Ao tomar posse no dia 1º de janeiro, Dilma Rousseff terá várias tarefas. Uma delas hercúlea: arrancar bilhões de barris de petróleo das profundezas do mar. O porte dessa tarefa já foi comparado à ida do homem à Lua nos anos 60 do século passado. Os desafios técnicos e a mobilização de setores produtivos terão um efeito multiplicador gigantesco sobre a economia brasileira.As estimativas mais conservadoras são de que o pré-sal tem 20 bilhões de barris de petróleo. O dinheiro para explorar essas reservas já está garantido. A Petrobras captou R$ 120 bilhões no mês passado, incluindo a venda inicial de ações e o lote suplementar, divulgado no início de outubro. Com isso, há musculatura financeira para bancar parte dos US$ 224 bilhões em investimentos previstos até 2014. 

 

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Cofre cheio: a capitalização bem-sucedida garantiu recursos para a exploração do pré-sal

 

“O governo brasileiro deixou claro que quer fazer o pré-sal acontecer para o País se tornar não só autossuficiente, mas também exportador de petróleo. Isso colocará a economia brasileira em outro patamar”, diz Eveline Gerck, sócia do fundo de investimentos americano AP International, que criou a empresa carioca Keyoran Oil & Gas através de um fundo de venture capital.

 

Obter o dinheiro é apenas parte dessa tarefa. Dilma também terá de vencer a desconfiança dos investidores quanto à capacidade da Petrobras de transformar esse capital em combustível. O petróleo já é explorado em terra em países como Nigéria, Estados Unidos, Angola, Tanzânia e Namíbia. 

 

No mar, ele é produzido no Golfo do México. Nenhum dos campos oceânicos de exploração está tão fundo no mar nem tão longe da praia. No Brasil, a profundidade das jazidas oscila entre 5 mil e 7 mil metros, em locais distantes até 350 quilômetros da costa. Até agora, as plataformas mais distantes ficavam a 150 quilômetros do litoral. O valor de toda a cadeia do pré-sal está em retirá-lo do fundo do oceano e transformá-lo em dinheiro”, diz Goret Pereira, coordenadora do núcleo de energia da FGV Projetos.

 

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Exploração no mar: a atividade que receberá a maior parte dos investimentos

 

Os investimentos devem chegar a US$ 600 bilhões em dez anos para toda a cadeia de produção, e uma fatia razoável desse capital vai para pesquisa em novas tecnologias – a atividade mais valiosa do século XXI. “O Brasil vai ter de formar novos cientistas para descobrir técnicas de exploração mais eficazes e com risco ambiental menor”, diz Antonio Carlos Porto Araújo, consultor de energias renováveis da Trevisan Escola de Negócios. 

 

Essa injeção de dinheiro e informação vai espalhar-se por uma cadeia de cerca de 30 mil fornecedores, todos ansiosos por desenvolver projetos para a empresa petrolífera. “A Petrobras terá de contratar empresas brasileiras para produzir componentes, o que vai desenvolver as empresas do setor”, diz Rachel Pinaud, sócia-especialista em óleo e gás do Tostes e Associados Advogados.

 

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A nova Petrobras, que nasce com o desafio do pré-sal, já é uma das gigantes mundiais. Hoje ela vale US$ 221,5 bilhões e ocupa o terceiro lugar em capitalização entre as companhias globais de energia, perdendo apenas para a americana Exxon Mobil e para a chinesa Petrochina, que valem US$ 314,6 bilhões e US$ 270,9 bilhões, respectivamente. 

 

Esse porte, porém, traz um risco para a economia brasileira: tornar-se excessivamente dependente de um único setor. “Privilegiar um setor específico costuma prejudicar outras atividades na economia”, diz Frederico Turolla, professor de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Fazer com que a Petrobras fique gigantesca sem tornar-se grande demais será, também, um dos desafios da presidente Dilma.