O tédio é uma motivação poderosa para os usuários do YouNow. É um dos tópicos que mais motivam adolescentes a escancarar suas vidas em vídeos ao vivo transmitidos na plataforma americana. Outra é o sono. Em plena luz do dia, transmissões marcadas como #sleepingsquad (pelotão adormecido, em inglês) são uma das principais atrações do site. Não há nenhum jogo de palavras ou jargão. Trata-se de câmeras ligadas e apontadas para pessoas que estão dormindo. A imensa maioria é constituída de monólogos sobre as aflições juvenis – namoros, escola, cultura pop, entre outros assuntos.

A proposta pode parecer estranha, mas 100 milhões de usuários por mês assistem às 150 mil transmissões em tempo real criadas diariamente na plataforma. Os investidores também parecem gostar. O YouNow recebeu estimados US$ 11 milhões dos fundos nova-iorquinos Venrock e Union Square Ventures. “O YouNow é uma rede feita pelas pessoas e organizada pelas pessoas, um Santo Graal que vem sendo perseguido por muito tempo”, afirmou à DINHEIRO o CEO e fundador da empresa, Adi Sideman. Antes de criar o YouNow, Sideman fundou uma plataforma de karaokê e uma agência de mídia digital.

Mas só agora com a nova rede, os negócios de Sideman começam a decolar. E justamente numa área que os empreendedores de tecnologia da informação colecionam fracassos: a das transmissões ao vivo através da internet. Esse objetivo é perseguido desde que JenniCam, apelido da americana Jennifer Ringley, instalou uma webcam em seu dormitório na universidade, em 1996. Ela foi pioneira em mostrar ao vivo sua própria vida pela internet, numa espécie de reality show particular. Desde então, muitas empresas surgiram querendo explorar esse filão. Qix, Vid, Socialcam, BlogTV, Justin.tv são alguns exemplos de empresas que tentaram, ao longo dos anos, ganhar esse mercado. Falharam.

O único caso de sucesso, até o momento, é o do Twitch.TV, voltado para o segmento de games, adquirido pela Amazon por cerca de US$ 1 bilhão, no ano passado. As transmissões ao vivo, aparentemente, têm tudo para decolar, daqui para frente. Além do YouNow, aplicativos lançados neste ano prometem, finalmente, popularizar os eventos em tempo real. Os principais exemplos são o Meerkat, sensação no festival texano de tecnologia e cultura SXSW, e o Periscope, comprado pelo Twitter antes de ser lançado. O um bom desempenho na SXSW é meio caminho para o sucesso: o festival foi o evento que colocou o Twitter definitivamente no mapa do setor, em 2007. Oito anos depois, foi a vez do Meerkat despontar ali no evento, que aconteceu em março deste ano, em Austin, a capital texana.

Desde então, sua base de usuários quase triplicou, passando de 120 mil para 300 mil, segundo informam sites especializados em startups. Nada mal para um aplicativo que levou apenas oito semanas para ser programado. No fim de março, a empresa conseguiu obter um investimento de US$ 12 milhões do fundo Greylock, conhecido por ter um bom faro – ele já investiu no Instagram, Airbnb, Tumblr, entre outras queridinhas do Vale do Silício. O Meerkat também atraiu uma das maiores artistas pop do mundo: Madonna. A “material girl” marcou a estreia de seu mais recente clipe, da música “Ghosttown”, para ser lançado por meio do aplicativo. 

Porém, ela e seu pelotão de fãs se depararam com uma mensagem de erro na hora da transmissão. Do outro lado do ringue está o Periscope, fundado por Kayvon Beykpour e Joe Bernstein, que foi comprado pelo Twitter antes mesmo de seu lançamento. O valor da transação não foi revelado, mas o mercado estima algo em torno de US$ 100 milhões. O desenvolvimento da ferramenta online levou cerca de um ano, o que é refletido na interface mais intuitiva do programa em comparação com a do Meerkat. O aplicativo ganhou destaque durante uma explosão seguida de um incêndio em Nova York, em 26 de março. Em poucos minutos já havia uma série de opções de transmissões ao vivo feitas por celulares de transeuntes, antes de qualquer canal de televisão.