Quando começou a pensar nas trocas que faria para substituir os ministros que vão disputar eleição neste ano, a presidenta Dilma Rousseff sabia que teria dificuldade para acomodar todos os partidos aliados. Com uma base mais ampla, de legendas que se formaram justamente para buscar o apoio federal, haveria vários candidatos para cada vaga. A surpresa foi a dificuldade em preencher um posto que, em governos anteriores, já foi ocupado por grandes personagens do mundo empresarial. Na quinta-feira 13, a presidenta confirmou a nomeação, como interino, do economista mineiro Mauro Borges para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). 

 

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Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi) desde 2011, Borges foi responsável pela criação de programas como o Plano Brasil Maior, com foco em desonerações, e Inovar Auto, de estímulo à produção nacional de veículos. Antes de aceitar o nome indicado pelo ex-titular Fernando Pimentel, que deixou o posto para se candidatar ao governo de Minas Gerais, Dilma tentou retomar a tradição da pasta, responsável justamente por fazer a ponte entre as demandas do setor produtivo e o Palácio do Planalto. No fim dos anos 1990, no governo Fernando Henrique Cardoso, o posto foi ocupado por Alcides Tápias, então presidente do Grupo Camargo Correa. 

 

Em 2003, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou Luiz Fernando Furlan, que na época deixou a presidência do Conselho da Sadia e foi fundamental para consolidar a aceitação do novo presidente no meio empresarial. Neste último ano de governo, Dilma tentou retomar um diálogo mais próximo com o empresariado. Não conseguiu. Convidou para o cargo o presidente do grupo têxtil Coteminas, Josué Gomes da Silva, filho do ex-presidente José Alencar. Mas ele decidiu continuar em Minas e disputar uma vaga no Senado, seguindo a carreira política do pai. Dilma tentou então o presidente do Conselho de Administração da BRF, Abilio Diniz, que preferiu permanecer no mundo corporativo a se instalar na Esplanada dos Ministérios. 

 

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Maurílio Biagi, da Maubisa: ”A comunicação do governo deixa muito

a desejar, tanto com a sociedade quanto com o setor produtivo “

 

Dilma também não teve sucesso em outra alternativa, dessa vez com apelo aos empresários de menor porte: transferir para o MDIC o ministro da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos. A recusa de tantos empresários a um cargo que já foi um dos mais cobiçados do governo evidencia duas situações. Uma, de ordem mais prática, envolve o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Como o ministro do Desenvolvimento é também o presidente do Conselho de Administração do banco de fomento, suas empresas ficariam automaticamente impedidas de fazer contratos com a instituição. Para muitas companhias, abrir mão dos juros subsidiados representa um aumento considerável de custos. 

 

De acordo com o próprio BNDES, 80% das mil maiores empresas brasileiras têm operações com o banco. Entre 2012 e 2013, os contratos da Coteminas somaram R$ 91 milhões, e os da BRF, R$ 812 milhões. O outro empecilho é a percepção, cada vez mais disseminada entre os empresários –mesmo entre os que têm boas relações em Brasília – de que este governo não é aberto ao diálogo. “A Dilma recebe a gente, mas não nos ouve”, reclamou à DINHEIRO, no ano passado, um dos maiores banqueiros do País. Nos últimos meses, a situação não melhorou. Ao contrário. No domingo 9, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o empresário Pedro Passos, copresidente da Natura e presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), reclamou que a falta de direção na economia gera insegurança no meio empresarial e atrapalha os investimentos. 

 

“O clima de confiança do empresariado não existe, acabou”, disse Passos. Ele foi criticado por Pimentel, mas defendido por Gomes da Silva, também conselheiro do Iedi. “Ele fez críticas de assuntos que se discutem lá dentro”, afirmou, referindo-se à entidade que reúne os maiores empresários do País. A falta de diálogo é uma queixa constante. “A comunicação do governo deixa muito a desejar, tanto com a sociedade quanto com o setor produtivo”, diz Maurílio Biagi, da Maubisa. O empresário integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, criado por Lula em 2003 para debater os problemas do País e pouco acionado e desprestigiado no governo atual. Num momento em que tem de convencer a iniciativa privada a tirar seus planos de investimento do papel, essa falta de entendimento não ajuda em nada e afasta os grandes nomes do PIB da Esplanada dos Ministérios.

 

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