09/09/2016 - 20:00
Na grande consolidação pela qual passa o setor de agroquímicos e sementes, falta definir os destinos da alemã Bayer e da americana Monsanto. Em agosto do ano passado, a Monsanto desistiu de tentar comprar a suíça Syngenta, com uma proposta que avaliava a rival em US$ 47 bilhões. A companhia europeia, por fim, acabou aceitando uma proposta, neste ano, da estatal chinesa ChemChina, que ainda precisa ser aprovada por órgãos regulatórios da União Europeia e da Austrália, após já ter passado nos EUA. No fim do ano passado, foi a vez das americanas Dow Chemical e Dupont anunciarem uma fusão.
Ao que tudo indica, o próximo grande negócio do setor deve ser a compra da Monsanto pela Bayer, que já fez três propostas de compra. A última delas, anunciada na terça-feira 6, oferece US$ 65 bilhões para completar a transação. A agressiva proposta representaria a maior compra concretizada totalmente em dinheiro já registrada no mundo dos negócios, segundo dados da agência Thomson Reuters, superando os US$ 60,4 bilhões oferecidos pela cervejaria belgo-brasileira InBev pela americana Anheuser-Busch, em 2008. Mesmo assim, o conselho de administração da Monsanto vem resistindo.
Na caçada da Bayer, há quem duvide se sairá algum cachorro desse mato. O caçador insiste. “Estamos convencidos que essa transação é a melhor oportunidade disponível para prover aos acionistas da Monsanto um valor certo, imediato e altamente atrativo”, disse, por meio de comunicado, Werner Baumann, que assumiu a posição de CEO da Bayer em maio, e já quer deixar a sua marca com um grande negócio. A Monsanto não deixa claro qual seria o valor que aceitaria, mas admitiu que está avaliando a oferta “junto com propostas de outras partes e outras alternativas estratégicas”, segundo comunicado.
“Acreditamos em benefícios substanciais que uma estratégia integrada poderia trazer para os produtores e para a sociedade”, afirmou Hugh Grant, CEO da Monsanto, em julho, depois da segunda oferta da Bayer, de US$ 62 bilhões. Analistas dos bancos Commerzbank e Sanford C. Bernstein defendem que a proposta, atualmente de US$ 127,50 por ação, precise chegar a US$ 130 para ser aprovada. O JP Morgan fala em até US$ 135. Também John Bennett, diretor da gestora de fundos Henderson Global Investors, um dos maiores acionistas da Monsanto, informou que considera a oferta ainda baixa. Mas a expectativa é que, se o conselho da empresa americana forçar para o acordo acontecer acima dos US$ 130, a rival alemã possa tentar uma aquisição hostil.
As duas empresas são consideradas altamente complementares. A Bayer é líder mundial de defensivos agrícolas, além de ser uma potência global em medicamentos. Já a Monsanto domina o mercado de sementes e é um verdadeiro símbolo dos transgênicos. O Brasil está no centro do negócio, afinal, esses dois setores têm o País como o maior mercado global em valores de transação. Com a aquisição, a Bayer atingiria 22% de participação do mercado de defensivos brasileiro, que movimenta R$ 9,6 bilhões, ultrapassando as duas empresas controladas pela ChemChina, a Syngenta e a israelense Adama. “A Bayer e a Monsanto se encaixam direitinho”, diz Flávio Hirata, consultor da AllierBrasil.
Segundo ele, a alemã tem um portfólio grande, mas não atua no herbicida glifosato, um mercado que a americana lidera e que exige altos volumes, por trazer margens baixas. “Mas o grande interesse está no negócio de sementes, um setor no qual a alemã ainda não deslanchou”, afirma o consultor. Se concretizada a transação, a divisão agrícola da Bayer terá um faturamento de R$ 12,4 bilhões no Brasil. Mundialmente, a companhia estima conseguir economizar US$ 1,5 bilhão, em três anos, em sinergias, e registrar um aumento do lucro de 5% no primeiro ano e de, pelo menos, 10% nos períodos seguintes. Mas, se não fechar a compra, há o risco de ver a Basf ou alguma empresa chinesa se unindo com a Monsanto.