02/06/2016 - 18:30
Na mesa do católico Marcelo Baptista, presidente do Grupo Protege, uma das maiores empresas de segurança do País, com faturamento de R$ 1,7 bilhão no ano passado, há um monitor que nunca desliga, cercado de diversos símbolos religiosos, como uma imagem de Nossa Senhora. Nele, diversas câmeras monitoram cada mínima movimentação nas dependências da sede da companhia, localizada no bairro da Consolação, em São Paulo. Exagero? Baptista afirma que não.
A preocupação do executivo com a segurança aumentou ainda mais nos últimos dias e novos sistemas de monitoramento estão sendo estudados para ampliar ainda mais a vigilância dentro da empresa. No final de março, criminosos fortemente armados destruíram uma das sedes da companhia, localizada em Campinas (SP), e levaram cerca de R$ 50 milhões. “Não tem como construir uma fortaleza que aguente um ataque desse nível”, diz o presidente, lembrando que os bandidos tinham armas de calibre ponto 50, capazes de derrubar aviões.
Para evitar que novos ataques derrubem a própria empresa, a Protege está investindo R$ 40 milhões neste ano na implementação de novos dispositivos de segurança – desde chapas de aço sob os pisos até aparatos como espuma de poliuretano nos cofres, o que dificulta a abertura. “Mas só podemos retardar o processo de roubo, a polícia tem que chegar nesse meio tempo”, diz Baptista. Os treinamentos dos funcionários também vêm sendo intensificados, com atualização de estratégias de combate e armamentos. Mesmo assim, os ataques estão sendo frequentes.
No dia 19 de abril, por exemplo, a Protege precisou pagar resgate de R$ 1 milhão para criminosos liberarem a família de um funcionário. Ataques a carros-fortes nas rodovias também têm sido recorrentes. “A criminalidade é responsabilidade da administração pública”, diz Baptista. No ano passado, R$ 78,3 milhões foram roubados das empresas de transporte de valores, 85% superior a 2014, segundo a Associação Brasileira de Transportes de Valores. De todas as ocorrências, cerca de 65% ocorreram no Estado de São Paulo.
Em comunicado, a Secretaria de Segurança Pública paulista afirmou que sete suspeitos do assalto em Campinas foram detidos e que, nos últimos anos, houve um aumento na entrada de armamento pesado no Estado, por conta do crescimento no contrabando internacional, fora da alçada do governo estadual. “Uma das prioridades é o combate ao tráfico de armas nas fronteiras”, disse, por nota, Alexandre de Moraes, ministro da Justiça e ex-secretário de segurança paulista. Apesar da empresa não ter responsabilidade sobre a violência, os recentes assaltos cinematográficos ferem a imagem da Protege, segundo especialistas.
“O consumidor não enxerga a violência apenas como falha do Estado, mas também como uma fragilidade da empresa”, diz Eduardo Tomiya, diretor geral da consultoria Kantar Vermeer. Ao mesmo tempo, aproveitando dos tempos turbulentos, a Protege pretende fisgar o pequeno comerciante. Ela vai cobrar cerca de R$ 120 para fazer o traslado do dinheiro de uma padaria, por exemplo, até o banco. “Enquanto a polícia não ajuda, o jeito é trabalhar e rezar”, diz Baptista.