A ameaça de populismo ronda a economia e pode agravar os sinais de desaquecimento. Os chamados pactos do governo para resolver problemas estruturais nas áreas de saúde, educação e transporte têm um preço e podem descambar para a irresponsabilidade fiscal e comprometer ainda mais a credibilidade da administração Dilma junto ao mercado. O lado inverso dessa moeda é ainda mais nefasto. A alternativa de aumentar a carga fiscal para fazer frente às despesas extras – cujos cálculos ultrapassam os R$ 50 bilhões – soa como uma bofetada numa sociedade que já paga uma das mais altas taxas de impostos do mundo. É inviável e descabida de qualquer justificativa. Por esse caminho certamente a equipe econômica do ministro Mantega vai parar num beco sem saída. 

 

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As duas possibilidades – o investimento nos pactos e a criação de arrecadação nova – foram, mesmo assim, colocadas à mesa pelo ministro e tudo indica que estão sendo analisadas. A verdade é que, para fazer frente ao enorme déficit social, a opção mais lógica, e esperada por todos, está na ponta dos cortes dos gastos em custeio. Há uma máquina pública monumental que precisa ser urgentemente enxugada. O próprio ex-presidente Lula teria sugerido a Dilma a eliminação de alguns dos 39 ministérios que hoje compõem sua estrutura de poder. Na gestão lulista o número de pastas já havia aumentado de 24 para 37, sempre na intenção de atender às ambições da base aliada. 

 

Essa política do toma lá dá cá incrementou sobremaneira a conta. Hoje a despesa com a burocracia estatal ultrapassa impressionantes R$ 600 bilhões. No universo dos 39 ministérios, há milhares de funcionários e servidores terceirizados engrossando o caldo do dispêndio com salários, benefícios e aposentadorias generosas. Nada compatível com os apelos de austeridade levantados pelas ruas para a gestão do dinheiro público. O povo brasileiro realmente quer e tem direito a melhorias. Essa é uma promessa secular de políticos que – sai governo, entra governo – segue em discussão com pouco resultado prático. Mas o fato é que ela não pode acontecer na base do populismo barato, que traz dividendos eleitorais à custa da implosão do caixa da viúva.