25/04/2012 - 21:00
Nos últimos 16 anos, a subsidiária brasileira da General Motors (GM) dominou, mês após mês, o concorrido mercado brasileiro de picapes, com uma fatia em torno de 30%, seguida pela Hilux, da japonesa Toyota, com 25%. Duas honrosas exceções ocorreram em janeiro e fevereiro deste ano, quando a GM foi ultrapassada pela arquirrival. A perda momentânea da dianteira deveu-se à paralisação de algumas fábricas que estavam sendo preparadas para produzir os novos modelos, inclusive a versão da S10 que, da anterior, manteve apenas o nome. Com um visual estiloso, a picape é parte do investimento de R$ 5 bilhões, realizado no período 2008-2012, que inclui a renovação integral de sua linha. Ela já mostrou a que veio ao recuperar a dianteira desse nicho em março.
No retrovisor: Munhoz, vice-presidente da GM, espera que a concorrência continue comendo poeira.
Mais do que garantir o topo à GM, a S10 é parte de um projeto mais amplo, que transforma o Brasil em centro de desenvolvimento mundial de veículos da marca. Esse é o segundo modelo global desenvolvido no mercado brasileiro. O primeiro foi o sedã Cobalt, em novembro do ano passado, que deve ser exportado para mais de 40 países. A picape S10, por exemplo, já está sendo produzida na fábrica da Tailândia e a unidade brasileira pretende vendê-la, inicialmente, para os demais países da América do Sul. “O Brasil conquistou status e hoje abriga um dos cinco centros de desenvolvimento global da empresa”, afirma Marcos Munhoz, vice-presidente da GM. Com a nova S10, a direção da montadora americana espera também corrigir um problema da versão anterior, um veículo talhado para ser utilizado predominantemente como utilitário e em terrenos adversos.
No entanto, desde 1995, ano de seu lançamento, os hábitos dos consumidores mudaram. As picapes deixaram de ser um objeto do desejo apenas dos moradores do campo e ganharam as ruas das grandes cidades. “A velha S10 não transmitia o glamour que esse consumidor busca”, diz Munhoz. “As novas versões atendem a esse quesito.” A trilha percorrida pela GM, de desenvolver localmente modelos globais, também está sendo seguida, em maior ou menor escala, pelos seus concorrentes. Um deles é a Ford. Na semana passada, a montadora fez a apresentação mundial do Novo EcoSport, em Salvador (BA). O evento foi simultâneo ao ocorrido no Salão do Automóvel de Pequim.
Criado em 2003 com a ambição de ser um jipe urbano, o EcoSport se tornou o líder da categoria de utilitários esportivos, mais conhecida pela sigla SUV. Desde então foram vendidas 700 mil unidades na América do Sul, o que o credenciou a se tornar o primeiro veículo feito no Brasil a integrar o projeto global One Ford. Esses movimentos comprovam a melhoria no status das montadoras instaladas no Brasil aos olhos da matriz. Trata-se de resultado direto do amadurecimento do mercado local. No período 2000-2011, a produção de automóveis e comerciais leves mais que dobrou, saindo de 1,5 milhão de unidades para 3,4 milhões.
“O Brasil reúne as condições técnicas para se transformar em um centro de desenvolvimento de produtos automotivos”, afirma o consultor Wim van Acker, sócio da consultoria americana The Hunter Group, especializada no setor. A pioneira nessa trilha foi a Volkswagen, em 2003, com o lançamento do Fox. O jipinho, inicialmente batizado de Tupi, foi concebido pelo departamento de engenharia da fábrica de São Bernardo do Campo (SP). Em novembro do ano passado, foi a vez de a italiana Fiat mostrar sua aposta global “made in Brazil”. O Novo Palio, que começou a ser vendido em novembro, consumiu R$ 1 bilhão e hoje é produzido em Betim (MG) e na fábrica situada em Córdoba, na Argentina.