Ao apertar um botão e trocar um slide sobre as vantagens macroeconômicas do Brasil por outro, sobre a nova modelagem econômica das concessões de rodovias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, causou um alvoroço na plateia de um road show de negócios na manhã da terça-feira 5, em São Paulo. Aproximadamente 500 homens e mulheres, formalmente trajados, assistiam, em um hotel de luxo, à apresentação em Powerpoint do ministro sobre os planos do governo para a infraestrutura. Ao tomarem conhecimento dos prazos maiores de concessões (de 25 para 30 anos) e de financiamento (de 20 para 25 anos), e dos juros mais baixos, os investidores rapidamente sacaram suas calculadoras HPs e passaram a fazer contas preliminares – a rentabilidade, em alguns casos, subiria de 6% para quase 15%. 

 

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Sob medida: ministro Guido Mantega afirma que “caprichou” na remuneração dos investimentos

 

Em uma das 40 mesas ao fundo do salão, um executivo com traços orientais comentava que “a TIR estava ficando interessante”. Seu colega, ao lado, concordava, balançando a cabeça positivamente. Era o sinal de que o governo acertara na mosca. A tal TIR seria a sigla mais ouvida no coffee break de 20 minutos que viria a seguir. Trata-se da Taxa Interna de Retorno, ou seja, o percentual que o investidor prevê ganhar ao alocar recursos num projeto. Nos últimos meses, o governo tem feito um esforço para convencer o setor privado a participar dos leilões de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos, mas havia muitas reclamações de que a taxa de retorno estava aquém do esperado.

 

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Na ponta do lápis: investidor estrangeiro faz cálculos após o anúncio das novas regras para rodovias

 

“Não adianta impor uma TIR ao mercado”, diz Flávio Carvalho, diretor de relações institucionais da CCR. “A TIR tem de ser estabelecida a quatro mãos (governo e iniciativa privada).” Ao perceber que os investidores nacionais e estrangeiros não estavam muito satisfeitos, a presidenta Dilma Rousseff determinou o adiamento do primeiro teste do ano, marcado para o fim de janeiro, que envolveria o leilão das rodovias BR-040 e BR-116, em Minas Gerais. “Agora, nós caprichamos nas medidas”, disse o ministro Mantega. As alterações fizeram os dois trechos mineiros entrarem no radar da CCR, que também estuda participar de concessões de ferrovias e aeroportos. 

 

A Invepar, que administra o aeroporto de Guarulhos, também ficou satisfeita com as novidades. “Prazo maior representa retorno maior, o que é fundamental”, afirma Gustavo Rocha, presidente da empresa formada por três fundos de pensão estatais e pela construtora OAS, que tem interesse em estradas e aeroportos. Se a apresentação do ministro Mantega deixou claro que o governo fez ajustes para atender os donos do capital, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, teve mais 20 minutos para reforçar essa tese. Gleisi ressaltou várias vezes que o setor privado terá o papel de protagonista dos investimentos em infraestrutura, sem interferência estatal em contratos assinados – demonstrando que o governo não ficou indiferente à saraivada de críticas recebidas do setor elétrico, quando houve a renovação dos contratos de concessão. 

 

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No mesmo embalo: a ministra Gleisi Hoffman e o banqueiro André Esteves

ressaltam as oportunidades no Brasil

 

“Queremos dialogar”, disse a ministra. “Temos regras claras e financiamento facilitado.” Na visão do presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, o caminho escolhido pelo governo parece ser o correto. “É a chance de mudar a história do investimento na infraestrutura do País”, diz Godoy. Essa mudança, entretanto, depende da diversificação das fontes de financiamento, para não ficar à mercê do BNDES. “Conforme os juros básicos vão baixando, isso é um caminho natural”, disse à DINHEIRO Will Landers, responsável por administrar US$ 6,5 bilhões do fundo de investimento americano BlackRock na América Latina. 

 

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Dinheiro à vista – juros baixos: Landers, da BlackRock, diz que a queda

nas taxas é um caminho natural

 

Com a experiência de quem vive o dia a dia do mercado americano, Landers explica que o capital estrangeiro apenas espera boas oportunidades para vir ao Brasil. “Os projetos de longo prazo precisam ter previsibilidade de fluxo de caixa.” O governo já anunciou que o Banco do Brasil e a Caixa ganharão um papel importante no financiamento da infraestrutura. Os bancos comerciais estão sendo pressionados a participar e há também uma enorme expectativa em torno das debêntures de infraestrutura, que oferecem vantagens tributárias para quem fizer aplicações. Apesar dos esforços do governo para adaptar as regras ao gosto dos investidores, ainda faltam correções de rotas importantes. 

 

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Dinheiro à vista – dúvidas: Fontana, da Rumo Logística,

pede mais clareza nas regras para ferrovias

 

As principais dúvidas dos investidores envolvem as regras de remuneração nas concessões de ferrovias e portos. “As propostas parecem ser boas, mas carecem de alguns esclarecimentos”, diz Julio Fontana Neto, presidente da Rumo Logística, uma empresa de serviços de transporte do Grupo Cosan. A presença de estrangeiros no road show em São Paulo foi pequena – poucos participantes utilizaram a tradução simultânea do português para o inglês. Para atrair o interesse do capital internacional em programas que somam quase R$ 1 trilhão (leia quadro abaixo), o governo prepara quatro rodadas no Exterior. A primeira será no dia 26 deste mês, em Nova York, e a segunda, no dia 1º de março, em Londres. 

 

Na sequência, serão realizados encontros em Tóquio e Cingapura. Mantega deve liderar os encontros, onde terá a missão de apontar o copo meio cheio da economia brasileira. “Quando a bagagem demora a chegar aos aeroportos, por exemplo, é preciso olhar não só pelo lado negativo, mas ver quanto eu vou faturar com a movimentação de todos esses passageiros nos terminais que eu vou concessionar”, disse Mantega. O presidente do BTG Pactual, André Esteves, concordou. “Todos esses setores são ao mesmo tempo problema e oportunidade para qualquer investidor global”, afirma. “A atratividade brasileira se dá pela escala econômica, associada à estabilidade institucional – uma combinação que faz do Brasil um dos principais polos de investimentos.”

 

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