As montadoras que fabricam os chamados carros populares no Brasil sempre acalentaram um sonho: ultrapassar as vendas do Gol, o modelo da Volks- wagen que lidera o mercado há mais de 20 anos. 

No mês passado, a Fiat do Brasil conseguiu essa façanha com o Uno. É bem verdade que a diferença entre os dois foi de apenas 481 unidades. Montante suficiente, no entanto, para ampliar ainda mais o cacife da subsidiária da empresa italiana aos olhos da matriz e “matar de inveja” dirigentes das demais bases da Fiat espalhadas pelo mundo. 

 

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Andrea Formica: principal executivo da Fiat para a Europa

 

“Quero clonar a Fiat brasileira”, declarou à DINHEIRO Andrea Formica, principal executivo da empresa de Turim para o mercado europeu. “Admiro muito o trabalho desenvolvido por essa filial.” A “inveja” do executivo tem sua raiz na bem-sucedida trajetória da marca por aqui. 

 

Em pouco mais de 20 anos, a Fiat destronou a matriz em vendas. No ano passado, cerca de quatro em cada dez carros da marca vendidos no mundo foram fabricados no Brasil, onde ocupa a pole position com uma fatia de 22,84%. “A Fiat sempre objetivou a liderança de resultados”, disse Cledorvino Belini, presidente da Fiat para a América Latina. Os últimos balanços demonstram que ele tem conseguido isso. Em 2010, as vendas somaram R$ 20,7 bilhões, enquanto o lucro líquido atingiu R$ 1,617 bilhão.

 

A Fiat brasileira conquistou o status de referência global graças a uma estratégia que incluiu pesados investimentos em produção e marketing. A verba de propaganda de 2010 atingiu R$ 876,9 milhões, fazendo da empresa a sétima anunciante do País. Para o período 2011-2014 deverão ser desembolsados R$ 10 bilhões em todas as áreas. 

 

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Rumo à China? Concebido no Brasil, o Novo Uno ajudou a Fiat a destronar o Gol ,

da Volks, e desponta como uma das apostas para o mercado asiático 

 

Dessa bolada, R$ 3 bilhões serão gastos na implantação da fábrica de Jaboatão dos Guararapes (PE), que começa a operar em 2014, com capacidade de produzir 200 mil veículos por ano. 

 

O restante vai ser usado no lançamento de novos modelos e na ampliação da capacidade fabril da unidade de Betim (MG) de 800 mil unidades para 950 mil por ano. “A Fiat conseguiu compreender como funciona a cabeça e o gosto do consumidor brasileiro”, afirma Alcides Leite, consultor e professor de economia da Trevisan Escola de Negócios. 

 

Para se manter nessa trilha, a filial pretende usar a força da parceira americana Chrysler, com a qual se associou em 2009. O primeiro exemplar dessa estratégia a percorrer as ruas e estradas brasileiras será o Freemont, conforme antecipou à Motor Show – revista da Editora Três, a mesma que edita a DINHEIRO – na edição que está nas bancas. Trata-se de um crossover (veículo de luxo com cara de esportivo) derivado do Dodge Journey e que terá uma versão exclusiva para o mercado brasileiro, fabricado em Betim (MG). 

 

O Freemont chega no segundo semestre para brigar com o Hyundai ix35 e o Kia Sportage, vendidos na faixa de R$ 80 mil. Bem acima do previsto para o Freemont: R$ 70 mil. Na avaliação dos analistas, contudo, a contribuição da Chrysler para a Fiat do Brasil deverá ser restrita. “Com algumas exceções, os produtos da Chrysler não são competitivos no Brasil”, diz Wim van Acker, sócio da consultoria The Hunter Group, baseada em Michigan (EUA).

 

Além de mirar a fatia de carros robustos, Belini também pretende se reforçar no chamado segmento de carros subcompactos que tem como principal apelo o visual retrô. Nesse nicho, a ideia é fortalecer o Fiat 500. Atualmente, a versão vendida no Brasil é trazida da Polônia e paga 35% de IPI. 

 

A substituição por versões feitas no México elimina essa tarifa, já que o Brasil possui um acordo de isenção com aquele país. Com isso, o 500 poderá ser vendido por R$ 40 mil, uma redução de um terço sobre o preço atual. Tanto o Freemont como o novo 500 integram a lista dos 20 lançamentos previstos para o ano. 

 

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O sucesso obtido pelo Novo Uno, criado integralmente no Brasil e no qual foram investidos US$ 600 milhões, também deverá ajudar a reabrir portas para a filial no mundo. Especialmente na China, país no qual a companhia não possui uma posição de destaque. 

 

O crescimento das vendas na América Latina e a perda de competitividade, no passado, de alguns modelos, como o Fiorino, fizeram com que ela se concentrasse nas fronteiras do continente. O Novo Uno é um dos modelos que Andrea Formica poderá incluir em sua estratégia para recuperar o espaço pedido na China, o mercado que mais cresce no planeta. Mais um ponto para o Brasil. 

 

 

O homem que tem inveja do mercado brasileiro

 

Principal executivo da Fiat para o mercado europeu, o italiano Andrea Formica revela sua admiração pela operação do braço brasileiro da montadora em entrevista exclusiva à DINHEIRO: 

 

A Fiat e o Brasil

“É notória a independência do País em termos de fabricação, produção e distribuição. É um mercado forte e promissor. Tenho muita inveja do mercado brasileiro. Quero clonar a Fiat do Brasil e reproduzi-la em outros países”.

 

Novo Uno brasileiro

“É um projeto de muito sucesso e um excelente carro. Tanto que a Fiat já estuda sua exportação para o mercado chinês.” 

 

Fiat 500

“É o carro mais representativo da Fiat. Se colocássemos todos os modelos da Fiat enfileirados, chegaríamos à conclusão de que o 500 é o que mais tem a cara da empresa. Temos uma grande expectativa de aumentar o mercado desse simpático modelo nas Américas, com a produção no México. Cerca de 50% do que for fabricado será destinado aos EUA. A outra metade será vendida nos países da América Latina, com foco principal no Brasil.”  

 

A fusão com a Chrysler

“Temos conversado com os executivos da Chrysler para determinarmos a melhor estratégia para o mercado chinês. Lá, a montadora americana já tem um mercado bem consolidado. O Lorenzo Sistino, que é o responsável pela operação da Chrysler/Fiat em todo o mundo, também vai viajar à Rússia para concluir os planos de negócio naquele país” 

 

O novo Freemont

“Agora é hora de criarmos um plano de comunicação desse carro, que é o nosso primeiro projeto em conjunto com a Chrysler. É a primeira semente da nova empresa. Não temos, com esse veículo, intenção de lançar um segmento. É somente um novo produto. Ainda veremos que tipo de consumidor irá atrair. Nossa expectativa é vender, só na Itália, cerca de 20 mil unidades dele.”