Quem entra no novo escritório da corretora Lerosa logo vê um pequeno museu com objetos históricos. Entre eles estão o colete com o número 33, usado pelos operadores quando ainda havia um pregão viva voz, a cadeira de João Roberto Lerosa, fundador da corretora, e a autorização assinada pelo governador paulista Carlos Alberto Carvalho Pinto, que era imprescindível para se trabalhar com ações na década de 60. No que depender de João Lerosa Filho, porém, essas serão as únicas antiguidades por ali. Após amargar alguns anos nas últimas posições do ranking das corretoras, a empresa iniciou um processo agressivo de crescimento. Em 16 de julho, a Lerosa anunciou a compra da corretora Isoldi e, além disso, ela está colocando em prática seus planos para se transformar em um banco de investimentos.
 

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Compra e venda: Alexandra Almawi vende os fundos de investimento, enquanto
João Lerosa Filho fica de olho nas oportunidades de compra no mercado

 

A primeira etapa é aumentar a participação no mercado de ações. A aquisição da Isoldi vai colocar a Lerosa perto das 50 maiores corretoras em volume de negociação, com aproximadamente R$ 1 bilhão mensal. “Se o mercado está comprando, eu também estou. Bancos pequenos, gestoras independentes ou corretoras nos interessam”, diz, convicto, Lerosa Filho. Somadas, a Lerosa e a Isoldi terão 3,5 mil clientes e 70 funcionários trabalhando com ações e mercado futuro. “As corretoras mais antigas podem sobreviver desde que diversifiquem suas atividades e tenham um atendimento muito mais pessoal do que as grandes”, diz Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios. Ao mesmo tempo que ampliava sua participação na bolsa, a Lerosa iniciava a gestão de recursos de terceiros. Em 8 de julho, a Lerosa Investimentos começou a captar recursos para o fundo multimercado multiestratégia Lerosa Capital Mix. Com aplicação inicial de  R$ 100 mil, a iniciativa a coloca no disputado segmento de gestão dos clientes de alta renda. É um público mais exigente e que busca rentabilidades diferentes das de fundos encontrados nos grandes bancos.“Queremos formar o patrimônio e preservá-lo conforme as características do cliente”, diz Alexandra Almawi, diretora comercial. A equipe de gestão será comandada por Fernando Ferreira, ex-sócio da Ideal Asset Management.

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Segundo a Comissão de Valores Mobiliários, 54 corretoras são autorizadas a trabalhar como gestores de carteiras. Para se diferenciar da concorrência, a Lerosa Investimentos foi criada para ser a controladora da corretora e, posteriormente, tornar-se o Banco Lerosa, um private banking que atenda clientes de alta renda. E o que isso significa? Atendimento personalizado, discrição e proximidade entre o cliente e o executivo que cuida da conta. “O tratamento personalizado é algo cada vez mais difícil de se encontrar”, diz Lerosa Filho. Seu objetivo é entregar toda a papelada para o Banco Central em agosto. O prazo de espera para a aprovação pode chegar a dois anos, mas Lerosa Filho pode abreviar esse período. “Estamos comprando”, diz. Ele não é o único a olhar para o mercado brasileiro de corretagem. As grandes casas internacionais têm estado mais interessadas. Em abril, os suíços do UBS voltaram ao mercado com a compra de quase todas as atividades da Link Corretora, que manteve apenas uma operação de varejo. Antes deles, os ingleses da Tullet Prebon haviam comprado a corretora Convenção, do ex-presidente da Bovespa Eduardo Rocha Azevedo. “Quem vender uma corretora agora vai se arrepender”, afirma Lerosa Filho, que vai continuar aumentando seu museu particular – e o próximo item da coleção é a autorização do BC para criar seu próprio banco.