05/07/2013 - 21:00
Enquanto o Brasil está sendo inundado por produtos fabricados na China, uma empresa do interior paulista resolveu fazer o caminho inverso, invadindo as ruas e as praias do país asiático. Até o final do mês, o grupo Amazonas, de Franca, no interior de São Paulo, cujas vendas somaram R$ 450 milhões em 2012 e que atua na produção de solados e acessórios para o setor calçadista, inaugura a 15ª unidade de sua rede Amazonas Sandals naquele país, a qual começou a ser instalada há apenas um mês e incluirá a capital Pequim. O portfólio das lojas é composto basicamente de chinelos flip-flop, similares às clássicas Havaianas, da Alpargatas, e Ipanema, da Grendene.
Apelo verde: para o diretor Ariano Novaes, sustentabilidade
é uma vantagem competitiva da marca
O roteiro de expansão já incluiu Rússia e Filipinas. Para caminhar a passos largos no Exterior, o grupo apostou em parceiros locais, que atuam no sistema de franquia, e em modelos com visual moderno e colorido. São itens que agradam aos asiáticos, em particular aos chineses, que têm um grande apetite por marcas estrangeiras. E isso ficou evidente logo na inauguração da primeira unidade, na cidade de Guangzhou. “Na abertura da loja, em junho, foram comercializados 870 pares de chinelos”, afirma Ariano Novaes, diretor de marketing e novos negócios da Amazonas. “Isso nos trouxe a certeza de que estávamos no caminho correto.”
Até o final do ano, o roteiro traçado pela empresa, fundada em 1947 pela família Pucci, no polo calçadista paulista, incluirá, além das cidades chinesas, as belas praias de Sydney, as congestionadas calçadas de Manhattan e as alamedas floridas dos parques de Paris.De certo modo, sua trajetória vem sendo facilitada pelo fato de o grupo ser um dos patrocinadores da Fifa, na Copa do Mundo de 2014, o que aumenta o grau de exposição global. Os calçados alusivos ao evento estão saindo das linhas de produção e serão apresentados às redes varejistas daqui e do Exterior, durante a Feira Internacional de Calçados e Acessórios (Francal), que começa na terça-feira 9, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo.
Brasilidade: decoração das lojas valoriza aspectos da cultura brasileira. A Amazonas Sandals
conta com filiais na Rússia e nas Filipinas
Em linhas gerais, a ambição do grupo Amazonas é seguir os passos da Alpargatas, que conseguiu transformar a Havaianas, um calçado básico e de pouco apelo aos olhos dos brasileiros, em um produto cult lá fora. “A virtude da Havaianas foi transformar a sandália flip-flop em um acessório de moda”, diz a especialista em varejo Heloisa Omine, professora da pós-graduação em comunicação com o mercado da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo. “E esse fenômeno acabou abrindo espaço para que marcas como Ipanema e Amazonas tentassem seguir a mesma trilha.” Lançada há menos de dois anos, a Amazonas Sandals é vendida por um valor intermediário entre Havaianas e Ipanema.
Para atrair os consumidores jovens e os engajados, brasileiros e estrangeiros, a fabricante paulista apostou em atributos como sustentabilidade. A matéria-prima provém de borracha descartada e os chinelos são biodegradáveis: eles se decompõem em até cinco anos após o descarte. “São diferenciais que usamos como apelo de venda no Exterior”, afirma Novaes. Trata-se de um ponto positivo, de acordo com o diretor-executivo do Instituto Brasileiro da Moda (IBModa), André Robic. “A sustentabilidade é um componente consagrado e muito desejado na moda”, diz. “Ainda mais se tratando de produtos de menor valor agregado.” A caminhada em território chinês já consumiu US$ 3 milhões, sem contar os investimentos feitos pelos parceiros locais.
Hoje, a companhia fabrica 22 mil pares por dia e pretende elevar esse número para 50 mil, a partir de setembro. Uma parte deles está sendo ofertada nas lojas multimarcas do Brasil e nas nove lojas próprias que o grupo abriu em cidades como Santos, Campinas (ambas no Estado de São Paulo), Belo Horizonte e Recife. Apesar de todo barulho feito em torno dos chinelos, esses acessórios representam apenas 17% de seu faturamento. Nessa conta estão a linha Amazonas Sandals e os modelos feitos sob encomenda para grifes como Colcci, Mormaii e Planet Girls. O restante é obtido com insumos para os setores calçadista e moveleiro, como adesivos, solados e colas, além da divisão de logística controlada pelo clã Pucci.