Ao anunciar o plano de negócios da Petrobras para os próximos cinco anos, na terça-feira 20, o presidente da estatal, Pedro Parente, fez duas promessas importantes. A primeira, é que a petroleira não será uma empresa menor no setor. “A Petrobras será uma empresa bastante relevante no cenário internacional”, disse Parente, a jornalistas. A segunda, feita durante teleconferência com analistas horas depois da divulgação do plano, é a de manter os preços praticados pela companhia em paridade com o mercado internacional. “Nosso plano não considera precificação abaixo da internacional para todo o período”, afirmou o executivo.

As palavras de Parente animaram o mercado. No dia do anúncio, as ações ordinárias da empresa subiram 1,07% e as preferenciais, 3,44%. Não é para menos. Aumentar a produção em um cenário de dívidas em alta será um grande feito, se alcançado, e a política de preços equivocada e adotada pelas gestões anteriores, de José Sérgio Gabrielli e Graça Foster, geraram perdas bilionárias à Petrobras. Na visão de analistas consultados pela DINHEIRO, o caminho apontado pelo comandante é o correto. Chegar ao objetivo é que, ainda, parece complicado.

Uma das principais dúvidas diz respeito à meta de produção estipulada. Segundo Parente, em campos nacionais, o objetivo é chegar a 2021 extraindo 2,7 7 milhões de barris diariamente. Este ano, a expectativa é de alcançar a marca de 2,14 milhões de barris por dia. “O grande ponto de interrogação é o quão arriscada é a meta de produção à luz do menor investimento”, afirmou, em relatório, o banco Credit Suisse. O plano anunciado na semana passada prevê um corte de 25% nos aportes, que devem somar US$ 71,4 bilhões. Para os próximos dois anos, isso não deve trazer nenhum problema.

Após 2018 será preciso refazer as contas. Segundo Luana Siegfried, analista da consultoria Raymond James, com esse nível de investimentos, o pré-sal teria de crescer 20% ao ano, a partir de 2017, para que os objetivos sejam atingidos. “A Petrobras tem o costume de apresentar metas plausíveis de curto prazo, mas ser excessivamente otimista no longo prazo”, diz Siegfried. Para elaborar o novo plano, Parente confiou em Nelson Silva, diretor de estratégia, contratado em junho. Ex-presidente no Brasil da British Gas, hoje controlada pela Shell, Silva é o responsável por revisar toda a estratégia da empresa.

Parente também está contando com a ajuda do consultor Vicente Falconi (leia mais aqui). O pano de fundo para esse esforço é o alto endividamento da companhia. Hoje, a dívida líquida da Petrobras corresponde a 4,5 vezes o seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Parente anunciou que pretende antecipar de 2020 para 2018 a meta de chegar a um endividamento equivalente a 2,5 vezes o Ebitda. Para isso, a empresa terá de acelerar a venda de ativos. O objetivo é levantar US$ 19,5 bilhões nos próximos dois anos.

A Petrobras pretende sair integralmente de setores como os de gás liquefeito (GLP), biocombustíveis, petroquímico e fertilizante. Entre os ativos a serem vendidos estão a Liquigás e os 47% de capital votante que a petroleira mantém na Braskem. Segundo a consultoria Eurásia, para concluir o plano, será fundamental a aprovação, pela Câmara dos Deputados, da nova legislação do pré-sal, que acaba com a obrigação da estatal ser a operadora única nos campos em que detém participação mínima de 30%. A votação deve acontecer no próximo mês.

Mas são os rumores sobre a nova política de preços que realmente mexem com os ânimos dos investidores. Segundo a corretora Coinvalores, após a divulgação do plano, a especulação era de que haveria uma redução do preço da gasolina e do diesel até o final do ano. Esse movimento pode gerar duas leituras: a de que se trata de uma ação populista do governo Temer, ou de que o objetivo é um alinhamento aos preços internacionais.

“A segunda justificativa começa a ganhar corpo”, afirma a corretora, em relatório. Gestões anteriores da petroleira também prometeram a paridade internacional no longo prazo, mas sofreram interferência da alta cúpula dos governos petistas. O que mudou? “A principal diferença é que, se quisermos mudar o preço hoje, nós mudamos”, disse Parente, quando questionado sobre essa questão.“O que fazemos é avaliar as condições do mercado, frequentemente.” É o que o mercado queria ouvir.

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