30/09/2016 - 20:00
O Twitter é uma noiva cobiçada sobre a qual surgem, a cada dia, novos pretendentes para um casamento. Quem subirá ao altar, no entanto, ainda é uma incógnita. Na lista de interessados estão Google, Disney, Microsoft e Salesforce. Criado em 2006, o microblog possui hoje 313 milhões de usuários em todo mundo. Mas está à venda por não conseguir elevar o ritmo de crescimento de seus seguidores, a exemplo de concorrentes como Facebook, que soma 1,7 bilhão de usuários. Entre analistas, a venda é a única forma de fazê-la crescer.
“A empresa não tem uma liderança certa e já se perdeu há muito tempo”, afirma Vivek Wadhwa, membro eminente da Singularity University e da Stanford University, em uma crítica indireta ao CEO do Twitter, Jack Dorsey. Mas por que tantas empresas querem ser donas de um microblog, que nunca foi lucrativo e deu prejuízo de US$ 521 milhões no ano passado? “A batalha hoje não é por produtos e serviços, mas por insights”, diz R. Ray Wang, principal analista e fundador da consultoria americana Constellation Research.
Mesmo em ritmo lento de crescimento, o Twitter é uma empresa muito desejada. Só na Olimpíada do Rio, os usuários postaram 187 milhões de tweets sobre o evento, recorde do microblog. E, por ser um veículo capaz de medir a temperatura dos principais assuntos do momento, faz parte da estratégia de campanhas publicitárias de grandes empresas e pode fornecer dados valiosos para a companhia que o arrematar. A Salesforce, um dos ícones da computação em nuvem, foi uma das primeiras a mostrar interesse pela empresa do passarinho azul.
A companhia fundada por Marc Benioff oferece softwares capazes de organizar e coletar informações sobre a base de seus clientes, possibilitando aos vendedores a tomada de decisões estratégicas para o negócio. Com uma ferramenta como o Twitter em mãos, a Salesforce seria capaz de acrescentar à sua equação o sentimento dos consumidores. “A Salesforce está no coração das ferramentas de administração de vendas”, afirma Rob Enderle, da consultoria americana Enderle Group. “Saber mais sobre os consumidores dará aos vendedores uma vantagem única.”
Benioff teme perder o Twitter para, por exemplo, a Microsoft, que ganhou a disputa pelo LinkedIn em junho deste ano, comprando a companhia por US$ 26,2 bilhões. O negócio, que deve ser decidido em até 45 dias, também atrai o Google, que falhou em sua tentativa de rede social com o Google+. “Este é um produto morto”, diz Wang, para quem há um processo de consolidação no mercado das redes sociais. “Percebemos a perda de interesse por velhas plataformas”, avalia, acrescentando que, por enquanto, elas ainda têm um papel importante em estimular a conversação, inclusive o Twitter.
Não é à toa que a Disney, dona da ESPN e da rede ABC, tem também interesse em usar o Twitter para abrir um diálogo direto com seus consumidores. Mas, como em todo casamento, os pretendentes apenas desconfiam dos problemas após sair da igreja. Coisa que Jack Dorsey, que assumiu o Twitter em outubro do ano passado, ainda não foi capaz de resolver. Quando abriu o capital em 2013, a empresa era avaliada em US$ 24,5 bilhões. Em fevereiro deste ano despencou para US$ 9 bilhões e, agora, chegou a US$ 16 bilhões. Em janeiro de 2014, sua ação chegou ao pico de US$ 69. Com as notícias da venda, o papel se recuperou e hoje vale US$ 26. Enquanto ocorre o sobe-e-desce das ações, Dorsey quebrou alguns dogmas do microblog.
Ele, por exemplo, criou uma área chamada Moments, no qual é possível visualizar os tweets mais importantes, mas manteve a ordem cronológica para garantir a força da cobertura de eventos em tempo real. A empresa ainda comprou o Periscope em março de 2015, um sistema que permite a transmissão ao vivo de vídeo. O limite de 140 caracteres, que é considerado pelo consultor americano Enderle como uma barreira para o crescimento da base de usuários, foi flexibilizado. Fotos, GIFs, vídeos e enquetes inseridos em cada tweet deixaram de ser contados como texto em setembro, dando maior espaço na gaiola de cada assinante. Mas, há seis trimestres, o número de usuários está estagnado. Quem assumir a companhia, deverá estar preparado para fortes emoções.