No início, o aparelhinho encontrava qualquer endereço e indicava a melhor rota a ser seguida. Depois, passou também a localizar bares, restaurantes ou postos de gasolina mais próximos, além de ajudar o usuário a fugir do trânsito. Posteriormente, incluiu em seus recursos o acesso à internet, a sintonização de canais de tevê, telas sensíveis ao toque e até comandos de voz.

 

Como se vê, são muitos os recursos atualmente embutidos nos equipamentos de GPS (sistema global de posicionamento, na sigla em inglês). Ainda assim, suas vendas estão estagnadas ou em queda em boa parte do mundo. Isso se deve ao avanço dos smartphones, que a cada dia oferecem funções semelhantes às do GPS. No Brasil, no entanto, a situação ainda é mais do que favorável para os fabricantes. Depois de ter triplicado em 2010, a projeção para 2011 é que esse mercado dobre de tamanho e supere a marca de um milhão de navegadores vendidos em um único ano no País. Até 2013, o faturamento do setor, que em 2010 foi de R$ 310 milhões, deve ultrapassar R$ 1 bilhão. 

 

02.jpg

Carlos Roberto Borges, da Movix: mercado promissor estimulou a empresa a construir fábrica no País 

 

Para entender esse desempenho positivo, é preciso considerar  a forte queda nos preços resultante do aumento da concorrência, o que estimulou o interesse dos motoristas brasileiros. No final de 2009, por exemplo, um aparelho GPS custava em média R$ 600, valor que caiu para R$ 450 nos últimos meses. As vendas, por sua vez, não param de subir. De acordo com dados da consultoria Gfk, que audita 81% do mercado nacional de GPS, foram vendidos 610 mil navegadores em 2010. 

 

As fabricantes afirmam que a comercialização no País foi ainda maior: 750 mil aparelhos. Segundo Gisela Pougy, diretora de negócios da Gfk, a ampliação dos canais de distribuição das principais competidoras também colaborou para estimular os negócios. “Está claro que as companhias estão investindo e mostram confiança de que esse mercado vai seguir fortemente nos próximos anos”, afirma Gisela. Outra explicação para o otimismo está na baixa penetração do GPS no Brasil. Enquanto nos Estados Unidos e em boa parte da Europa os navegadores portáteis estão presentes em 20% da frota de veículos, estima-se que essa participação não chegue a 5% dos mais de 65 milhões de automóveis em circulação no País. 

 

É por essas e outras razões que o Brasil se tornou o foco de investimento de duas das maiores empresas do setor no planeta, a taiwanesa Mio e a holandesa TomTom. A primeira delas é representada  pela companhia brasileira Movix, que aposta na fabricação local para frear os rivais. 

 

04.jpg

“Vamos cada vez mais privilegiar produtos desenvolvidos especialmente para o mercado brasileiro”

Tim Hoper, presidente da TomTom

 

“No ano passado, com o aumento da concorrência e a necessidade de reduzir os preços para manter a competitividade, percebemos que ou passávamos a ter produção própria ou morreríamos”, diz Carlos Roberto Borges,  diretor-geral da Movix. A fábrica começou a funcionar em março na cidade de Pato Branco, no sudoeste do  Paraná.  Com a expectativa de dobrar seu faturamento em 2011, alcançando R$ 70 milhões, a Movix espera que sua primeira fábrica – até então ela operava unicamente por meio de importação – permita a redução de até 20% no valor dos produtos.

 

O investimento inicial na fábrica foi de R$ 2 milhões, com a contratação de 50 funcionários. De acordo com Borges, está programada para o segundo semestre a destinação de mais recursos, desta vez para a criação de uma área de desenvolvimento de softwares de navegação voltada ao mercado latino-americano. A empresa também acabou de investir cerca de R$ 1 milhão na compra do programa de navegação Destinator, que é embarcado nos GPS com a marca Mio no Brasil. 

 

Dessa maneira, a Movix poderá, no médio prazo, desenvolver aplicativos de localização para dispositivos móveis, além de automóveis. Os investimentos visam atender ao potencial de expansão do setor em razão da Copa do Mundo, da Olimpíada e da melhora das estradas. “Isso significa que mais pessoas deverão viajar, o que favorece nosso negócio”, afirma Borges. “Mas também não podemos deixar de nos preparar para o crescimento dos smartphones e tablets.”

 

04.jpg

 

A concorrente TomTom, maior fabricante de GPS do mundo, não quer ficar para trás. “O Brasil já é hoje um mercado muito importante para nós, com um crescimento extremamente acelerado”, diz Tim Roper, presidente mundial da TomTom, cujo faturamento em 2010 foi de 1,5 bilhão de euros. O executivo faz mistério sobre seus planos no País, mas indica que o caminho escolhido continuará a ser a exportação dos aparelhos para cá. “Sem dúvida há muitas vantagens em fabricar no Brasil, mas isso não faz parte de nossos planos atuais”, afirma Roper. “Vamos cada vez mais privilegiar produtos desenvolvidos especialmente para o mercado brasileiro, embora sempre por meio da exportação.”