20/05/2016 - 20:00
Entre dezenas de jornalistas, autoridades e esportistas que presenciaram em Lausanne, na Suíça, a transmissão da chama olímpica para uma lamparina que transportaria o símbolo máximo da Olimpíada para Brasília, no dia 2 de maio, estava um jovem de 20 anos, pouco conhecido entre os adultos, mas amado pelas crianças. Era o mineiro Marcos Túlio Matos Vieira, responsável pelo Authentic Games, o segundo maior canal de vídeo de jogos do Brasil, com 5,2 milhões de inscritos e um total de 2,04 bilhões de visualizações.
“Vai me marcar muito acompanhar de perto esse processo”, diz ele, que chegou a entrevistar até o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach. O vídeo que ele fez sobre esse evento, de dez minutos, postado no dia 5 de maio, teve 763 mil acessos até quinta-feira, 19. A participação de um representante da geração Youtuber em uma celebração histórica como esta mostra o grau de importância que garotos como ele alcançaram. O hobby de gravar vídeo enquanto jogam virou, para muitos, uma profissão.
É o caso do londrinense Pedro Resende, o Rezende Evil, de 19 anos. Seu canal possui 9,8 milhões de inscritos, com total de 2,26 bilhões de visualizações. Estima-se que o Rezende Evil tenha faturado R$ 1 milhão no ano passado. Por onde passa, multidões de garotos querem o autógrafo de Resende, que publica uma média de três vídeos por dia e até lançou um livro com as histórias que criou no mundo online por meio do Minecraft. Na mesma linha, segue Mikhael Limmyker, 18 anos, o Mike do canal Tazer Craft.
Ele chega a ganhar com seu parceiro Tarik cerca de R$ 40 mil ao mês com os vídeos no YouTube, fora os recursos que recebe de uma loja que vende camisetas e suvenires da dupla. Andrei Soares, 27 anos, o Spok, dono do canal The Creeper Oficial, com 1,5 milhão de inscritos, começou a ganhar dinheiro um ano após lançar o canal, em 2012. “Eu era roadie (ajudante de palco) de banda. Quando meu canal deu certo, larguei tudo”, conta. Uma pesquisa da consultoria americana Newzoo e Nevaly estima que, em 2016, 500 milhões de pessoas verão vídeos de jogos online no mundo, sendo 58,5 milhões só na América Latina.
“Os youtubers viraram supercelebridades, tão ou mais importantes quanto o jogador Neymar”, diz Marcelo Tavares, CEO da Brasil Game Show, maior feira de videogame do País. A plataforma de vídeo, do Google, deve muito de seu sucesso à comunidade do videogame, mercado que faturou no ano passado no Brasil US$ 1,46 bilhão, segundo a Newzoo. “Dos 100 maiores canais do YouTube, 25 são de games”, diz Eduardo Brandini, diretor de parcerias do YouTube. Segundo ele, a audiência da plataforma no Brasil é a segunda maior do mundo, atrás apenas dos EUA.
Esse universo atraiu a atenção de empresas. A fabricante de computadores Dell, por exemplo, realizou campanhas de merchandising com pelo menos quatro youtubers. A última, para divulgar o lançamento de um novo laptop destinado à comunidade gamers, no início de maio, a empresa fechou contrato com o canal de Malena 010102, que possui 2,2 milhões de inscritos. “Os influenciadores gamers do YouTube são um importante público-alvo no Brasil”, diz Rosandra Silveira, diretora-executiva para Consumidor Final e Pequenas Empresas da Dell Brasil.
Em sua maioria, os youtubers são proibidos de comentar sobre valores, pois fecham contratos com empresas conhecidas como Multi-channels Networking (MCNs), que fazem a intermediação com empresas interessadas em merchandising. Dos quatro youtubers entrevistados pela reportagem, três são associados à BroadbandTV, do Canadá. “Atualmente a BBTV conta com mais de 40 mil parceiros mundialmente, dentre os quais mais de 4 mil são brasileiros”, diz Pedro Vasconcellos, especialista em desenvolvimento de audiência da companhia.
Apesar de não revelar o quanto ganha, Leon Oliveira Martins, 32 anos, responsável com sua esposa Nilce Moretto pelo canal Coisa de Nerd, com 4,2 milhões de inscritos, diz que está mais difícil ganhar dinheiro. Formado em Relações Internacionais pela PUC de Minas Gerais, Leon começou seu canal em 2010, quando fazia mestrado na Alemanha. E, a partir de 2011, com 3 milhões de views, começou a ganhar dinheiro e a sobreviver fazendo vídeos de jogos com viés científico. “Hoje tem que ter pelo menos 20 milhões de views para ganhar dinheiro”, afirma ele, que mora em Vancouver, no Canadá. Sua dica aos jovens é: priorize os estudos, pois ser youtuber consome tempo.