06/03/2013 - 21:00
Seria uma semana difícil, pois na agenda econômica estava a divulgação oficial do famigerado pibinho, na sexta-feira 1º de março. Para reverter as expectativas pessimistas do mercado com o crescimento de 0,9% do PIB em 2012, a presidenta Dilma Rousseff montou uma verdadeira operação de guerra. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foram despachados a Nova York no início da semana para encontrar investidores estrangeiros e debater as oportunidades de negócios no País. Na quarta-feira 27, a presidenta recebeu empresários brasileiros, no Palácio do Planalto.
Bilhetinho no conselhão: a presidenta escreve para Nelson Barbosa, secretário-executivo da Fazenda:
“Afirme o controle da inflação como um valor em si”
Em várias reuniões, o governo bateu na tecla de que o Brasil é um lugar seguro para investir e, portanto, merece confiança para atrair os US$ 235 bilhões necessários aos projetos de infraestrutura anunciados. Exibindo uma camisa de seda azul e preta, num visual mais leve do que o de costume, Dilma aproveitou a 40ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social, o Conselhão, para dar vários recados ao longo dos 47 minutos do seu discurso. Entre eles, o compromisso de manter a inflação sob rédeas curtas. “Nós mantemos a inflação sob controle”, disse a presidenta. “Ela é um valor em si, na medida em que garante não só os ganhos do salário, mas também a capacidade de previsão do governo e empresários.”
No dia 24, Tombini já havia dito, em entrevista ao The Wall Street Journal, que o compromisso do BC era com a inflação, e não com o crescimento. “Temos que ajustar e calibrar nossas políticas para atingir nossas metas”, disse Tombini. A dúvida sobre a atuação do BC foi levantada, também, durante os encontros de Mantega com investidores, em Nova York. “Jamais relaxaremos o controle da inflação”, afirmou o ministro. A tropa de choque da presidenta acenou com mudanças para atrair investimentos. Segundo um levantamento do BNDES, R$ 3,8 trilhões em investimentos estão programados até 2016, um volume 29% superior ao que foi gasto nos quatro anteriores.
Mantega anunciou que o governo deve facilitar o repasse de dinheiro público para que os bancos privados financiem projetos de infraestrutura, como ocorre com o Plano Safra: os recursos e as condições são dadas pelo governo, que usa as instituições privadas para fazer os empréstimos. A equipe econômica não conseguiu fugir dos questionamentos sobre a interferência excessiva do governo em alguns setores. Depois da barulhenta negociação para a renovação dos contratos com as concessionárias de energia, em dezembro, a pecha de Estado intervencionista ronda a gestão da presidenta Dilma. “Houve ruídos de que teríamos rompido contratos após a redução na conta de energia”, disse Mantega, durante o road show em Nova York, na terça-feira 26.
A retomada da confiança: Pedro Parente, da Bunge, diz que as ações
do governo animarão os empresários a investir
“Mas deixo claro que foi uma negociação a partir da renovação das concessões.” Essa, porém, não é a leitura de todos os agentes econômicos. “Tudo o que coloca os contratos em dúvida gera sensibilidade”, disse à DINHEIRO o empresário Amarílio Macedo, presidente do conselho de administração do grupo J. Macêdo, um dos maiores produtores de farinha de trigo, pouco antes da reunião do Conselhão. “A gente olha e pensa: ‘Quando será que isso vai acontecer comigo também?’” Nem todos concordam com Macedo. O CEO da Bunge no Brasil, Pedro Parente, por exemplo, acredita que o empresariado tem vários motivos para confiar no futuro. “O governo está fazendo um esforço gigantesco para destravar investimentos”, afirmou Parente.
“Isso com certeza animará investidores e empresários.” Entre os esforços para garantir os projetos estão os ajustes nos modelos de concessões, feitos a pedido do setor privado. No caso das rodovias, por exemplo, os prazos de concessão e de financiamento foram estendidos, a fim de melhorar a rentabilidade. “Quando o governo faz esses ajustes, eu fico otimista com o futuro”, diz Jayme Garfinkel, presidente da seguradora Porto Seguro. Durante os encontros com investidores no Exterior, os representantes do governo tinham uma ordem clara: nenhuma dúvida ficaria sem resposta. “Ouvimos muitas perguntas sobre a forma que o governo vai viabilizar tantos projetos ao mesmo tempo”, diz Cleverson Aroeira, chefe do Departamento de Logística, da área de infraestrutura do BNDES, que acompanhou a comitiva do governo no road show.
“Há um empenho muito grande para tudo dar certo.” Além dos encontros em Nova York, Coutinho seguiu para Londres, na sexta-feira 1º, com o mesmo intuito de convencer investidores de que o Brasil mudou para melhor. Na reunião do Conselhão, a presidenta Dilma reforçou que o Brasil já está maduro para chegar ao estágio de país desenvolvido. Para tanto, disse, é preciso romper com “a falsa contradição”, entre o público e privado. “Temos todas as condições para perceber que há, no Brasil, uma grande maturidade, no sentido de que é necessário a ação público-privada”, afirmou. O setor privado sabe disso há muito tempo. O marketing feito pelo governo na semana passada parece começar a reverter as expectativas pessimistas das últimas semanas. Agora, só falta transformá-lo em realidade.