19/10/2011 - 21:00
A expressão polo industrial nem sempre rima com gestão ambiental. Portanto, à primeira vista, poderia parecer incoerente ilustrar uma reportagem sobre sustentabilidade com a foto do complexo de Camaçari (BA), a 50 quilômetros de Salvador. Afinal, trata-se do maior complexo integrado do Hemisfério Sul, onde estão instaladas unidades de produção de mais de 90 empresas químicas, petroquímicas e de outros ramos de atividade, como a indústria automotiva, de celulose, metalurgia de cobre, têxtil, bebidas e serviços, com faturamento anual estimado em US$ 15 bilhões. Lá, estão instaladas empresas como a petroquímica Braskem, do grupo Odebrecht, e a montadora Ford. Para se ter ideia de sua dimensão, basta saber que a fabricação de produtos químicos e petroquímicos de Camaçari corresponde a mais da metade do que é consumido no País, de acordo com dados do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic). Com esse porte, não é surpresa que a geração de efluentes líquidos e resíduos sólidos esteja entre as maiores do País.
A todo vapor: resíduos sólidos e efluentes líquidos das indústrias de Camaçari vão ser reaproveitados pelo Cita (destaque)
Mas esse cenário pode começar a mudar. A Cetrel, companhia que tem entre os seus acionistas o governo do Estado da Bahia, a Braskem e outras empresas do complexo industrial, inaugurou o Centro de Inovação e Tecnologia Ambiental (Cita) em agosto. Com investimentos de R$ 65 milhões, o Cita quer transformar o que hoje é um problema em mais uma fonte de renda para a região. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil perde cerca de R$ 8 bilhões por ano deixando de reciclar resíduos. “Não há limites para as inovações sustentáveis”, afirma Ney Silva, presidente da Cetrel, empresa criada em 1978, junto com o Polo de Camaçari, para prestar serviços de monitoramento ambiental. “Precisamos de informações que só um centro de pesquisa voltado exclusivamente ao assunto poderia nos fornecer.”O Cita se dedicará a estudar a fundo a cadeia de geração de resíduos e todos os materiais incluídos no lixo industrial.
O empreendimento atuará para três finalidades: (1) recuperar substâncias e espécies químicas preciosas, tais como ouro, prata e outros metais nobres, (2) utilizar os resíduos como matéria-prima e (3) desenvolver processos que amenizem os impactos ambientais causados pelas indústrias. Com base nessas áreas, a empresa já mira alguns projetos. Os principais são os de reaproveitamento de enxofre, produção de madeira plástica e desenvolvimento de novas substâncias que possam ser usadas em materiais de pavimentação. Para isso, além dos estudos, a Cetrel vai instalar fábricas-piloto que possam colocar todas as descobertas em prática. Mas não faz parte dos planos da companhia explorar o mercado diretamente. “Queremos desenvolver tecnologias para licenciar empresas parceiras”, diz Alexandre Machado, líder de desenvolvimento e inovação da Cetrel.
Ney Silva, presidente da Cetrel: ”Não há limites para as inovações sustentáveis”
Com isso, o executivo estima que o retorno dos R$ 65 milhões investidos na unidade de pesquisa aconteça em cinco anos. Segundo Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a empresa está investindo em pesquisa em um momento muito propício. Em agosto de 2010, foi sancionada, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos, que responsabiliza as empresas pelo recolhimento de produtos descartáveis. “O lixo virou uma excelente oportunidade de negócio para quem está disposto a desenvolver novos produtos”, diz Marina. Segundo ela, a lei só entrará em vigor em 2013, o tempo ideal para que a Cetrel esteja com um bom portfólio de soluções.