O avanço da família Safra sobre o mercado imobiliário internacional, que havia começado timidamente no início da década, recebeu um enorme impulso na segunda-feira 10. O banqueiro Joseph Safra, 64º colocado na lista dos bilionários da Forbes de 2014, com um patrimônio avaliado em US$ 14,9 bilhões, pagou US$ 1,1 bilhão ou quase R$ 3 bilhões por um ícone londrino. Em seu maior investimento imobiliário até agora, Safra adquiriu o edifício 30 St. Mary Axe, apelidado de torre Gherkin ou “pepino”. Gherkin é uma variedade de pequenas dimensões do legume, muito usada em conservas.

O Gherkin foi erguido em 2003 pela resseguradora suíça Swiss Re, para abrigar sua sede na Inglaterra. Além da arquitetura inovadora de Norman Foster e das características de edifício moderno em seus 48 mil metros quadrados de área, o Gherkin despertou a cobiça do mercado por sua localização. O prédio fica no lugar que no passado foi ocupado por um edifício destruído por um atentado do Exército Revolucionário Irlandês, o IRA. Graças às bombas, as autoridades britânicas puderam demolir o que havia sobrado da histórica Bolsa de Mercadorias do Báltico e liberar uma área grande no valorizado centro financeiro de Londres.

Essas vantagens deveriam torná-lo um endereço disputado pelos bancos. No entanto, como investimento, o Gherkin fez jus ao apelido. Controlado por duas empresas imobiliárias, uma alemã e outra inglesa, sua taxa de ocupação foi afetada nos últimos anos em função do impacto da crise financeira, levando a empresa britânica à falência. Colocado à venda, há dois anos, em um processo intermediado pela empresa de auditoria Delloitte, o Gherkin recebeu cerca de 200 propostas. A mais atraente foi a de Safra, que pagou 21% de ágio sobre o preço cobrado dos donos anteriores.

“A aquisição do 30 St Mary Axe integra nossa estratégia imobiliária de investir em propriedades realmente especiais – nos melhores lugares das maiores cidades”, informou o grupo em um comunicado. Mesmo sendo seu primeiro investimento no mercado imobiliário britânico, a compra do Gherkin consolida um movimento iniciado discretamente pela família Safra, há cinco anos. Em julho de 2013, o irmão de Joseph, Moise, falecido em junho deste ano, investiu US$ 1,4 bilhão na compra, em parceria com o incorporador chinês Zhang Xin, de uma participação de 40% no edifício General Motors, em Nova York.

O próprio Joseph já fez uma aposta grande nesse mercado. No fim de 2010, ele pagou US$ 285 milhões por um edifício em Nova York, o 660 Madison Avenue, sede da tradicional loja de departamento de luxo Barneys. No mesmo ano, em um negócio menor, Moise havia comprado, por um valor não divulgado, uma participação em outro prédio comercial em Manhattan, o 1330 Avenue of the Americas. A ideia, nesses casos, é atuar como investidor de longo prazo.

“Embora construído há apenas dez anos, o edifício já é um ícone de Londres e tem excelente potencial de crescimento de valor”, informou o grupo. “Pretendemos torná-lo ainda melhor e mais desejável por meio de diversas melhoras que beneficiarão os inquilinos.” Além da estratégia imobiliária, a decisão vai ao encontro de uma estratégia dos Safra de ampliar a diversificação geográfica dos seus investimentos. Imóveis de primeira linha são tradicionais reservas de valor, especialmente quando as perspectivas para a economia brasileira não se afiguram positivas. Procurado, o grupo não concedeu entrevista.