A tarefa de escolher a melhor aplicação financeira é comparável à atuação de um trapezista. É preciso saber se é hora de tomar impulso para trocar de posição ou se é melhor evitar um tombo, adiando o salto para quando as condições estiverem mais favoráveis. As aplicações em taxa de juros – como os Certificados de Depósito Bancário (CDB) e os fundos DI e de renda fixa – funcionam como a rede de segurança, que garante que o dinheiro não vai perder valor no ano.  

 

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Tensão: aumentos de preços podem levar o BC a subir a Selic para 12,25%

 

“A renda fixa é uma boa alternativa e ainda protege o  investidor da inflação”, afirma Márcio Daré, diretor de investimentos do Bradesco. Em 2011 os artistas do dinheiro poderão fazer suas piruetas com um pouco mais de sossego, pois a rede que os protege tornou-se mais forte. 

 

As expectativas para o ano são de uma inflação ainda em alta, aproximando-se do teto da meta prevista de 4,5% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esses prognósticos devem forçar o Banco Central (BC) a elevar os juros. 

 

Uma das discussões da campanha eleitoral do ano passado foi se o BC da presidente Dilma Rousseff seria tão conservador quanto o de Lula ou se haveria alguma tolerância com a inflação – afinal, elevar juros sacrifica o crescimento. 

 

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Em seu discurso de posse no Congresso, Dilma tranquilizou os trapezistas, ao reafirmar o compromisso do governo com a estabilidade. “Já faz parte de nossa cultura recente a convicção de que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda do trabalhador. 

 

Não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que esta praga volte a corroer nosso tecido econômico”, disse a presidente. Traduzindo a retórica política para a fria realidade dos números, isso quer dizer taxas mais altas, algo que já entra nas contas do mercado. 

 

O Boletim Focus, levantamento do Banco Central (BC) junto às instituições financeiras, mostra que a expectativa é de que a taxa Selic encerre o ano a 12,25%, uma alta de 1,5 ponto percentual diante dos 10,75% atuais.

 

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Não é possível prever quando o BC vai começar a elevar os juros. A maioria dos especialistas do mercado financeiro acredita que a autoridade monetária, já liderada por Alexandre Tombini, anuncie o aperto monetário na primeira reunião do ano, marcada para os dias 18 e 19 de janeiro. 

 

Para os gestores de fundos de investimento, conseguir antecipar essas decisões vai fazer toda a diferença nas carteiras. Os vencedores serão aqueles que acertarem a hora de os juros subirem ao definir o momento de comprar e vender seus títulos. “O mercado terá mais volatilidade este ano”, diz Raimundo Santos Lima, diretor de administração de recursos de terceiros do Banco de Brasília.

 

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No ano passado, a inflação foi a principal questão envolvendo o mercado de renda fixa, ao lado da discussão de como o BC faria para evitá-la em um ano eleitoral. A aceleração dos índices de preços favoreceu os fundos de renda fixa indexados à inflação. 

 

Foi o caso do FI Renda Fixa Ima-B, da Bradesco Asset Management. Voltado para investidores institucionais, o produto apresentou uma valorização de 16,1% no acumulado dos últimos 12 meses até novembro. 

 

Números pujantes assim, porém, não devem se repetir este ano. “Haverá oportunidades pelo menos no primeiro semestre deste ano, mas não dá para traçar uma estratégia para a inflação ao longo de todo o ano”, diz Márcio Daré.

 

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Segundo o diretor do Bradesco, os produtos mais promissores para as aplicações de renda fixa neste ano são aqueles destinados a investidores muito pacientes. No apagar das luzes de seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou uma medida provisória que isentava de imposto as aplicações financeiras com prazos superiores a seis anos. 

 

Além de tornar mais atraentes os papéis emitidos por empresas, como as debêntures, essa medida deverá aumentar bastante a demanda por um título de longo prazo desenhado para os bancos, as Letras Financeiras (LF). 

 

“Queremos colocar esses títulos o mais perto possível dos investidores”, diz Daré. “Eles garantem uma aplicação que defende o investidor da inflação no longo prazo e que é bem remunerada devido à isenção fiscal.”

 

Enquanto esses produtos não chegam para proteger o investidor, o mercado já reforçou as redes de proteção elevando as taxas nos negócios entre os bancos. Os contratos futuros de juros, que refletem a expectativa para as taxas, já aumentaram os prognósticos para a Selic para 12% ao ano. 

 

“Mesmo assim, há condições de o investidor ficar num fundo com baixa volatilidade com uma taxa mais alta do que era em 2010”, afirma Renato Ramos, diretor de renda fixa do HSBC Global Asset Management. 

 

Em 2010, o grande vencedor nas categorias fundos DI e de Renda Fixa foi o banco Safra, por meio de sua divisão de administração de recursos, o banco J Safra. Os fundos geridos por Marcio Appel, diretor-executivo do Safra Asset, apresentaram a melhor relação entre risco e retorno, oferecendo ao investidor uma boa rentabilidade e com baixas oscilações. 

 

Segundo ele, o Safra Executive apresentou um bom desempenho por ter 50% de sua carteira aplicada em títulos públicos e em títulos de crédito de primeiríssima linha, como debêntures, principalmente de empresas como Vale do Rio Doce. 

 

Um dos pilares da filosofia de gestão do Safra é controlar cuidadosamente os riscos, evitando a volatilidade das aplicações, e essa continuará a ser a estratégia para 2011. “Nossa principal aposta para o ano serão os títulos públicos”, diz Appel.