22/01/2016 - 20:00
Com perdas de 24,0% nas vendas de automóveis de passeio e de 33,6% no licenciamento de comerciais leves, as lágrimas da indústria automobilística em 2015 poderiam fazer transbordar o Lago Paranoá e deixar Brasília debaixo d’água. As três maiores montadoras do País foram as que mais sofreram com a crise. Somadas, a Fiat (-37,1%), a General Motors (-32,9%) e a Volkswagen (-37,6%) tiveram uma redução de 666,9 mil veículos leves (automóveis e comerciais).
Junte-se a elas menos 100,2 mil veículos da dupla Ford e Renault e outros 63,1 mil carros das asiáticas Hyundai, Toyota e Nissan, temos um rombo superior a 830 mil automóveis, picapes, vans e furgões só entre as 10 marcas mais vendidas do Brasil – isso é próximo do mercado inteiro da Espanha ou da Turquia. Mas – surpresa! – nem todo mundo chorou em 2015. Entre as marcas de volume, a Honda emplacou 15,5 mil carros a mais e a Jeep passou de 3,3 mil para 41,8 mil vendas/ano, estabelecendo-se como a décima colocada no ranking brasileiro de carros.
O segredo de ambas não é segredo: chama-se inovação. Ou mais que isso: inovação combinada com as expectativas do consumidor. Graças a dois lançamentos espetaculares, a Honda (com o crossover HR-V) e a Jeep (com o SUV Renegade) caíram no gosto do consumidor e foram decisivas para que a categoria de SUV/crossover subisse de 298,3 mil para 306,1 mil carros/ano. Para além disso, colocaram o Ford EcoSport (líder por mais de uma década) num modesto” quarto lugar, com uma perda superior a 20 mil emplacamentos em apenas um ano.
No balanço das vendas de 2015, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, foi claro ao analisar o desempenho da Honda perante os demais fabricantes: “O consumidor brasileiro está cada vez mais exigente com os produtos e compete às montadoras saciar essas exigências”. Moan tem razão. Se até mesmo o EcoSport, que foi lançado em 2012, já é considerado um carro “velho” na percepção do consumidor que se encantou com o HR-V e o Renegade, o que dizer de alguns “dinossauros” da indústria? Os números mostram que, numa economia mais fraca e com menos crédito, os carros precisam se manter competitivos. O que funcionou no passado talvez não funcione mais.
Os três carros que mais perderam vendas em um ano foram, pela ordem: VW Gol (- 100,6 mil unidades), Fiat Palio (-61,4 mil) e Fiat Strada (-54,5 mil). O Gol é um projeto de 2008 e, embora esteja atualmente na sexta geração, os especialistas consideram que a modificação de oito anos atrás foi apenas a terceira realmente profunda na história do modelo. Já o Palio, que ganhou uma nova geração em 2011, ainda tem 50% de suas vendas relacionadas ao modelo Fire, cujo projeto é de 1996. Da mesma forma, a picape Strada tem um projeto de 20 anos atrás (apesar de ter passado por várias atualizações).
Na contramão das quedas, o Ford Ka (lançado em 2015) e o Toyota Corolla (renovado em 2013) tiveram crescimento de 46,3 e 4 mil vendas, respectivamente. E o atualíssimo Volkswagen Up, um projeto de 2011 lançado em 2014, perdeu apenas 5,3 mil licenciamentos. Claro que esse sobe-e-desce das vendas está relacionado também com estratégias de marketing, mas não é coincidência que as perdas do Renault Sandero, do Hyundai HB20 e do Chevrolet Onix (todos projetos de 2012 e lançados até 2014) tenham sido menores que as do Fiat Uno (2010) e do VW Fox (2003). Por isso, esse ano não deverá ser diferente. Quem trouxer inovação ao mercado vai conseguir driblar a crise. Quem não trouxer, continuará derramando lágrimas em Brasília.