Uma das primeiras missões econômicas do próximo presidente da República será liberar os preços administrados que foram congelados nos últimos meses. Na lista das “bombas inflacionárias” estão a energia elétrica, os combustíveis e o transporte público. No mercado financeiro, há uma enorme expectativa sobre um reajuste da gasolina e do diesel, cujos preços estão defasados em relação aos praticados no mercado internacional. No setor elétrico, o aumento da conta de luz será inevitável por causa do acionamento das usinas térmicas, que geram uma energia mais cara.

Além disso, prefeituras de grandes cidades, como São Paulo, Curitiba e Recife, mantêm as tarifas de ônibus inalteradas desde 2013, quando estourou uma onda de protestos pelo País. Se a liberação dos preços administrados será inexorável, a dúvida é sobre a melhor estratégia: o “tarifaço”, apelido de um eventual reajuste abrupto, ou a “política gradualista”, termo utilizado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para explicar como um eventual novo governo do PT liberaria esses preços. Na campanha eleitoral, os principais assessores econômicos do PSDB e do PSB já indicaram que o realinhamento dos preços públicos deve ser feito “o mais rápido possível”.

Em tese, o “tarifaço” tem a vantagem de eliminar especulações sobre reajustes futuros, mas pode representar uma alta muito grande da inflação logo no começo do ano. Já a “política gradualista” evita uma alta abrupta dos preços, mas mantém pressionadas as expectativas futuras de inflação. Para debater o tema, DINHEIRO ouviu a opinião de dez especialistas que participaram da premiação da Ordem dos Economistas do Brasil, há duas semanas, em São Paulo. A entidade concedeu ao ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola o título de “Economista do Ano”.

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“Maquiavel nos ensinou que o mal se faz de uma vez só, e o bem se faz aos poucos. Então, tem de fazer de uma vez só para ganhar credibilidade”
Manuel Enriquez Garcia, presidente da Ordem dos Economistas do Brasil

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“É melhor fazer de uma vez só o combustível, e depois liberar a energia elétrica de forma gradual.
Se a inflação superar a meta, o BC justifica com o ‘tarifaço’”

Heron do Carmo, professor da USP

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“Faz tudo de uma vez só, ajusta o preço da gasolina, da energia e do ônibus. Assim a inflação converge mais rapidamente para os 4,5%”
Juan Jensen, economista-chefe da Tendências Consultoria

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“É melhor fazer de uma vez, porque senão sempre o mercado estará esperando uma taxa de inflação maior”
Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo

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“O combustível precisa de um reajuste forte. É bobagem empurrar mais com a barriga. Os outros preços podem ser liberados gradativamente”
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator

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“Não dá para fazer isso tudo de uma vez. Só a gasolina elevaria a inflação para 7%. A atitude mais sábia seria sinalizar que vai liberar aos poucos”
André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos

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“Teria de ser gradual, claro. Já há muitos preços, como os salários, que estão subindo automaticamente e isso pode gerar um efeito em cascata”
Luiz Roberto Calado, diretor do Instituto BRAiN

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“Faz o choque, anuncia que houve um choque e acabou o problema. Assim a sociedade já sabe que os preços estão no equilíbrio”
Roberto Luis Troster, economista da USP

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“Se fizer de uma vez só, não haverá margem para incertezas. Basta acionar as políticas fiscal e monetária para reduzir o efeito secundário na inflação”
Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda

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“É melhor fazer tudo de uma vez. Assim resolve o problema e não fica com aquela coisa de indexação, contaminando as expectativas inflacionárias”
Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central