25/05/2011 - 21:00
Há alguns dias, o executivo alemão Léo Apotheker, CEO mundial da HP, esteve pela primeira vez no Brasil. Sua visita não teve o objetivo de lançar produtos ou anunciar grandes mudanças na estratégia da companhia para o País. O recado que a maior fabricante de PCs do mundo queria dar ao País, ao trazer seu principal executivo, foi percebido quando ele afirmou que a hegemonia no mercado nacional de computadores havia mudado de mãos. “Já estamos na liderança do setor de PCs no País. Somos o número ‘uno’”, disse Apotheker em evento recente em São Paulo, sem disfarçar sua satisfação.
A partir de então, as atenções se voltaram para a curitibana Positivo, que durante seis anos reinou absoluta nesse segmento. Acompanhado de Oscar Clarke, presidente da HP no Brasil, Apotheker não apresentou nenhum dado para atestar o que disse. Posteriormente, por meio de comunicado, Hélio Rotenberg, presidente da Positivo, admitiu a perda do primeiro posto. “Estamos trabalhando intensamente para retomar a liderança no mercado total de computadores, já no segundo trimestre, tanto pela esperada normalização das entregas ao mercado de governo como pela retomada sazonal do varejo brasileiro”.
Hélio Rotenberg, da Positivo: queda foi motivada por efeitos sazonais no varejo e retração nas vendas para o governo
Procurado pela DINHEIRO, Rotenberg não deu entrevista. O problema, no entanto, é que essa não foi a única notícia ruim para a Positivo no período recente. O episódio foi mais um em meio às atribulações enfrentadas pela empresa nos últimos tempos. No ano passado, as ações despencaram 54,97%, movimento que prossegue neste ano. No último trimestre de 2010, a fabricante paranaense registrou queda de 74,4% no lucro líquido, se comparado ao mesmo período do ano anterior. Já a receita recuou 3,9% na mesma época.
Como se não bastasse, dois dias depois de Apotheker causar furor, a Positivo divulgou seu balanço do primeiro trimestre de 2011. “Os números foram ainda piores do que as estimativas, que já eram pessimistas”, afirma Luciana Leocádio, analista da corretora de valores Ativa. Entre janeiro e março, a receita líquida da Positivo caiu 20,6% e a quantidade de PCs vendidos diminuiu 8,3%. O lucro, que já estava em queda do quarto trimestre, se transformou em prejuízo de R$ 30 milhões. Resultado: redução de mais de 8% no valor das ações em apenas uma semana e o valor de mercado definhou para R$ 565 milhões, menos de um terço do R$ 1,9 bilhão registrado no final de 2009.
A trajetória de sucesso da Positivo na década passada foi resultado de uma estratégia baseada em dois pilares: a boa relação com o varejo e o preço baixo. A empresa percebeu, antes da concorrência, que o computador iria se tornar um objeto de desejo das famílias, especialmente com a ascensão da classe C. Não por acaso, desde 2007 são vendidos mais computadores do que televisores no País. A entrada da Positivo no varejo aconteceu em 2004. Os computadores começaram a ser comercializados na Casas Bahia. Desde então, a fabricante nunca havia deixado de ser líder.
Léo Apotheker, da HP: o executivo veio ao País para comunicar que a empresa tornou-se líder de mercado no Brasil
Mas o cenário mudou, e isso se deve a dois fatores. O primeiro deles foi o crescimento dos notebooks, equipamentos com margem de lucro menor, em detrimento dos desktops. O segundo foi o aumento da concorrência no varejo. Além da HP, as gigantes multinacionais Dell, Acer, Samsung, LG e Lenovo, que chegou a anunciar seu interesse em comprar a Positivo, reforçaram as apostas no Brasil. Sob o ataque cerrado das rivais, inegavelmente, a Positivo não vive um momento brilhante.
É fácil entender a razão pela qual o País se tornou uma região relevante para as principais fabricantes internacionais. Com a venda de PCs em queda ou estagnada em boa parte do mundo, o Brasil exibe uma expansão vigorosa no setor. Apenas no primeiro trimestre deste ano, foram vendidos 3,6 milhões de computadores, uma alta de 22% em relação ao mesmo período de 2010. O Brasil hoje é o quarto maior mercado de PCs do mundo. E a Positivo surfou com competência nesse boom num primeiro momento.
De um negócio de médio porte, com foco na área educacional e faturamento de R$ 87 milhões em 2003, transformou-se numa competidora destacada, com receita superior a R$ 2,6 bilhões em 2010. O sucesso daqui para frente, no entanto, dependerá da diversificação nos negócios, estratégia já anunciada, mas que ainda engatinha. Entre os planos que precisam virar realidade estão o lançamento do tablet da companhia, esperado ainda para 2011, e o reforço na atuação com clientes corporativos, setor no qual os concorrentes estão muito mais adiantados.