14/06/2016 - 18:00
O dia começa promissor para o alemão Matthias Brück, que comemora o pouco tempo gasto para percorrer o trajeto da sua casa até um luxuoso hotel na zona sul da capital paulista. Mesmo novato nas ruas de São Paulo, o executivo de 44 anos já aprendeu que encontrar o caminho livre pela frente é um acontecimento raro no tradicionalmente caótico trânsito paulistano. Desde que passou a morar na cidade, há cerca de um ano, as vias congestionadas não são o seu único desafio. Em julho de 2015, ele assumiu o comando da subsidiária brasileira da Porsche, a primeira da companhia na América Latina. Até então, a empresa atuava no País através de uma importadora, a Stuttgart Sportcar. À frente da operação, Brück tem a missão de encontrar novas rotas para acelerar o crescimento da montadora alemã no Brasil, em meio à instabilidade política e econômica local, e de seus impactos nas vendas do mercado automotivo.
Há cinco anos, quando a Porsche começou a desenhar a estratégia para desembarcar definitivamente no Brasil, o cenário era bem diferente. “A crise não era parte do nosso plano, mas já sabíamos que o mercado brasileiro vive de altos e baixos”, diz Brück. Ele destaca percalços como a desvalorização do real e a queda de confiança dos consumidores, mas ressalta que os projetos da empresa têm como norte o potencial em médio prazo do mercado local. “Estamos construindo nossa estrutura. Quando a retomada vier, estaremos preparados”, afirma. Na Porsche desde 2002, o executivo comandou os negócios da companhia na América Latina de 2009 a 2015, a partir de Miami.
Brück destaca o trabalho realizado pela Stuttgart Sportcar, que detém 25% na nova operação, mas observa que a operação direta no País traz uma série de vantagens. “Temos mais condições para negociar margens e encomendas com a matriz”, diz o executivo. Presidente da consultoria automotiva Jato Dynamics, Vitor Klizas entende que a escolha foi acertada e aponta outras vantagens, especialmente nos processos de importação, homologação e lançamento de novas versões dos carros da marca no País. “Os ganhos imediatos são a maior precisão e velocidade para identificar e atender às demandas específicas do mercado brasileiro”, afirma. Klizas acrescenta que a operação passa a ter acesso direto a uma expertise mundial na abordagem de vendas e na competição com rivais diretos do segmento de automóveis de luxo. “Um importador jamais terá essa experiência.”
O novo formato já começa a gerar bons indicadores. De janeiro a abril, a Porsche vendeu 246 unidades no Brasil, alta de 14,4% na comparação com o mesmo período em 2015. “É um bom número, ainda mais diante de uma queda de 10% nas vendas do mercado premium”, diz Brück. Ele atribui os resultados a algumas frentes. Após um ano, a montagem da equipe local está praticamente concluída. O time de 26 pessoas mescla executivos estrangeiros e brasileiros com passagens por operações da montadora no exterior. A expansão da rede de concessionárias é outro aspecto. Em maio, Recife foi palco da inauguração da sétima unidade da empresa no País. Até o fim do ano, estão programadas ainda as aberturas de novos Porsche Centers em Florianópolis (SC) e Campinas (SP).
A companhia também ampliou seu portfólio no Brasil, que inclui atualmente 5 modelos, em mais de 30 versões diferentes. A faixa de preço varia de R$ 307 mil a R$ 1,27 milhão. “Tivemos um aumento médio de preços no ano de 5% a 7,5%, mas isso diante de uma desvalorização de 47% do real”, afirma Brück. Uma das novidades foi a chegada da linha de entrada do esportivo 911 Carrera, um dos símbolos da marca, comercializada pela bagatela de R$ 509 mil. Até o fim do ano, a Porsche trará outros lançamentos para o mercado brasileiro, entre eles, um modelo híbrido do utilitário Cayenne e a nova versão do 911.
Os novos modelos serão apresentados no Salão do Automóvel, em novembro. O evento marcará também uma nova vertente da estratégia da montadora. Será a primeira vez que qualquer visitante – e não apenas convidados seletos -, poderá conferir de perto toda a linha da companhia. A Porsche está investindo na realização de iniciativas como test-drives com potenciais clientes indicados por concessionários. “A ideia é facilitar a experimentação do carro e tornar a marca mais acessível”, afirma Brück. “A Porsche é sim uma marca premium e exclusiva”, diz. “Mas isso não significa que ela precisa ser inatingível.”