11/11/2015 - 18:00
A economia brasileira produziu US$ 1,45 trilhão em bens e serviços em 2014. Parece muito, e é mesmo. Porém, isso é só metade dos US$ 3 trilhões negociados a cada dia pelos operadores de câmbio ao redor do mundo. “O mercado internacional de moedas é o maior e mais líquido que existe”, diz o economista americano John Kicklighter, estrategista-sênior da consultoria cambial DailyFX. Esse mercado enorme tem estado nervoso nos últimos tempos. Até a quinta-feira 5, o real brasileiro se desvalorizou 29% em relação ao dólar.
Não foi o único. Moedas de outros países emergentes também sofreram. Até o euro, a moeda única europeia, se depreciou 17,7%. “Quase todos estão perdendo do dólar”, diz o economista Marco Sudano, um dos diretores de tesouraria do Itaú Unibanco. Quem tem dólar e apostou contra o euro, no final, ganhou 21,5% no ano. Como participar dessa roleta cambial, onde as apostas são altas e a sorte é volátil? Apesar de tecnicamente sofisticado, o mercado de moedas – o Forex – é regido por um princípio simples, o da oferta e demanda.
“Os investidores procuram os mercados que oferecem mais remuneração”, diz Sudano. “Assim, quando uma economia melhorando, ela atrai recursos e sua moeda se valoriza.” Um exemplo ajuda na compreensão. Um investidor alemão que quisesse saborear o ganho de 11,9% das ações da Apple poderia transferir seu dinheiro de Frankfurt para Wall Street. Para fazer isso, ele venderia euros e compraria dólares. Isso aumentaria a oferta de euros e também a demanda por dólares, alterando os preços. Foi o que ocorreu em grande escala no ano, explicado a desvalorização da moeda europeia.
Com um pouco de prática é possível participar desses movimentos. “Foi possível antecipar a queda do euro no início deste ano”, diz Sudano. “Temendo uma deflação, o Banco Central Europeu sinalizou claramente que iria aumentar a oferta de moeda por meio da recompra de títulos públicos.” Quem apostou na baixa ganhou dinheiro. O investidor brasileiro com disposição para correr riscos pode abiscoitar ganhos polpudos. É possível, por exemplo, apostar em uma recuperação da lira turca, que perdeu 18,3% de seu valor diante do dólar e, segundo alguns analistas, pode se recuperar, assim como ocorreu com o real nos primeiros dias de novembro.
Ou, como recomenda Kicklighter, apostar em uma retomada da coroa norueguesa, que caiu 8% frente ao dólar desde o início de outubro, devido à queda nos preços do petróleo. Há, basicamente, três alternativas à disposição do investidor. A mais comum, disponível para quem possui um mínimo de US$ 100 mil em recursos fora do País, são os fundos de investimento internacionais que apostam no mercado de moedas. “Esses fundos assumem posições apostando na alta ou na baixa das cotações, pensando em prazos mais longos”, diz Sudano. Outras alternativas, mais arriscadas, são produtos estruturados desenvolvidos pelas tesourarias de bancos para os clientes.
Mesclando diversas moedas no mercado a vista e usando derivativos, o bancos atrelam as aplicações ao desempenho das moedas. Finalmente, quem tem mais dinheiro e gosta de adrenalina pode atuar diretamente no mercado à vista, por meio das corretoras internacionais de câmbio. Funciona como uma corretora no Brasil: é preciso depositar dinheiro antecipadamente – a conversa começa com US$ 1 milhão – e é possível comprar e vender moedas ou derivativos. As apostas podem ser muito grandes e os preços podem variar em questão de segundos. “Esse é um mercado arriscado para o investidor com menos recursos e sem conhecimento técnico”, diz Sudano.