15/12/2010 - 21:00
A educação é uma das principais preocupações financeiras de uma família. Educar uma criança do fundamental ao superior em escolas privadas pode representar um gasto superior a R$ 100 mil. E isso é só o começo. Os pais sabem que a educação dos filhos vai muito além da escola. É preciso que a criança seja fluente pelo menos em uma língua estrangeira, sem descuidar de sua preparação física.
Quando os filhos concluem o curso superior, é preciso pensar na pós-graduação. Essas necessidades abrem espaço para as escolas de esporte, de idiomas e para as milhares de alternativas de cursos de extensão. Como escolher bem onde investir na hora de educar as crianças?
Jovens em campo Felipe (à esquerda) e Guilherme na escolinha de futebol do São Paulo:
o esporte funciona como uma ferramenta educacional
Em primeiro lugar, é preciso planejar. José Góes, consultor econômico da corretora WinTrade, avalia que a família deve reservar até 40% da renda total para a educação dos filhos, incluindo a escola e seus adicionais, como cursos de línguas, de esporte e extensão universitária depois da faculdade. Outros especialistas são mais modestos.
O administrador de investimentos Fabio Colombo sugere que o casal poupe de 10% a 30% da renda e recomenda avaliar bem no que o dinheiro será investido. “A decisão não pode ser tomada apenas porque a escola é conceituada. É preciso considerar o perfil social e financeiro da família.”
Parte desses gastos pode ser entregue à própria escola em que a criança estuda. Uma boa escola custa até R$ 3 mil por mês, mas essa despesa permite evitar outros gastos. “A maioria dos colégios oferece aulas de idiomas além do inglês, de esportes e de outras atividades”, diz José Augusto de Mattos Lourenço, presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep). “Os pais podem economizar na locomoção, nas matrículas e no material dos outros cursos.”
Melhorar o inglês: Ricardo e Simone vão passar seis meses na Austrália para ganhar fluência na língua.
“Inglês de turista não serve na vida profissional”, diz ela
Tão importante quanto o inglês, o esporte tornou-se outra prioridade. “O treinador incentiva as crianças a estabelecer e a cumprir metas”, diz a esteticista Maria José Ebesui, 53 anos, que matriculou seu filho Felipe Jundi Ebesui, 11 anos, na escolinha do São Paulo Futebol Clube.
Felipe pratica esporte desde os 4 anos e também estuda inglês numa rede onde as mensalidades são de R$ 150. Em alguns casos, o investimento dos pais pode transformar-se na profissão dos filhos.
Colega de Felipe, Guilherme Menezes da Silva, 14 anos, quer jogar futebol profissionalmente. A mãe dele, Sandra Menezes da Silva, 47 anos, gasta R$ 1,3 mil por mês com a formação de Guilherme, incluindo a escola e o curso de computação.
O estudo de idiomas tem de ir além dos bancos escolares. É preciso adquirir fluência e ampliar o vocabulário. “Inglês de turista não serve na vida profissional”, diz a estudante de gestão ambiental Simone Omori, de 23 anos.
Férias no frio: o estudante de engenharia Guilherme Bonfitto vai passar o mês de janeiro estudando inglês em Nova York.
” A imersão e a vivência no Exterior justificam o gasto”
Com alguma ajuda dos pais, ela e o namorado, Ricardo Honda, da mesma idade e que estuda engenharia mecânica, vão passar seis meses na Austrália estudando empreendedorismo e afiando o inglês.
Ao todo, o casal espera gastar R$ 11 mil com os dois cursos e mais R$ 14 mil com passagem, hospedagem e outros gastos. “Quero estudar coisas sobre empreendedorismo que não aprendi na graduação e também pretendo obter um vocabulário específico”, diz Simone. Ricardo vê o curso como uma preparação para o MBA que quer fazer no futuro.
Omori e Honda sabem que pagariam bem menos se estudassem inglês sem carimbar o passaporte. Os cursos de idiomas no Exterior podem custar de R$ 2 mil a R$ 3 mil, o dobro do valor pago no Brasil.
Essa conta de multiplicar também vale para quem faz cursos de extensão universitária, como um MBA ou uma pós-graduação. No Brasil, um curso conceituado de 18 meses custa R$ 50 mil. Nos Estados Unidos, não sai por menos de R$ 100 mil.
Mesmo assim, a diferença compensa. Vivendo imerso no idioma, o aluno aprende mais depressa. “Quem estuda inglês por um ano no Exterior adquire o conhecimento e a fluência equivalentes às de seis anos de estudo no Brasil”, diz Igor de Oliveira, sócio da Superstudent, empresa especializada em intercâmbios para a Austrália.
Sem carimbar o passaporte: o executivo Gustavo Gândara está cursando um MBA executivo em São Paulo.
“Estudo sem perder o contato com o mercado de trabalho”
Esse raciocínio também vale para a extensão universitária. Segundo o headhunter Carlos Eduardo Altona, os cursos no Exterior existem há mais tempo que os brasileiros, por isso são mais reconhecidos e mais adequados ao mercado. No entanto, ele adverte que embarcar trazendo um diploma na mala não garante um emprego ao desembarcar. “Um curso no Exterior é um bom diferencial competitivo, mas é um investimento de longo prazo”, diz.
Por isso, na hora de decidir, é preciso avaliar se a despesa compensa e considerar outros gastos como transporte, hospedagem, alimentação, burocracia e, no caso de cursos mais longos, o afastamento do trabalho.
Foi o caso do estudante de engenharia mecânica Guilherme Bonfitto, 23 anos, que sabe que vai passar muito frio em janeiro estudando inglês em Nova York. Bonfitto, que estuda no Mackenzie, está investindo o equivalente a R$ 2 mil. “A vivência no Exterior e a imersão no idioma justificam o gasto a mais”, diz.
Quem quer uma alternativa mais acessível pode fazer um MBA internacional sem carimbar o passaporte. Foi a decisão de Gustavo Gândara Meira, 33 anos, gerente comercial de uma empresa de eletrônica, que cursa um MBA executivo de Pittsburgh em São Paulo.
O curso dura 18 meses e quase todas as aulas são ministradas por professores americanos em São Paulo. “Não gasto com passagem, hospedagem e alimentação, pois continuo morando em São Paulo, e o currículo permite que eu continue trabalhando”, diz Meira, que investiu US$ 45 mil no curso. “Também considerei que manter meu contato com o mercado de trabalho aqui é uma grande vantagem.” O dólar baixo ajudou na decisão. “Ficou muito mais barato.”