13/06/2014 - 20:00
Do aeroporto de Porto Seguro, na Bahia, são necessários uma hora e meia de carro, uma viagem de 30 minutos de balsa (cuja espera pode ser de outra meia hora) e mais 20 minutos até a chegada à paradisíaca concentração da seleção alemã, na Vila de Santo André, em Santa Cruz de Cabrália. Com 13 casas, o “Campo Bahia”, como é chamado, foi construído do zero pela federação alemã de futebol, em conjunto com investidores. Pelo caminho de ruas apertadas há praias, muita natureza e até índios, que foram recepcionar os jogadores, como se pode ver na foto acima.
No local em que o Die Mannschaft (o time, em português, como é conhecido o vencedor da Copa de 1990) se prepara, a única agitação fica por conta do coaxar dos sapos e dos zumbidos das muriçocas, na hora do pôr do sol. A mata fechada e alguns homens da Polícia Militar garantem a proteção à comitiva alemã. Essa foi uma das exigências de Oliver Bierhoff, ex-jogador e gerente da delegação alemã na Copa, para que o tempo de preparação pudesse ser bem aproveitado. Mas em meio a esse clima bucólico, onde nem o 3G funciona perfeitamente, a seleção europeia armou uma fortaleza tecnológica para conquistar seu quarto título mundial.
Uma câmera atrás do gol, duas laterais e uma panorâmica registram os treinos e os sensores captam cada movimento dos jogadores alemães. Dez minutos de toque de bola entre Philipp Lahm, Mario Götze, Bastian Schweinsteiger e sete companheiros, usando três bolas, geram sete milhões de dados. Toda essa informação é enviada a um servidor e analisada pela plataforma Hana, da empresa alemã SAP, maior desenvolvedora de software empresarial do mundo. As informações retornam em tempo real com um relatório contendo dados dos jogadores, como velocidade, batimento cardíaco, posicionamento no campo, número de passes errados e certos, entre outros.
Assista ao vídeo (em inglês):
“Quando eu era jogador, dormia no vestiário nas vezes em que o treinador passava longos filmes dos jogos”, disse à DINHEIRO Bierhoff. “Hoje as informações são bem mais dinâmicas e os jogadores não têm essa desculpa para dormir.” Cada jogador possui uma página dentro da plataforma desenvolvida pela SAP e a equipe técnica inclui vídeos e informações que acreditam que serão úteis para o atleta. “Eles estão bastante animados”, afirma Bierhoff. A plataforma da SAP foi pensada para ajudar a equipe do TSG 1899 Hoffenheim, que tem ligação com o empresário Dietmar Hopp, um dos cofundadores da SAP.
Em poucos anos, o modesto time chegou à Bundesliga, a primeira divisão da Alemanha, onde permanece há sete anos. Nesse tempo, a ferramenta evoluiu bastante, mas a versão usada pela seleção é muito mais completa, trabalhada por seis meses pela SAP e por Bierhoff. “Nós tínhamos necessidades que precisavam ser atendidas”, afirma o ex-jogador. “Hoje, ela nos entrega resultados e informações estratégicas.” A ferramenta da SAP não se limita a melhorar o desempenho dos atletas alemães. Os adversários também serão analisados pelo software.
“Antigamente, recebíamos do técnico papéis com dicas sobre os adversários”, diz Bierhoff. “Agora, enviamos informações para o iPhone dos jogadores.” A segurança também é importante – afinal, ninguém quer ser espionado pelos rivais nesta Copa do Mundo. Durante a conversa com a DINHEIRO, executivos da SAP brincaram, alegando que a NSA, que espionou empresas, governos e cidadãos ao redor do globo, não poderá acessar os dados e enviar para a seleção americana. “Todas as informações são enviadas e armazenadas em servidores na Alemanha”, diz Stefan Wagner, presidente da SAP Labs para a América Latina.
A Copa do Mundo pode ser longa ou curta para a Alemanha. Mas a SAP espera que sua ferramenta tenha vida longa. O produto criado em parceria com a seleção alemã será a base da diretoria de esportes e entretenimento da empresa. Eles esperam fechar acordo com outros times de diversos esportes para a adoção da plataforma. A federação WTA, de tênis feminino, e a NBA, liga profissional de basquete dos EUA, já assinaram acordos para que os dados dos jogos sejam analisados pela SAP.
Confira o comentário de Oliver Bierhoff (em inglês):
Além disso, com o avanço de tecnologias vestíveis, como óculos e relógios inteligentes, além de outros sensores que podem ser acrescentados às vestimentas, a empresa pretende lançar aplicativos para monitorar o desempenho do dono do acessório inteligente em suas atividades físicas. Caso a seleção alemã vença a Copa do Mundo no Brasil, será um grande primeiro passo, especialmente em imagem, para a plataforma da SAP. Mas Gustavo Amorim, vice-presidente de marketing da SAP para a América Latina, garante que não vai pensar primeiro na empresa, ao menos neste caso. “Estou torcendo para o Brasil”, afirma ele. “Mas quero que a Alemanha chegue longe.”
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