Filho, não entre na piscina”. A advertência seria normal se partisse de qualquer mãe preocupada com a segurança de uma criança pequena que não sabe avaliar a profundidade ou a temperatura da água. Mas é cada vez mais comum ouvi-la como alerta para um cão. Embora os especialistas usem o termo tutor para se referir a quem possui animais domésticos, muitos preferem ser chamados de ‘pais de pets’. Esse comportamento cresce em paralelo a um mercado em ascensão: o de serviços e produtos premium para animais domésticos. De acordo com a Abinpet, o movimento do setor este ano será de R$ 36 bilhões. Ainda que a maior parte da despesa seja realizada pela classe média, 1% vai para o segmento de alto luxo.

Integram esse universo tanto grifes que oferecem acessórios e roupas, quanto empresas focadas em produtos e serviços voltados para o bem-estar animal. De olho em um filão promissor, as marcas passaram a desenvolver produtos específicos para diferentes tipos de pelo, pele e raça, usando matérias-primas similares as dos tratamento de beleza dos salões mais sofisticados. Spas, hotéis e clínicas veterinárias têm se especializado em atender clientes de maior poder aquisitivo. Em pet shops, há desde tosas ao custo de R$ 500 até casacos de R$ 3,6 mil da grife Fendi especialmente desenhados para deixar o amigo de quatro patas na moda.

CONFORTO Os serviços de bem estar animal cresceram. Tradicionais banho e tosa agora dividem espaço com massagens, estética e e tratamentos especiais. (Crédito:Divulgação)

A Fendi, claro, não está sozinha nessa onda. Marcas como Gucci, Louis Vuitton, Miu Miu, Moschino e Prada oferecem os mais variados itens aos tutores fashionistas, de roupas a móveis. Uma mini bolsa para transportar sacolas de limpeza, da Valentino, é vendida no site oficial da marca por US$ 470. Já uma cama em formato de poltrona, da Gucci, custa US$ 7,5 mil. Algo como R$ 39 mil. Assim como nas peças fabricadas para humanos, as grifes apostam em padronagens e estampas que distinguem cada pet. Afinal, na visão dos ‘pais’ endinheirados, eles também merecem ostentar a tradicional Medusa da Versace.

SKIN CARE Estima-se em 149 milhões o número de animais de estimação no Brasil. E se muitos tutores não podem arcar com roupas de grife, eles ao menos tentam demonstrar seu carinho por meio de cuidados especiais. É aí que o universo de pet care também cresce, oferecendo produtos e serviços premium. A Pet Society é um exemplo. A empresa tem crescido 20% ao ano ao diversificar o portfólio entre as linhas de entrada e superpremium. A diferença de preços mostra como os dois mundos estão distantes. Enquanto uma colônia da linha Beeps, mais acessível, custa cerca de R$ 20, a da linha superior, com formulação e embalagem mais sofisticada, sai por R$ 90.

Na gama de produtos da empresa ganham destaque os dermocosméticos e skin care, como mousse de limpeza, sérum restaurador e protetor solar. De acordo com o presidente da Pet Society, Luciano Fagliari, esses itens fazem parte do conceito do novo veterinário, que vai além do tratamento de doenças. “Soft care está no caminho de ocupar um espaço de prevenção”, disse. A história da empresa ajuda a entender sua forma de atuação. Fundada por farmacêuticos, ela desenvolve produtos com ativos naturais, possui uma planta autorizada a fabricar cosméticos para humanos e utiliza matérias-primas comuns a grandes nomes da indústria, como a L’Oreal. “Tem muita tecnologia dentro de tudo o que a gente faz”, disse Flagliari.
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Na oferta de serviços, os pet shop tradicionais, apenas com o banho e tosa, começam a ficar para trás. No Clube Salatino, em São Paulo, são oferecidos banhos em ofurô, massagem, tosa especializada por raça e ozonioterapia. Tudo é personalizado. Segundo um dos sócios do Salatino, Rochester Oliveira, “é muito importante saber o tipo de pelagem, para usarmos o produto adequado”. Até o tradicional sistema leva e traz teve um upgrade, com carros blindados e música ambiente. Se a ideia é levar o pet para uma viagem internacional, há especialistas em cuidar da documentação e acompanhar o animal durante o deslocamento. Para isso, o clube possui bases operacionais em locais em que as viagens são mais recorrentes, como Miami, nos Estados Unidos. Um dos clientes do Salatino é o Plínio, cão da cantora Anitta.

Como toda mudança de mercado, um componente comportamental foi decisivo. Fagliari, da Pet Society, entende que durante a pandemia houve uma mudança importante na forma como os pets são percebidos. “Muitos animais vieram do quintal para dentro da casa e essa mudança de hábito provocou transformações no mercado”, disse. E isso foi de tratamentos à alimentação, com padarias caninas se especializando no preparo de bolos para aniversariantes de quatro patas e que hoje servem de hot dogs a cervejas. Se a pandemia aproximou os pets de seus tutores, isso é ainda mais verdadeiro no segmento de alto luxo. Hoje, eles são da família e recebem o mesmo conforto de seus ‘pais’.