Não é segredo para ninguém que os investimentos no setor produtivo caminham a passos de tartaruga neste ano. Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) encolheu 2,1% no primeiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior. Outro dado preocupante é a perda de fôlego do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na concessão de empréstimos. No último balanço trimestral, o banco estatal de fomento anunciou uma expansão de apenas 2,2% na sua carteira de crédito, em relação ao quarto trimestre de 2013.

É pouco para quem vinha crescendo num ritmo médio de 4% a cada trimestre, no ano passado. O sinal vermelho, no entanto, acendeu quando o BNDES informou que o volume de consultas caiu 19% entre janeiro e abril deste ano. Como se sabe, a consulta é o primeiro passo para um futuro desembolso. Diante desse cenário, surge uma pergunta: por que os empresários não se animam a investir mesmo diante de um juro tão subsidiado? A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) está congelada em 5% ao ano, desde o começo de 2013. Com a inflação oficial acima dos 6%, isso significa que o banco oferece juro real negativo para quem pretende investir na economia.

Nesse período, a taxa básica de juros (Selic) subiu de 7,25% para 11% ao ano, como parte da estratégia do Banco Central de combater a inflação. “É um absurdo completo a TJLP não acompanhar a Selic”, afirma o economista Tharcisio Souza Santos, diretor do Faap MBA, em São Paulo. “Além de atrapalhar o combate à inflação, piora a situação fiscal do País.” Como o BNDES recebe dinheiro do Tesouro Nacional, que capta pela Selic, e empresta pela TJLP, essa diferença transforma-se em dívida bruta. No governo, há uma discussão sobre o momento ideal de aumentar a TJLP – em ano eleitoral, a decisão pode ficar para depois de outubro.

Apesar de muito atraente, o crédito do BNDES está perdendo o ímpeto por conta de uma demanda desaquecida. “A indústria toda parou de investir”, diz José Fernandes Martins, vice-presidente de Relações Institucionais da Marcopolo. “Todos os empresários estão esperando uma definição sobre a economia.” Na prática, muitas companhias aguardam o resultado das eleições para desengavetar os seus projetos. Até lá, a taxa de juros do BNDES não influenciará a tomada de decisão. Por outro lado, quem está olhando mais adiante fica preocupado com a possibilidade de alta na TJLP.

“É claro que qualquer aumento do único financiamento de longo prazo que existe vai impactar negativamente”, diz Marcelo Odebrecht, presidente do Grupo Odebrecht. “O BNDES tem um papel muito importante, mas é preciso atrair o setor financeiro privado para os projetos de infraestrutura.” As concessionárias que venceram os leilões de infraestrutura no ano passado – a Odebrecht, por exemplo, arrematou o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, e a BR 163, em Mato Grosso – estão preocupadas com um aumento da TJLP, o que poderia comprometer a Taxa Interna de Retorno (TIR) dos seus projetos.

Como houve ágios e deságios elevadíssimos nas disputas, qualquer ponto percentual a mais nos juros subsidiados do BNDES pode significar a diferença entre ter lucro ou prejuízo nas concessões e, de quebra, espantar eventuais investidores dos próximos leilões. À falta de apetite dos empresários deve-se acrescentar uma postura mais cautelosa do próprio governo federal. Após atingir o recorde de R$ 190 bilhões em desembolsos no ano passado, o BNDES está sendo forçado pela equipe econômica a reduzir esse montante para R$ 150 bilhões neste ano, uma queda de 21%.

Declarações nesse sentido já foram feitas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo próprio presidente do banco, Luciano Coutinho. “Do lado da oferta, tudo indica que o orçamento do BNDES para desembolso será menor neste ano”, diz Wermeson França, economista da LCA Consultores. “Do lado da demanda, a falta de confiança do empresário e do consumidor desestimula a busca por crédito, ainda que barato.” É como juntar a falta de fome com a falta de vontade de comer.

Colaboraram: Ana Paula Machado e Carolina Oms