Já é possível vislumbrar um futuro para a cidade de São Paulo, que vai desafogar o trânsito e ao mesmo tempo melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes. A prefeitura da cidade pretende começar a mudar a cara de São Paulo com o projeto Arco Tietê, avaliado em R$ 20 bilhões. A ambição? Reconstruir uma área de 60 quilômetros quadrados – equivalente à ilha de Manhattan, em Nova York –, englobando a região do rio Tietê, que vai da zona oeste e alcança parte da zona leste da capital. A remodelação alteraria toda a infraestrutura ao redor do rio, que inclusive poderia voltar a ser navegável. As vias expressas atuais dariam lugar a parques para pedestres. 

 

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Os carros, por sua vez, passariam a trafegar em novas vias, construídas embaixo do rio. No futuro, haveria passarelas sobre o Tietê para pedestres e ciclistas. A “cirurgia plástica” na capital incluiria, também, monotrilhos aproveitando a estrutura do Elevado Costa e Silva, o popular Minhocão, e unidades ambientais de moradia nos bairros do entorno. “É uma transformação total: melhorar o rio e a drenagem, construir habitações, trazer empresas para a região e, consequentemente, desafogar o trânsito”, afirma Gustavo Partezani, diretor de desenvolvimento da SP Urbanismo, empresa responsável pelos estudos da obra e avaliação dos projetos. 

 

“Queremos reconstruir uma cidade e não apenas solucionar um problema ou outro”, diz Fernando de Mello, secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo. Um dos gargalos mais evidentes nos dias atuais são os congestionamentos na cidade, agravados com a explosão da venda de veículos nos últimos anos. Embora obras viárias como a Nova Marginal, que aumentou o número de faixas na via, e a ampliação da avenida Jacu-Pêssego, na zona leste da capital, tenham contribuído para desafogar o trânsito, os engarrafamentos de veículos, que se sucedem de segunda a sexta feira, faça sol ou chuva, alcançam ainda centenas de quilômetros de extensão.

 

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Trânsito é gargalo: o custo do trânsito de veículos de uso pessoal e de carga causa

um prejuízo de R$ 5 bilhões anuais para a capital

 

Traduzindo-se em cifrões, os entraves logísticos fazem a cidade perder R$ 5 bilhões por ano, de acordo com a consultoria paulista Macrologística. “Há um enorme impacto econômico com o tempo gasto no trânsito, por pessoas ou cargas”, diz Renato Pavan, presidente da Macrologística. Para cumprir a promessa de remodelar a cidade, que estava entre os compromissos de campanha no ano passado, o prefeito Fernando Haddad fez uma chamada pública em fevereiro, convidando empresas interessadas em apresentar ideias para o Arco Tietê, que podem ser adotadas pela prefeitura. De 26 propostas, 17 foram aprovadas. Sete meses depois, na terça-feira 10, elas foram apresentadas e discutidas com a população, numa audiência pública no Memorial da América Latina, na zona oeste da cidade. 

 

Consórcios formados por construtoras do calibre de Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, OAS e Camargo Corrêa, e empresas de desenvolvimento urbano, apresentaram planos de revitalização da área, que poderão, inclusive, ser complementares. Um dos projetos aprovados foi o da TC Urbes, especializada em arquitetura e urbanismo. Com a intenção de transformar o rio Tietê em uma verdadeira hidrovia de resíduos sólidos e um conceito de “urbanismo leve” e mais minimalista, a empresa, de acordo com o sócio-fundador Ricardo Corrêa, quer mostrar ao poder público e à iniciativa privada que a capital pode ser transformada radicalmente sem a necessidade de grandes e dispendiosas obras. 

 

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Marginais utópicas?: Parques lineares também poderiam ser construídos nas margens dos afluentes do rio Tietê.

Carros e trens vão trafegar em vias expressas no subsolo

 

“É possível realizar o projeto em 15 anos e com baixo impacto na infraestrutura”, afirma Corrêa. “Ele tem o potencial de aumentar os negócios da cidade em um terço.” As autoridades, no entanto, avaliam que o prazo da remodelação da região não será menor do que 20 anos, tempo que atravessará outras cinco gestões, além da atual do prefeito Haddad. Por isso, a pressão da população sobre o Plano Diretor é fundamental. “Para dar certo, todas as esferas devem se unir, desde a municipal até a federal”, diz Partezani, da SP Urbanismo. “A sociedade também precisa manter o projeto, pois se estiver pactuado entre todos os lados, os rumos irão de acordo com a cabeça da população e não do governante.”

 

No papel, as mudanças projetadas para o cenário paulistano enchem os olhos. A principal dúvida, porém, é como conseguir dinheiro parar tirar tudo do campo das ideias, uma vez que São Paulo sofre com a camisa de força representada pela dívida com o governo federal, que consome 10% do seu orçamento e limita a captação de novos recursos. “Teremos investimentos diretos, mas estudamos Parcerias Público-Privadas ou qualquer outra forma de concessão que pudermos imaginar”, diz Mello, que não dispensa, ainda, a utilização de financiamentos via Certificado de Potencial Adicional de Construção. Ambicioso, o projeto precisa superar, ainda, o histórico de atrasos, desvios e superfaturamentos que podem atrapalhar a concretização das obras no prazo estipulado e com os orçamentos previstos. 

 

O próprio escândalo do metrô paulista deixou uma imagem de ineficiência crônica em obras de mobilidade, que poderia prolongar os pesadelos de trânsito da capital e até inibir o interesse de novos investidores. “A cidade produz 20% do PIB da sétima maior economia do mundo”, afirma Mello, o secretário do Desenvolvimento Urbano. “É evidente que ela é interessante para investimentos.” São Paulo continua sendo uma vitrine do País, mas não pode basear sua imagem apenas em números. “A qualidade de vida deve ser um conceito que independa da renda do cidadão”, diz Corrêa, da TC Urbes. O paulistano do futuro agradece.

 

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