Nascida em 2006, a Eventbrite, intermediadora digital de venda de ingressos, é uma das grandes apostas do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Com mais de US$ 1,5 bilhão em tickets movimentados e 500 funcionários espalhados por cinco países, a empresa também é reconhecida pelo seu modelo de gestão, que prima pela felicidade dos seus funcionários. Há dois anos no Brasil, a Eventbrite vem replicando a sua cultura com os 25 empregados no País, número que deve ser multiplicado rapidamente, apesar da crise econômica. Confira, a seguir, a entrevista que a CEO Julia Hartz deu à DINHEIRO sobre a sua forma de trabalho e também os planos para a operação brasileira.

Ao adotar práticas como jornadas flexíveis e trabalho em casa, a Eventbrite é lembrada como uma das melhores empresas para se trabalhar nos Estados Unidos. O que a diferencia?
Não temos apenas um método de trabalho, mas uma cultura. Queremos sempre estar próximos dos nossos funcionários em qualquer lugar do mundo. Fazemos conferências diárias e estimulamos que todos participem. Procuramos tratar todos de maneira horizontal.

Esse método de trabalho horizontal traz resultados?
Acredito que os nossos funcionários possuem um sentimento de pertencimento à empresa. Eles gostam de trabalhar mais relaxados, seja em casa ou no escritório. Todos querem e precisam ter a sua vida social, suas atividades particulares. Não é mais necessário viver para o trabalho. Pessoas felizes e com saúde trabalham melhor.

Mas vocês atuam em diferentes países. A estratégia funciona em todos eles?
Claro que cada região tem as suas particularidades e queremos entendê-las. Não almejamos ser uma empresa da Califórnia com vários escritórios pelo mundo. Queremos construir uma companhia que tenha uma coesão entre as culturas e que seja forte por trazer e intensificar as melhores práticas de cada região. 

A Eventbrite, no entanto, está mais acostumada a trabalhar com as gerações mais novas. Os mais velhos têm espaço na empresa? 
Sim, mas também estudamos as melhores formas de trabalhar com eles. Precisamos entender quais são os interesses e necessidades dos mais velhos, criar treinamentos específicos e até pensar no futuro, como aposentadoria.

O modelo de trabalho das startups pode influenciar a forma de trabalhar de grandes companhias?
Na minha visão, já influencia. Somos os pioneiros e estamos mostrando que trabalhar de forma diferente pode trazer resultados ainda melhores. É um modelo que tenta ser mais democrático e isso funciona.

E você vê esse modelo sendo adotado em governos? 
Os mais inteligentes irão adotar.

Você acredita que governos devem incentivar startups?
Não vejo ligações com governos funcionando muito bem. Ser disruptivo é complicado, pois alguns órgãos não têm essa intenção. No entanto, se o setor público der estrutura e liberdade para os empreendedores, não vejo problema algum.

Por que apostar no Brasil em um período de crise?
Nossa presença no Brasil ainda está sendo construída. Compramos a Eventioz (empresa argentina de venda de ingressos) em 2013, sabendo da capacidade de crescimento na América Latina e, principalmente, no Brasil. Estamos animados com essa expansão. Não é porque existe uma crise atualmente que deixamos de ver o potencial brasileiro.

Há oportunidades na crise?
Certamente. Temos, por exemplo, a possibilidade de atrair os melhores talentos ao nosso time. Uma taxa de desemprego mais alta permite isso. O Brasil também é um país muito conectado e ligado às novidades que surgem. Como se sabe, as grandes inovações surgem na crise.

O Brasil pode sair fortalecido desse momento complicado?
O Brasil está em crise por ter se tornado muito dependente da China, além da própria crise política. Os Estados Unidos sofrem com os mesmos problemas. Se olharmos para trás, a crise de 2008 ajudou as empresas americanas a se reinventarem e se solidificarem no novo cenário. O Brasil pode seguir caminho parecido.