Os solavancos de 2016 cobraram um preço elevado dos gestores de fundos multimercados. Na média, os 268 fundos analisados nesta edição renderam 13,25% em 12 meses até o dia 30 de novembro, menos do que o rendimento dos juros nesse período. A possibilidade de destinar os recursos a diversos tipos de ativos beneficiou quem apostou nas ações e puniu quem optou por aplicações vinculadas à taxa de câmbio.

Não por acaso, três dos cinco fundos que apresentaram o melhor desempenho, medido pela relação entre risco e retorno, foram aqueles que apostaram no crédito privado. Mesmo assim, chegar ao lucro foi tarefa árdua. O aumento da inadimplência tornou mais espinhosa a missão de Leonardo Calixto, sócio da Empírica Investimentos. Com mais de R$ 65 milhões sob sua gestão, coube ao time capitaneado por ele a escolha das apostas dos 12 Fundos de Direitos Creditórios (FDICs) que compõem o fundo Empírica Lotus Multimercado, um dos melhores da categoria Estratégia Específica. “Para driblar o risco, optamos pela diversificação”, diz Calixto.

Entre as operações pinçadas estão as de cartão de crédito, de home equity, de crédito consignado, de varejo, recebíveis de pequenos e médios varejistas, empréstimos imobiliários, entre outros. “Quase todas as operações de crédito que um banco opera estão em nossa carteira. São cerca de 350 mil devedores.” A escolha criteriosa ajuda a explicar o ganho de 16,76% nos últimos 12 meses. “Não tivemos nenhum problema de inadimplência.” Mas para chegar a esse resultado, a equipe levou quase quatro meses para montar as posições. “Metade das operações foram descartados por riscos operacionais”, diz ele.

Ao longo de 2016, Calixto reduziu o percentual de títulos corrigidos pela inflação, que caiu para 19% da carteira, mantendo o restante principalmente em papéis ligados aos juros de mercado, tanto pré quanto pós-fixados. Já o fundo Valora Guardian, da asset Valora, com R$ 2,7 bilhões sob gestão, investe em operações pulverizadas com garantias reforçadas. “Eliminamos o risco binário de nossa carteira”, diz Diego Coelho, responsável pela área de crédito e de Renda Fixa da Valora. “Esse foi um ano difícil e adotamos uma postura ainda mais conservadora dadas às incertezas da recuperação da economia. Apesar das perspectivas de melhora, as empresas ainda seguem muito endividadas.”

Os prognósticos para 2017 são incertos e dependerão de fatores alheios ao mercado. “O caminho para o otimismo passa pela estabilidade fiscal, o que poderia elevar o Ibovespa para perto dos cem mil pontos nos próximos anos. Mas o efeito inverso, a deterioração, também poderia fazer o principal índice da bolsa brasileira despencar aos 30 mil pontos de 2008”, diz João Braga, gestor de renda variável da XP Investimentos. “Depois de abril, quando os cenários internos e externos estiverem mais claros, teremos como fazer novas previsões.” Já Coelho, da Valora, avalia que a economia real permanecerá na convalescença em 2017. Por isso, sua estratégia de alocação segue defensiva. “Continuaremos a focar em ativos mais resilientes às intempéries do mercado”, diz ele.

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