23/12/2016 - 17:00
Impeachment de Dilma Rousseff. Jogos Olímpicos. Delações e condenações dos maiores empreiteiros do País. Crise nos Estados. Saída do Reino Unido da União Europeia. Eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. O ano de 2016 será memorável por vários motivos. Para os economistas, porém, ele será lembrado como o ano das surpresas. Basta olhar para a tabela As expectativas e a realidade, ao lado, para entender o porquê. No fim de 2015, a última edição do relatório Focus, pesquisa realizada pelo Banco Central (BC) junto a bancos e consultorias, mostrava prognósticos tenebrosos.
O mercado esperava uma inflação perto de 7% (ficou em 6,58%, pelo IPCA-15 de dezembro). Previa juros de 15,25% em dezembro (terminaram em 13,75%). E temia um dólar a R$ 4,21 no apagar das luzes do ano. A moeda americana, entretanto, rondava cabalísticos R$ 3,33 às vésperas do Natal. Já o lado real da economia foi desapontador. A retração do Produto Interno Bruto deve ficar em 3,5%, pior do que os 2,95% previstos no início do ano. E, mais grave ainda, o desemprego no trimestre encerrado em outubro estava em 11,8%. O ano se encerra com 12 milhões de brasileiros procurando emprego.
A turbulência política, os intermináveis desdobramentos da Lava Jato e um cenário internacional incerto comprometeram o crescimento em 2016, e provocaram uma enorme oscilação nos indicadores. O que esperar para 2017? Os economistas ouvidos pela DINHEIRO são unânimes ao afirmar que será preciso reaprender a caminhar, mas esse aprendizado se dará com tombos e com um ou outro arranhão. “Somos razoavelmente otimistas, esperamos um crescimento zero em 2017”, diz Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse.
Ele explica que, mesmo que a economia se contraia 0,5%, será um resultado bem melhor do que o de 2016. Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, avalia que, na melhor das hipóteses, o crescimento será de 0,5%. “Mas para isso é preciso que tudo dê certo, que a política se arrume e o governo coloque a questão fiscal nos trilhos”, diz. A causa para esses prognósticos pouco animadores são as condições gerais da economia. Latif recorre a uma metáfora hospitalar. “O paciente está na terapia intensiva, seus sinais vitais estão fracos, mas sua condição começa a se estabilizar”, diz. Isso não significa uma volta à saúde.
A razão é que o crescimento não é fruto do acaso, mas depende de algumas condições. A primeira é a confiança, que leva os trabalhadores a consumir e os empresários a reforçar a produção. Essa, por enquanto, está escassa devido à baixa do emprego. “O desemprego deve continuar crescendo em meados de 2017, podendo atingir um máximo de 13,5%, diz Teixeira. É muito. “Saímos de taxas de 8,5% em 2015 para 11,8% em 2016.” E sem a garantia do salário no fim do mês, trabalhadores não gastam, o que manterá o mercado interno sem combustível para uma arrancada.
“Os extremos e o estresse profundo que ocorreram em 2016 não devem se repetir em 2017, mas o cenário interno permanece desafiador”, diz Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim. Outro risco a ser considerado é o político. A probabilidade de a chapa Dilma–Temer ser impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral é pequena, mas tem de ser considerada, e pode provocar muita turbulência no mercado. A demanda internacional, outro fator que poderia estimular o crescimento, também deverá desapontar.
“Começamos 2016 discutindo qual seria a desaceleração da economia chinesa, e essa discussão deve continuar em 2017”, diz Latif, descartando a hipótese de uma expansão do consumo por lá. Ao mesmo tempo, o governo Trump deve começar com um discurso protecionista, o que é ruim para o Brasil. “Haverá eleições na Alemanha, na França e na Holanda, com uma possibilidade razoável de vitória de governos que defendem políticas mais restritivas”, diz Teixeira, do Credit Suisse. Ele também adverte para a possibilidade de aperto monetário nos Estados Unidos. “Isso reduz a liquidez global, tende a apreciar o dólar frente outras moedas, e também é desfavorável ao Brasil”, diz ele.
Padovani, do Votorantim, descarta uma grande volatilidade para o dólar. Os investidores internacionais já se deram conta de que as reformas estão avançando, mas ainda levam em consideração que o Brasil não é mais possuidor do grau de investimento, o selo de bom pagador. “O fluxo de capital externo deve ser pontual em 2017, sem grandes solavancos”, diz. “Por isso, a taxa de câmbio não deverá ter grandes apreciações nem grandes depreciações.” O prognóstico do mercado é de um câmbio levemente abaixo de R$ 3,50 ao longo de todo o ano.
Apesar de todos os sinais negativos, não há razão para desespero. Há um grande ponto positivo: o governo demonstra vontade de arrumar a casa de maneira estruturada. “A proposta de resolver a questão fiscal deixou de ser um discurso do ministro da Fazenda e passou a ser um discurso do Presidente da República”, diz Latif. O fato de Michel Temer ter enfrentado o custo político de aprovar um pacote de corte de gastos e de enviar uma proposta extremamente austera de reforma da Previdência é uma boa notícia. “Arrumando a política fiscal será possível reduzir os juros, voltando a fazer política monetária”, diz ela. “E política monetária funciona.”
Na média, os economistas do mercado esperam que a taxa Selic recue dos atuais 13,75% para 10,5% no fim de 2017. No entanto, mais de um economista antecipa taxas de 10%, ou, se o clima ajudar, de um dígito. Pode parecer pouco, mas a redução dos juros representaria um enorme alívio financeiro para as empresas, que têm de gastar muito com o serviço de suas dívidas. Mais do que isso, baratearia o crédito para o consumo. O efeito psicológico também não seria desprezível. Nesse cenário, o que fazer com o seu dinheiro? Saiba, nas páginas a seguir.
Colaborou: Márcio Kroehn
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