31/07/2015 - 20:00
A decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor’s de manter a nota do Brasil em BBB-, mas com perspectiva negativa, não poderá ser vista, de forma alguma, como a causa dos nossos problemas. Ela é a consequência do que fizemos no passado recente. Não somos a Grécia, mas qualquer desvio no compromisso assumido de melhorar as contas públicas e de arrumar o turbulento cenário político pode nos levar a ingressar no indesejado clube dos países caloteiros.
O prazo? Não é definido. Pode ser amanhã, se o superávit primário se transformar em déficit. Num período de poucas semanas, os gregos foram rebaixados para CCC- pela mesma S&P e, assim que acertaram o acordo com a União Europeia e afastaram o risco iminente de sair da zona do euro, foram recompensados ao pular para CCC+. As letras mostram a qualidade do crédito e a Grécia continua na casa dos inadimplentes. O Brasil continua na dos bons pagadores.
Mas, para nós, esse recuo traz resultados devastadores quando se pensa no crescimento do PIB, no curto prazo. Precisamos de capital estrangeiro, que está escasso com as crises internacionais. Nunca é demais lembrar que custa mais caro atrair investidores dispostos a dividir o risco quando a nota soberana do país está abaixo de BBB. Os estrangeiros que toparem, por exemplo, participar das licitações que forem abertas no novo plano de concessão de infraestrutura do governo federal, de quase R$ 200 bilhões, vão exigir um retorno mais atrativo.
Mesmo quando o grau de investimento não estava em discussão, uma das principais responsáveis pelos fracassos dos últimos leilões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos era a taxa de rentabilidade dos projetos, considerada muito baixa. Sem o selo verde, a discussão será rouca, porque todas as fichas caem no colo dos investidores. Mesmo que o País tenha cacife, com reservas de US$ 380 bilhões e oportunidades, teria de se sentar numa mesa de crédito mais caro.
O ponto decepcionante nessa história é que temos consciência do início desse processo de deterioração. Lá em 2012, quando a presidente Dilma Rousseff ainda desfrutava da popularidade herdada do presidente Lula, ela resolveu testar o seu poder. Ao decidir rever o contrato das empresas do setor elétrico, Dilma mostrou-se péssima motorista: engatou a ré e o País começou a andar para trás. O motivo dessa canetada era aparentemente nobre: reduzir a tarifa de energia elétrica.
Ninguém pode ser contra qualquer corte de custos para o apertado bolso dos brasileiros. Mas não se pode concordar com uma mudança de regras no meio de uma partida. Não é jogo limpo. A presidente quebrou o que havia sido assinado e deu início ao silencioso efeito cascata da falta de confiança.Investidor é medroso como passarinho e tem medo de arapuca. Ele prefere voar para outros destinos a correr o risco de ser apanhado no contrapé. Numa escala de 0 a 100, onde a pontuação máxima é a confiança total, os empresários bateram em 37,2 pontos.
Em 2012, quando todo esse problema começou a dar sinais de vida, ela estava perto dos 60 pontos, para uma média histórica de 55,9 pontos. Desde então, houve uma persistente deterioração mensal, que levou aos pibinhos, à recessão, à alta da inflação e, agora, ao risco de perder o grau de investimento. A presidente Dilma foi avisada das consequencias que estavam sendo criadas. Mas aqueles que ousavam contradizer o discurso oficial e alertar sobre os perigos à frente, eram acusados de torcer pelo fracasso do governo. Na época, era preferível ignorar os sinais que indicavam um País à deriva mais à frente.