No mundo da geometria costuma-se dizer que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta. De fato. Mas o que vale para essa ciência nascida na Grécia Antiga nem sempre se aplica ao mundo dos produtos eletrônicos de consumo. Pelo menos é o que pregam os executivos da gigante sul-coreana Samsung, cujas vendas globais somaram US$ 196 bilhões no ano passado. “O aparelho de TV do futuro será conectado à internet, contará com sistema de imagem Ultra High Definition (UHD) e terá sua tela em formato curvo”, afirma Tony Firjam, chefe da divisão de áudio e vídeo da Samsung Brasil.

É nas TVs com esse formato, dotadas de telas imensas, entre 55 polegadas e 105 polegadas, que a empresa espera inaugurar uma nova era no chamado entretenimento doméstico. Para tornar sua tecnologia dominante e conquistar a preferência dos consumidores, a meta é desenvolver aplicativos capazes de interligar a tela da TV aos demais eletrônicos e eletrodomésticos. Do micro-ondas à geladeira, passando pela TV e o smartphone. Para juntar isso tudo, a empresa criou a Comunidade Tizen que reúne uma centena de pesquisadores, entre independentes e ligados à Samsung.

Esse projeto está orçado em US$ 100 milhões e dele participam também desenvolvedores independentes e técnicos que dão expediente nos três centros de desenvolvimento situados no Brasil: em Campinas (SP), em Manaus e em São Paulo. “A criação de conteúdo é importante para conquistar a preferência dos consumidores e fazer com que os aparelhos com elevado grau tecnológico, que custam mais caro, ganhem espaço no mercado”, diz o diretor de negócios da consultoria GfK, Alex Ivanov.

Hoje, as Smart TVs já permitem aos usuários navegar na internet, jogar games on line e acessar serviços de vídeo sob demanda, como o Netflix. “Mas isso é considerado pouco para quem deseja uma experiência mais ampla nos momentos de lazer dentro de casa”, afirma o diretor da Samsung. E não faltam interessados em trocar de TV. A Copa do Mundo ajudou a impulsionar as vendas em 2014. E a tendência é que o ritmo se mantenha forte. Especialmente por conta do fim das transmissões analógicas, cujo desligamento do sinal começa pelo Distrito Federal, a partir de abril de 2016.

Hoje, existem 63,3 milhões de aparelhos de TV nas casas dos brasileiros, pelos cálculos da Eletros, entidade que reúne os fabricantes do setor. De acordo com a mesma fonte, no acumulado janeiro-novembro de 2014 foram vendidos 14,2 milhões de aparelhos. As telas finas, de LCD e plasma, dominaram a preferência, com uma fatia de 90%. No entanto, menos de 2% são Smart TVs ou possuem tecnologia 4K, de acordo com a GfK. A meta da subsidiária da Samsung é ajudar os consumidores a cortar caminho.

“Queremos que os brasileiros migrem das TVs analógicas direto para as Smart TVs ou aparelhos com tecnologia UHD”, afirma Firjam. Para isso, a empresa acaba de renovar em 95% seu portfólio que, agora, é composto majoritariamente por modelos com essas características. Para dar suporte às vendas, foram criadas campanhas de mídia e ações nos pontos-de-venda. Nem a verba de marketing, tampouco o montante investido, é revelado pelo executivo. Além do apetite por novidades, os brasileiros são conhecidos por querer muito, mas sem pagar caro.

E os fabricantes têm feito a parte deles. Pelas contas da GfK, o preço médio de uma TV 4K caiu de R$ 20,4 mil, em dezembro de 2013, para os atuais R$ 4,4 mil. Para se manter competitiva, a Samsung fabrica em Campinas e Manaus todos os modelos vendidos aqui. Além disso, vem encurtando o tempo entre o lançamento de um produto global e sua chegada às lojas de eletrodomésticos do Brasil. A TV UHD com tela curva é uma das armas à disposição de Firjam para manter os sul-coreanos na liderança, assim como acontece em nível global. “Produtos com mais tecnologia atraem mais consumidores e geram um ganho unitário maior”, diz ele.