02/09/2022 - 1:20
Filho, não entre na piscina”. A advertência seria normal se partisse de qualquer mãe preocupada com a segurança de uma criança pequena que não sabe avaliar a profundidade ou a temperatura da água. Mas é cada vez mais comum ouvi-la como alerta para um cão. Embora os especialistas usem o termo tutor para se referir a quem possui animais domésticos, muitos preferem ser chamados de ‘pais de pets’. Esse comportamento cresce em paralelo a um mercado em ascensão: o de serviços e produtos premium para animais domésticos. De acordo com a Abinpet, o movimento do setor este ano será de R$ 36 bilhões. Ainda que a maior parte da despesa seja realizada pela classe média, 1% vai para o segmento de alto luxo.
Integram esse universo tanto grifes que oferecem acessórios e roupas, quanto empresas focadas em produtos e serviços voltados para o bem-estar animal. De olho em um filão promissor, as marcas passaram a desenvolver produtos específicos para diferentes tipos de pelo, pele e raça, usando matérias-primas similares as dos tratamento de beleza dos salões mais sofisticados. Spas, hotéis e clínicas veterinárias têm se especializado em atender clientes de maior poder aquisitivo. Em pet shops, há desde tosas ao custo de R$ 500 até casacos de R$ 3,6 mil da grife Fendi especialmente desenhados para deixar o amigo de quatro patas na moda.

A Fendi, claro, não está sozinha nessa onda. Marcas como Gucci, Louis Vuitton, Miu Miu, Moschino e Prada oferecem os mais variados itens aos tutores fashionistas, de roupas a móveis. Uma mini bolsa para transportar sacolas de limpeza, da Valentino, é vendida no site oficial da marca por US$ 470. Já uma cama em formato de poltrona, da Gucci, custa US$ 7,5 mil. Algo como R$ 39 mil. Assim como nas peças fabricadas para humanos, as grifes apostam em padronagens e estampas que distinguem cada pet. Afinal, na visão dos ‘pais’ endinheirados, eles também merecem ostentar a tradicional Medusa da Versace.
SKIN CARE Estima-se em 149 milhões o número de animais de estimação no Brasil. E se muitos tutores não podem arcar com roupas de grife, eles ao menos tentam demonstrar seu carinho por meio de cuidados especiais. É aí que o universo de pet care também cresce, oferecendo produtos e serviços premium. A Pet Society é um exemplo. A empresa tem crescido 20% ao ano ao diversificar o portfólio entre as linhas de entrada e superpremium. A diferença de preços mostra como os dois mundos estão distantes. Enquanto uma colônia da linha Beeps, mais acessível, custa cerca de R$ 20, a da linha superior, com formulação e embalagem mais sofisticada, sai por R$ 90.

Na oferta de serviços, os pet shop tradicionais, apenas com o banho e tosa, começam a ficar para trás. No Clube Salatino, em São Paulo, são oferecidos banhos em ofurô, massagem, tosa especializada por raça e ozonioterapia. Tudo é personalizado. Segundo um dos sócios do Salatino, Rochester Oliveira, “é muito importante saber o tipo de pelagem, para usarmos o produto adequado”. Até o tradicional sistema leva e traz teve um upgrade, com carros blindados e música ambiente. Se a ideia é levar o pet para uma viagem internacional, há especialistas em cuidar da documentação e acompanhar o animal durante o deslocamento. Para isso, o clube possui bases operacionais em locais em que as viagens são mais recorrentes, como Miami, nos Estados Unidos. Um dos clientes do Salatino é o Plínio, cão da cantora Anitta.
Como toda mudança de mercado, um componente comportamental foi decisivo. Fagliari, da Pet Society, entende que durante a pandemia houve uma mudança importante na forma como os pets são percebidos. “Muitos animais vieram do quintal para dentro da casa e essa mudança de hábito provocou transformações no mercado”, disse. E isso foi de tratamentos à alimentação, com padarias caninas se especializando no preparo de bolos para aniversariantes de quatro patas e que hoje servem de hot dogs a cervejas. Se a pandemia aproximou os pets de seus tutores, isso é ainda mais verdadeiro no segmento de alto luxo. Hoje, eles são da família e recebem o mesmo conforto de seus ‘pais’.