05/09/2014 - 20:00
A francesa Lactalis, maior produtora de leite e derivados da Europa, está promovendo uma grande mexida no mercado brasileiro de laticínios. Com duas aquisições em menos de uma semana, a companhia, controladora da italiana Parmalat, se tornou a segunda maior produtora de leite do País, com um volume estimado de captação de 1,9 bilhão de litros por ano. Antes uma desconhecida dos consumidores brasileiros, a Lactalis adotou uma estratégia agressiva para se tornar a líder do setor lácteo no País, o que pode acontecer ainda neste ano. Dona da marca de queijos Président, famosa por seu camembert, a empresa francesa vinha estudando há meses uma forma de ganhar corpo no Brasil.
Ela entrou no País no ano passado, quando comprou a mineira Balkis, especializada na fabricação de queijos gourmet. Seus planos, no entanto, eram muito mais ambiciosos. Na quarta-feira 3, a Lactalis fechou a compra da divisão de leite da BRF, por R$ 1,8 bilhão. Cinco dias antes, ela fez acordo para adquirir ativos da LBR-Lácteos Brasil, que está em recuperação judicial e tem o direito de uso da marca Parmalat por aqui. Se o negócio for aprovado, o nome será devolvido à matriz europeia. Os planos são de usar a marca como o carro-chefe no Brasil, segundo Samuel Oliveira, diretor do banco Indusval, que representou os franceses na negociação com a BRF.
A Parmalat já foi líder do mercado brasileiro, na década de 1990, quando patrocinava o time de futebol do Palmeiras. Para chegar à liderança, no entanto, a Lactalis talvez nem precise de uma estratégia de marketing contundente, como fez a Parmalat. Isso porque a DPA, atual número 1 do mercado, concentrava a captação de leite da suíça Nestlé e da neozelandesa Frontera. A parceria entre as duas, no entanto, acabou em maio deste ano, o que deve se refletir nos próximos resultados da DPA, cuja produção gira em torno de dois bilhões de litros de leite ao ano.
No caso da BRF, a venda das unidades lácteas faz parte da estratégia de se concentrar nos mercados de carnes e alimentos prontos. Essa postura vem sendo adotada desde que o empresário Abilio Diniz assumiu a presidência do conselho da empresa, no ano passado. Para os analistas da corretora Concórdia, no entanto, a venda pode não ter sido um bom negócio. “As marcas da BRF tinham participações relevantes nesse mercado”, afirma a analista Karina Freitas, em relatório. Entre elas, estão a Batavo e a Elegê, que agora se unem à Parmalat para formar a nova gigante do leite.