O executivo gaúcho Marco Schroeder assumiu a presidência da Oi e dez dias depois a operadora de telefonia entrou com um pedido de recuperação judicial de R$ 65,4 bilhões, o maior da história do Brasil. Nesta entrevista, ele fala sobre a negociação com os credores, os planos da empresa e analisa as razões que levaram a companhia a esse endividamento gigantesco. Confira:

O senhor já definiu o plano que pretende apresentar aos credores?
Ainda estamos elaborando. Mas, obviamente, vamos considerar o que estávamos negociando fora da recuperação judicial. Queremos que o plano tenha o menor impacto possível para os trabalhadores e para os fornecedores. Com os credores financeiros, que representam R$ 50 bilhões da dívida, a negociação passa por eles ficarem com uma fatia da empresa e um valor remanescente da dívida. É esse ajuste fino que estamos conversando.

Como o senhor acredita que a Oi vai sair desse processo de recuperação judicial?
Hoje, por conta da dívida, não conseguimos participar do jogo. Estamos fora até mesmo do jogo da consolidação, porque carregamos uma dívida que não é compatível com o nosso tamanho. Resolvida a dívida, a Oi volta ao jogo e se torna um ‘player’ relevante, até mesmo para futuras consolidações. Se alguém quer consolidar esse mercado, a chance de passar pela Oi é muito grande.

No momento, uma venda ou fusão está no radar da Oi?
Antes de renegociar a dívida, não acredito. Passado esse período, vamos ouvir falar em potenciais negócios.

Por que a Oi chegou a essa situação, com uma dívida de R$ 65 bilhões?
É como um acidente aéreo: não há um motivo único. Com certeza, passa por uma regulamentação do setor que tem mais de 20 anos e com obrigações muito pesadas para a empresa. Ocorreram ainda decisões incorretas do ‘management’, de nível de investimento, de alavancagem e por ter adquirido ativos com alto endividamento. Deve-se levar em conta também a questão macroeconômica. Se o juro estivesse em 8%, e não em 14,25% como está hoje, possivelmente a Oi não teria pedido recuperação judicial.

As fusões com a Brasil Telecom e com a Portugal Telecom foram maus negócios para a Oi?
A união com a Brasil Telecom era um caminho natural. Se as duas companhias não tivessem se unido, possivelmente, teriam sido adquiridas por outras empresas. Então, era um caminho de sobrevivência para as duas companhias. Mas poderia ter sido feita de forma diferente, pois trouxe algumas contingências que acabaram pesando no balanço da Oi. No caso da Portugal Telecom, houve pontos positivos, mas as sinergias não se confirmaram como se esperava. Além disso, teve o problema da RioForte, que prejudicou a companhia (Nota: um calote de € 847 milhões da RioForte, holding do grupo Espírito Santo, um dos principais acionistas da Portugal Telecom, forçou a uma renegociação dos termos da fusão e ajudou a aumentar a dívida da Oi).

A fusão da Oi com a Portugal Telecom ainda é alvo de inquéritos na CVM. Isso será um problema para a recuperação judicial?
Acredito que não. Na época do aumento de capital, não trabalhava na companhia e em nenhuma empresa do grupo. Mas essa investigação é natural. O projeto vendido em 2014 não deu certo, mas o fato de não ter dado certo não significa que houve um crime. É natural o regulador olhar, mas acredito que não impacta a companhia, mas sim as pessoas. E cada um vai responder, obviamente, pelas suas responsabilidades.

O setor de telefonia necessita de altos investimentos. A Oi terá condições de competir com os seus rivais?
A minha única esperança de sair dessa situação é ter um operacional saudável. Estamos aumentando os investimentos de R$ 4 bilhões para R$ 5 bilhões. O nosso operacional hoje gera caixa para permitir investimentos. Com a recuperação judicial, os pagamentos com os credores estão suspensos e isso reforça ainda mais a questão do investimento.

Mesmo aumentando os investimentos, ele é menor do que de seus competidores. 
Em termos do percentual da receita é muito parelho com meus competidores. Mas uma parte do meu investimento é em obrigações que não têm nenhum retorno, como em orelhões em cidades do interior. Os meus competidores, enquanto isso, investem em banda larga. Uma das minhas brigas é para mudar a Lei Geral de Telecomunicações, que me obriga a fazer investimentos de baixo retorno. Gasto R$ 300 milhões para a manutenção de orelhões e tenho receita de apenas R$ 10 milhões.

A Oi é dona de sete mil imóveis, que poderá vender em breve. Quanto o senhor estima que poderá arrecadar com a venda?
Em primeiro lugar, é preciso ficar claro que os bens são da Oi. Eles vieram no balanço da empresa quando foi privatizada. Os bens reversíveis são aqueles essenciais para a operação e para a continuidade dos serviços. Quando acabar a concessão e não houver interesse em renovar, eu vendo para o Estado. Existem bens que não têm nenhuma lógica para a operação. A Oi, por exemplo, tem um prédio de dez andares no Leblon, onde antes funcionava sua central. Hoje, a central ocupa só um andar, que é o bem que precisa ser devolvido. Os outros são alugados e não são essenciais para os serviços. Não há motivo para impedir que eu o venda e use esse dinheiro para investir.

Mas o senhor tem ideia de quanto valem esses imóveis?
É na casa dos bilhões de reais.

O que a Oi está fazendo para manter as operações normais durante esse processo? 
A nossa operação é positiva. Ela gera caixa. A coisa mais importante é explicar para as pessoas que a recuperação judicial não impacta o dia a dia. Vamos continuar pagando fornecedores, os salários dos funcionários e os impostos ao Estado. Um grande ativo é prestar um bom serviço e manter a operação rentável e saudável. Acredito que não tivemos ruídos na comunicação. Todo mundo entendeu que a recuperação judicial é um processo, mas que o dia a dia continua normal.

Quanto tempo o senhor acredita que vai demorar esse processo?
Pelo menos seis meses, só na parte de negociação. Agora, no curto prazo, é focar na operação e na reestruturação da dívida. Mas, no ano que vem, a questão da consolidação vai voltar para a mesa.

Qualquer executivo ficaria assustado em lidar com uma dívida de R$ 65 bilhões. O senhor não está assustado com essa responsabilidade? 
Assustado não é a palavra correta, mas sim atento e consciente da responsabilidade. Quando me comunicaram que seria presidente sabia que as decisões tinham de ser tomadas rápidas. Mas há uma vantagem. Todos têm interesse que a Oi saia desse processo: os acionistas, os empregados e os clientes. Pode haver maneiras diferentes de fazer, mas tudo aponta para o mesmo alvo. Acho que isso facilita um pouco.