Na semana passada, o vice-presidente da Helibrás, Eduardo Mauad, se surpreendeu com um estudo do governo indicando desindustrialização na economia brasileira. À frente da empresa, ele tem testemunhado o oposto. 

 

“O setor de defesa cresce como nunca”, disse à DINHEIRO. A Helibrás é apenas um exemplo entre muitos. Dados do IBGE mostram alta nas vendas em 25 dos 27 setores industriais. 

 

A Confederação Nacional da Indústria, por sua vez, constatou que as receitas das empresas superaram, em setembro, os patamares pré-crise mundial. E estão previstos US$ 37,5 bilhões em investimentos externos, voltados ao setor industrial nos próximos anos.

 

157.jpg

 

Gestado no Ministério do Desenvolvimento, o estudo conclui que o Brasil experimenta um preocupante processo de “desindustrialização negativa”. Outra conclusão dos técnicos do órgão dá conta de que o País está em processo de “primarização”, decorrente da maior participação dos produtos básicos no total das exportações. 

 

Parte desse fenômeno pode ser explicada pelo boom nos preços das commodities e pela gigantesca demanda da China — hoje maior parceira comercial do Brasil — por matérias-primas. 

 

Em 2010, o Brasil deve exportar mais de US$ 10 bilhões em soja para o mercado chinês, cinco vezes mais do que há quatro anos. Em nota, o ministro Miguel Jorge afirmou que o estudo é apenas um entre muitos produzidos no ministério e que reflete apenas a opinião dos autores.

 

De fato, os números da indústria contrariam a tese. A Brasil Foods, por exemplo, planeja consolidar um aporte de R$ 1 bilhão em suas unidades e para ganhos de produtividade. O mesmo valor deve ser investido em 2011. 

 

“O nosso setor está bem. Estamos expandindo no Brasil e adquirindo unidades lá fora”, disse à DINHEIRO Luiz Fernando Furlan, copresidente da multinacional e ex-ministro do Desenvolvimento. 

 

158.jpg

Ritmo forte: a CNI, de Robson Andrade, constata 
expansão geral, como no setor de turbinas para hidrelétricas

 

A Helibrás também tem ampliado seu parque industrial e as encomendas de seus fornecedores.  “Estamos comprando no Brasil as partes do nosso helicóptero militar”, relata Eduardo Mauad. E a Voith Siemens hoje bate recordes na produção de turbinas para hidrelétricas.

 

O único ponto que realmente merece reparos é a competitividade do produto brasileiro em relação aos importados. “Deveríamos compensar o câmbio por melhorias no Custo Brasil, reduzindo juros e encargos sobre a folha”, disse à DINHEIRO Robson Andrade, presidente da CNI.  

 

“Com 25% da indústria sujeita à concorrência das importações, o desequilíbrio cambial gera problemas”, reforçou Jorge Gerdau, presidente do conselho de administração do Grupo Gerdau.

 

 De fato, o câmbio tem sido o grande vilão de setores importantes da indústria. Tem propiciado também um cenário em que parte da aquecida demanda interna tem sido suprida com insumos importados. 

 

Caso da indústria do aço. Este ano, o setor estima importar oito milhões de toneladas, o equivalente à produção de duas grandes usinas. “A relação de importação e consumo, que se mantinha na casa de 4%, este ano está em 20%”, relata Marco Polo Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil. Mas daí a falar em desindustrialização, há uma distância enorme. 

 

159.jpg

 

160.jpg

 

Colaborou Rodolfo Borges