06/06/2014 - 20:00
Dentro dos gramados, a Copa do Mundo começa oficialmente apenas na quinta-feira 12, às 17 horas, quando a bola rolar na partida entre Brasil e Croácia, em São Paulo. Três dias antes, no entanto, o mundo corporativo entra em campo com uma seleção de 65 mil empresários e executivos, dos quais 50 mil virão do Exterior. O primeiro grupo desembarca no aeroporto de Guarulhos, na manhã da segunda-feira 9. São CEOs, diretores e clientes convidados de multinacionais mexicanas, americanas, alemãs, francesas, suíças, colombianas, chilenas, argentinas, coreanas, japonesas e de outros 90 países.
Além de assistir aos jogos, esse time seleto terá uma agenda mesclada de reuniões de negócios e passeios de lazer. Para recepcionar os VIPs da Copa, o Grupo Águia de Turismo mobilizou sete mil funcionários, duas mil vans, micro-ônibus e ônibus, 12 helicópteros e 40 jatos executivos. “A segurança e a mobilidade urbana são os dois principais desafios”, diz Paulo Castello Branco, presidente da companhia, que ao lado de sua equipe, recebeu a DINHEIRO na semana passada, no escritório central, no Rio de Janeiro, para detalhar como será o dia a dia desses executivos no Brasil.
Na maioria dos casos, o roteiro tem entre dois e três dias de duração. Após desembarcar no aeroporto, o grupo de homens de negócios é transportado até o hotel, onde recebe os detalhes da programação. Nas 12 cidades-sede da Copa, é possível desfrutar de um voo panorâmico de helicóptero ou optar por algum passeio exclusivo. No Paraná, por exemplo, o destino preferido dos asiáticos é conhecer as Cataratas do Iguaçu. A proximidade com os vizinhos Uruguai e Argentina também possibilita viagens-relâmpago para Montevidéu e Buenos Aires, mas, normalmente, a prioridade é conhecer as belezas naturais brasileiras.
No Rio de Janeiro, o destino mais solicitado é Angra dos Reis, com direito a passeio de barco até a colonial Paraty. “Os estrangeiros também adoram ir a bares assistir aos jogos”, diz Douglas Presto, diretor da área internacional do Grupo Águia. Entre um passeio de buggy pelas dunas de Natal e um jantar no restaurante Amado, com vista para a Baía de Todos os Santos, em Salvador, há espaço para reuniões e visitas a clientes. O principal momento corporativo, no entanto, está reservado para os eventos que antecedem os jogos – chamados de esquenta – e para a confraternização nos camarotes.
“É uma grande oportunidade de networking”, diz Martha Krawczyk, vice-presidente de marketing da Visa, patrocinadora oficial da Copa do Mundo. A empresa vai aproveitar a presença de executivos, parceiros do varejo e do setor financeiro, e consumidores de 95 países diferentes para realizar, na quarta-feira 11, véspera da abertura da Copa, um encontro sobre os negócios na América Latina. O presidente mundial da Visa, o americano Charlie Scharf, tem presença confirmada em alguns estádios, assim como o alemão Herbert Hainer, CEO mundial da Adidas, que não quer perder os jogos da seleção do seu País.
Do time de patrocinadores oficiais da Fifa, todas as empresas compraram pacotes turísticos e ingressos para os principais jogos. Algumas, como o Grupo Hyundai/Kia, priorizaram os clientes finais de suas marcas com promoções e outras ações de marketing. O Banco Itaú, que também investiu uma fortuna em marketing, terá o seu presidente, Roberto Setubal, empunhando a bandeira da Seleção Brasileira nos camarotes. Mesmo quem não atrelou a sua marca ao maior evento esportivo do mundo sabe que a oportunidade de estreitar relacionamentos não pode ser desperdiçada.
A Embraer, por exemplo, reservou dois camarotes para clientes e parceiros de diversos países. Para surpreender os paladares mais apurados, a gastronomia dentro e fora dos estádios foi cuidadosamente selecionada pela equipe da Águia Turismo. Foram escolhidos restaurantes que possam oferecer iguarias nacionais, como a tradicional feijoada do Bolinha, em São Paulo, a carne nobre do Baby Beef Rubayat, em Brasília, ou a seleção de frutos do mar do Coco Bambu, em Fortaleza. No total, 70 restaurantes estão com mesas reservadas há três anos.
Nas cartas de vinhos – foram selecionadas sete mil garrafas –, a prioridade foi para rótulos regionais, com opções argentinas, chilenas, brasileiras e até portuguesas, devido aos laços históricos com a terrinha. No grupo de estrelas do PIB privado mundial, também haverá representantes da Arábia Saudita e do Catar, que vai sediar o evento da Fifa em 2022. Na lista de desejos inusitados – e nem sempre atendidos –, está o pedido de um bilionário para que o shopping Center VillageMall, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, fosse fechado durante um dia inteiro. O objetivo era proporcionar uma tarde exclusiva de compras para a sua esposa.
Em outro caso curioso, um empresário tentou alugar o Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, no bairro das Laranjeiras, para uma festa privada. Em algumas cidades-sede, com poucas opções de hotéis cinco-estrelas, o maior empenho foi para encontrar bons quartos que agradem a um grupo tão exigente. “Belo Horizonte foi a cidade mais difícil para atender o nosso público”, diz Renata Franco, diretora-executiva da Planeta Brasil, braço do Grupo Águia responsável por cuidar dos executivos brasileiros. Muitas vezes, os principais leitos são ocupados por autoridades e chefes de Estados, o que reduz a possibilidade de reservas.
Há casos em que hotéis de três ou quatro estrelas receberão um “banho de loja”. Com uma Copa realizada em um país com dimensões continentais, como o Brasil, outro enorme desafio é o deslocamento entre as cidades-sede. Para isso, o Grupo Águia firmou acordo com as principais companhias aéreas, que bloquearam milhares de passagens à espera da definição das seleções que passarão para as fases seguintes. É no ambiente urbano, no entanto, que residem as maiores preocupações. Os protestos nas ruas durante a Copa das Confederações serviram de aprendizado e, de alguma forma, facilitaram o planejamento para a Copa do Mundo.
“Temos três caminhos diferentes para cada um dos estádios”, diz Castello Branco. A maior preocupação é garantir a segurança dos VIPs e transmitir uma imagem positiva do País. “É como um Cometa Halley para o Brasil”, diz Agatha Abrahão, diretora de marketing do Grupo Águia, referindo-se à rara oportunidade que o País tem de se mostrar ao mundo. Afinal de contas, esses milhares de executivos e empresários podem se transformar em grandes embaixadores do turismo brasileiro no Exterior – ou em grandes críticos, se a recepção não for de gala.
Confira o roteiro:
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