazônia utiliza a cabotagem para escoar cerca de 90% de sua produção e tem ampliado, ano a ano, a participação do modal marítimo. “Esse mercado está crescendo, mas o governo ainda precisa retirar algumas travas para ajudar a navegação costeira a se viabilizar como uma alternativa aos caminhões”, afirma o sócio-executivo do Instituto ILOS na área de Infraestrutura, André Zajdenweber. Para acelerar a operação local, a Hamburg Süd vai começar a oferecer, a partir de maio, o serviço de transporte de carga de projeto. 

 

Na prática, a companhia alemã pretende participar de perto da elaboração de megaobras pelo País, desde a implantação de parques eólicos, com o frete de pás e torres, por exemplo, até a construção de hidrelétricas, que exige uma gigantesca operação de logística para o transporte de turbinas. Para esse serviço, a empresa vai trazer do Caribe uma embarcação equipada com três guindastes capazes de erguer até 400 toneladas. Trata-se do primeiro navio desse tipo em operação no Brasil. “Falta apenas transformá-lo em um navio de bandeira brasileira com tripulação local, uma exigência da legislação nacional para operar o serviço de cabotagem”, afirma Mark Juzwiak, gerente-geral da Aliança, braço da Hamburg Süd na cabotagem. “O transporte de carga de projeto deverá representar 6% de toda a movimentação de cargas na navegação.”

 

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