10/11/2010 - 21:00
Eram 21h33 do domingo 31, quando a presidente eleita Dilma Rousseff apareceu pela primeira vez após a vitória. Agradeceu aos eleitores e disse que irá corresponder à expectativa dos brasileiros, antes de sair em disparada rumo à festa da vitória. Ao lado dela, havia apenas uma pessoa: o ex-ministro Antônio Palocci, que já desponta como homem forte do futuro governo. No primeiro mandato de Lula, Palocci foi a cura encontrada pelo presidente Lula contra a febre especulativa dos financistas que temiam medidas econômicas heterodoxas, como a moratória da dívida externa.
À sombra de Dilma: na campanha, Palocci foi quem esteve mais próximo dela
Um dos gestores de fundos mais poderosos e influentes do mundo, Mohamed El-Erian, presidente da americana Pimco, só manteve as aplicações em títulos brasileiros depois de se encontrar pessoalmente com o então coordenador da campanha de Lula, que defendia a manutenção dos três pilares econômicos do Plano Real: responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e regime de metas de inflação.
“A mão firme de Palocci e sua ligação com Lula nos deram a confiança para fincar raízes no Brasil”, revelou El-Erian. Hoje, ninguém mais teme mudanças radicais na economia brasileira, mas Palocci ressurgiu e continua necessário – talvez até na Casa Civil.
Durante a campanha eleitoral, o ex-ministro da Fazenda fez a ponte entre a candidata Dilma e os donos do dinheiro. Com sua ajuda, foram levantados mais de R$ 180 milhões, utilizados para financiar as despesas com propaganda e transporte de Dilma e sua equipe.
Vista por muitos analistas como alguém à esquerda de Lula e com tendências estatizantes, Dilma ainda suscita alguma desconfiança dos mercados. “É verdade que ela é uma radical de esquerda?”, perguntou Fernando Garcia-Chacon, vice-presidente da consultoria Jones Lang LaSalle, a um grupo de jornalistas brasileiros, em Cartagena, na Colômbia.
A pergunta foi feita durante um seminário no qual o Brasil foi considerado destino top dos investimentos na América Latina. A ex-guerrilheira não assusta quem conhece melhor sua trajetória no Executivo e o País como um todo, mas, como a economia é feita de expectativas, Palocci voltou ao papel de avalista da estabilidade.
Banqueiros como José Olympio Pereira, do Credit Suisse, e Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, foram convencidos por ele de que Dilma não irá aumentar de maneira irresponsável as despesas do governo.
“Ela não é gastadora. É uma eficaz gestora de investimentos”, repetiu o médico sanitarista em encontros com pesos-pesados do PIB. Com palavras tranquilizadoras sobre a necessidade de fazer uma reforma tributária e reduzir a dívida pública para permitir a queda adicional dos juros, Palocci faz também a cabeça de líderes de entidades de classe em vários setores, como o siderúrgico, de construção, têxtil e de calçados. Parece discurso de ministro da Fazenda, mas não há certeza de que este será seu papel no Ministério de Dilma.
Na bolsa de apostas de Brasília, Palocci é visto como um provável ministro da Casa Civil. A segunda hipótese seria ministro da Saúde. Segundo Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara dos Deputados, Palocci poderia assumir qualquer cargo, pois é um hábil construtor de pontes dentro e fora do Congresso: “Ele tem papel político de articulação.
Não entra em disputas, em divididas.” Duas pessoas irão definir a atividade de Palocci nos próximos quatro anos, além dele mesmo: Dilma e Lula. A primeira será a dona da caneta presidencial e pretende usá-la para demonstrar luz própria no cargo, mas terá de lidar com a enorme influência do segundo em seu próprio governo.
Lula tem cacife suficiente para bancar seu protegido (como fez com Dilma) em qualquer posição. Em tese, ele poderia patrocinar sua ida para o principal ministério, a Casa Civil. Mas não há garantia de que isso vá acontecer.
A Casa Civil é o ponto nevrálgico de qualquer governo e, no modelo atual, coordena e cobra resultados dos outros ministérios. Palocci se tornou muito próximo da candidata do PT ao longo da campanha, mas sua forte presença poderia ser vista como um sinal de fraqueza de Dilma, que, depois de vencer nas urnas, precisa provar que manda de fato em seu governo.
Daí a probabilidade de uma posição estratégica para Palocci na pasta da Saúde. É bom lembrar que o economista José Serra, opositor de Dilma, ganhou popularidade no governo Fernando Henrique no papel de ministro da Saúde, cargo menos sujeito a ataques do que a Casa Civil e a Fazenda.
Se for para a área social, o médico sanitarista poderá superar de vez o desgaste em sua imagem em razão do escândalo do caseiro Francenildo Costa, que o derrubou, e credenciar-se para a futura sucessão de Dilma em 2014. As cartas estão na mesa e Palocci, certamente, é um curinga.
Colaborou Guilherme Queiroz