03/05/2013 - 21:00
O mineiro Marcio Mello tem um currículo acadêmico e profissional invejável na área de energia. Graduado em geologia, ele possui doutorado em geoquímica molecular aplicada à exploração de petróleo pela Universidade de Bristol, da Inglaterra. Essas qualificações lhe ajudaram a trilhar uma carreira de prestígio nos 24 anos em que atuou na Petrobras, da qual se desligou em 2000. No setor privado, no entanto, essa bagagem não tem se mostrado suficiente para garantir o sucesso da petroleira HRT, que ele fundou em parceria com um grupo de técnicos, em sua maior parte ex-colegas na estatal, em julho de 2008.
Na baixa: promessas não cumpridas do CEO Marcio Mello arranharam a imagem da companhia
Nos últimos 12 meses, a empresa enfrentou uma enorme pressão dos acionistas, descontentes com seu rumo e o fato de a HRT ainda não ter descoberto petróleo. O movimento teve seu ápice no final de abril, quando o fundo americano Discovery Capital Management, dono de uma fatia de 6,1% do capital, liderou uma espécie de rebelião para exigir mudanças na gestão da empresa. O resultado prático veio na segunda-feira 29 com a inclusão de três nomes no conselho de administração da HRT, que passou de oito para 11 integrantes, por determinação dos sócios. Mello, que tem uma fatia de 3% do capital e é o CEO da companhia, saiu da presidência, mas conseguiu fazer seu sucessor o geólogo americano John Anderson Williot, ex-dirigente da Exxon.
“Fizemos o melhor para a empresa”, disse Mello em entrevista à DINHEIRO, na quarta-fera 1º. “A ampliação do conselho indica que os acionistas estão comprometidos com o futuro e o sucesso da HRT.” A tentativa de “rebelião” contou também com o apoio das americanas Southeastern Asset Management, controlada pelo americano Mason Hawkins, dono de uma fatia de 13,1%, e MSD Capital, que possui perto de 3% da petroleira brasileira e tem como um de seus sócios Michael Dell, presidente da empresa de computadores Dell. Juntas, elas administram ativos globais no valor de US$ 50 bilhões. “Acho que os investidores deveriam defender ainda mais a HRT”, disse Mello.
Na linha de frente: Mason Hawkins, dono de 13% da HRT, fez parte
da “rebelião” contra a gestão de Mello
O empresário negou que tenha sido derrotado ou que haja um clima de desconfiança em relação à sua capacidade de gerir a HRT, argumentando que todos os pontos votados na assembleia foram aprovados por unanimidade. Mello poderia ter ficado na presidência do conselho até o dia 1º de maio de 2014, quando entram em vigor as novas regras que regem as empresas listadas no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), proibindo a acumulação desse posto com o de CEO. O movimento dos minoritários acelerou sua saída do conselho. Pessoas que acompanharam o processo indicam que só prevaleceu o clima amistoso devido à percepção, por parte dos sócios, de que um confronto prejudicaria ainda mais a já combalida imagem da empresa.
Nos últimos 12 meses, os papéis da HRT caíram 60,3%, atingindo a cotação de R$ 4,35. “Se continuar não entregando resultados, o mercado seguirá penalizando a HRT,” diz o analista Pedro Galdi, especialista em energia da corretora SLW, de São Paulo. “Isso vale para todas as empresas do setor petrolífero.” Para ele, a tentativa dos acionistas em alterar o equilíbrio de forças é uma prática corriqueira nas grandes empresas. No caso específico da HRT, porém, o otimismo excessivo de Mello e algumas decisões consideradas controvertidas (veja quadro) acabaram pesando negativamente.
Atualmente, a principal área de exploração da HRT, tocada em parceria com a anglo-russa TNK-BP, está localizada na Bacia do Solimões, na Amazônia. Ali já foram descobertas diversas jazidas de gás natural, mas nada de petróleo. Para ampliar suas chances de sucesso, a HRT está furando poços na costa da Namíbia e se credenciou para a 11ª rodada de licitação de área de exploração, que a ANP realiza nos dias 14 e 15 deste mês. Mello garante que o R$ 1,1 bilhão que a empresa possui é suficiente para tocar os projetos previstos para o período 2012-2014. “Ainda vão sobrar R$ 200 milhões no caixa da empresa”, diz. Mas, e o petróleo? “Isso é uma questão de tempo,” afirma Mello.