14/02/2014 - 21:00
Apesar de pagar salários acima da média do mercado e oferecer benefícios e bônus sedutores, as empresas digitais, especialmente na área de e-commerce, ainda têm dificuldades em encontrar mão de obra qualificada no Brasil. O e-commerce é um setor em constante transformação e evolução, e isso exige que os profissionais desenvolvam diversas habilidades para atuar no dia a dia. Além disso, o fato de ser uma área nova resulta na carência de profissionais experientes no mercado. Para resolver a questão, algumas empresas estão optando por qualificar e aperfeiçoar o potencial de seus funcionários dentro de casa mesmo. É o caso da Netshoes, maior site de artigos esportivos do País, que em julho do ano passado inaugurou a Universidade Corporativa Formação Netshoes.
De acordo com Rodrigo Nasser, diretor de tecnologia da empresa, existe um apagão de talentos na área digital no Brasil. “O objetivo da Universidade Corporativa é completar as competências técnicas dos profissionais que trabalham na Netshoes”, diz ele. Nasser conta que tem entrevistado pessoas do mundo inteiro, especialmente americanos e indianos, para selecionar novos membros do time. “Tenho uma vaga estratégica que não consigo preencher, para a qual é preciso ter uma mistura de conhecimento de marketing e desenvolvimento de tecnologia a fim de, por exemplo, criar mecanismos que aumentem a visitação no site”, diz Nasser, para quem, embora o conhecimento tecnológico seja importante, a experiência de varejo é um fator decisivo.
“Ao mesmo tempo, procuramos o profissional de marketing com conhecimentos estatísticos.” A questão vai além da formação universitária. “Por melhor que seja a preparação acadêmica, o mercado de e-commerce é muito amplo e tem um ciclo de atualizações constante, pois um site deve ter não somente bons produtos, logística eficiente e ótimo atendimento ao cliente, mas também precisa suportar picos muito concentrados de acessos, garantir a segurança dos dados e ter um bom desempenho”, afirma Ricardo Couto, sócio-responsável pela operação brasileira da Exceda, provedora de soluções de web performance.
Couto concorda com a necessidade de formar os funcionários dentro de casa. Assim, o profissional da área se torna polivalente em diversas disciplinas e está em constante aprendizado no segmento. A Exceda presta serviços para e-commerce de diferentes tamanhos, geografias e estágios de maturação. Por isso, busca gente que, além de entender dos serviços oferecidos pela empresa, tenha uma visão bastante ampla de mercado e dos desafios inerentes à indústria. “Mais do que ser especialista em uma linguagem de programação, o profissional precisa traduzir seus conhecimentos técnicos em soluções adequadas às necessidades do negócio”, diz Couto.
“Fora isso, como em qualquer área intensivamente tecnológica, a fluência do inglês é fundamental.” Há casos em que, dependendo da atuação digital da companhia, a carência de profissionais ainda é maior. Helen Menezes, gerente de recursos humanos do Mercado Livre, empresa de tecnologia que oferece soluções de comércio eletrônico para que pessoas e empresas possam comprar, vender, pagar, anunciar e enviar produtos por meio da internet, diz que, em função dessas áreas distintas, a contratação de bons profissionais se torna mais complexa. Segundo ela, foi preciso reinventar o RH para conseguir atender todas as unidades.
“Muitas vezes acabamos divulgando as novas vagas internamente”, diz. Com frequência o pessoal recrutado pelo Mercado Livre passa os primeiros 30 dias em processo de desenvolvimento através de cursos, palestras e conversas com os executivos da empresa. Ela explica qual é o perfil de profissional que procura: “É preciso ter aderência à nossa cultura, espírito empreendedor, saber trabalhar em equipe, gostar de ser desafiado e saber trabalhar com autonomia e responsabilidade”, afirma Helen. “Pode jogar videogame no expediente, mas resultado é resultado.”