Nos últimos quatro anos, o Estado de Pernambuco, a segunda maior economia do Nordeste, atraiu mais de 300 empresas – entre gigantes como Ambev e Sadia – e investimentos de R$ 26 bilhões. Na terça-feira 14, esse portfólio foi vitaminado por mais um aporte bilionário. A Fiat anunciou a construção de uma nova fábrica no Complexo Industrial Portuário de Suape, a segunda planta da marca italiana no Brasil. Orçada em R$ 3 bilhões, a futura linha de montagem terá capacidade para produzir 200 mil unidades e gerar 3,5 mil empregos, quando operar a todo vapor. 

 

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Mas o anúncio da Fiat pode ser apenas o primeiro de uma série de investimentos do setor automotivo na região. A chegada de uma montadora induz à instalação de fornecedores para um mercado que agrega, somente no Nordeste, 300 mil novos carros por ano. 

 

“A Fiat vem para cá porque ela está enxergando que o Nordeste é a região que mais se desenvolve no Brasil”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de anúncio da nova fábrica. 

 

A fábrica da Fiat será instalada num terreno de 4,4 milhões de metros quadrados no Complexo de Suape, a 57 quilômetros do Recife. Além da unidade, a área abrigará um centro de pesquisa, destinado ao desenvolvimento de novos produtos. 

 

A montadora italiana, porém, ainda não definiu que modelo produzirá em Pernambuco. Um dos planos é um carro popular para atender ao mercado local. Inspirado na unidade de Betim, primeira da marca no Brasil, o polo industrial foi pensado para reunir na sua área os principais fornecedores de componentes e sistemas usados na fabricação dos carros. 

 

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Anúncio oficial: o presidente Lula esteve no Estado ao lado do governador Eduardo Campos

 

A experiência rendeu ganhos em logística e eficiência em Minas Gerais e busca consolidar, em Pernambuco, a cadeia nas imediações da montadora. Significa a possibilidade de consolidar um polo automotivo num Estado que já figura como o grande centro petroquímico do Nordeste. “Esta fábrica será o eixo de um novo polo industrial”, diz Cledorvino Belini, presidente da Fiat no Brasil. 

 

A experiência recente mostra que é possível desenvolver a cadeia automotiva no Nordeste. Primeira a instalar uma unidade na região, em 2000, a Ford induziu ao surgimento de um importante polo industrial em Camaçari, na Bahia. 

 

A reboque da montadora, se instalaram fabricantes de autopeças e componentes. As gigantes Continental e Bridgestone-Firestone passaram a fabricar pneus nas proximidades. 

 

“A empresa investiu R$ 1,2 bilhão para erguer a unidade e os fornecedores desembolsaram R$ 700 milhões. Isso muda completamente a região”, lembra José Rinaldo Caporal Filho, diretor da consultoria Megadealer Auto Management. 

 

Um movimento semelhante já começa a surgir ao redor da Fiat, que só deve iniciar as obras em 2011. A pernambucana Moura, uma das maiores fabricantes de baterias do País, avisou que pretende investir R$ 500 milhões para dobrar sua produção, hoje concentrada no agreste do Estado. 

 

Uma das três unidades previstas será em Suape, num terreno que a empresa já possui. A meta é chegar à marca de dez milhões de baterias em 2020. Para estimular a instalação das empresas, os mesmos benefícios fiscais concedidos à Fiat, que permite a utilização de créditos de IPI para quitar débitos de outros tributos, serão estendidos à cadeia produtiva.

 

Mercado consumidor não falta. Entre 2007 e 2010, a frota de veículos de passeio no Nordeste passou de 3,1 milhões para 3,9 milhões. A expansão do mercado colocou Pernambuco no radar da indústria automotiva como provável destino de novas montadoras. 

 

Quatro marcas chinesas demonstraram interesse em se instalar no Estado, entre elas BYD e Chery, que acabou decidindo construir sua primeira fábrica brasileira em Jacareí, um investimento de US$ 700 milhões. 

 

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As empresas estão de olho no crescente poder aquisitivo da região e na logística oferecida pelo porto de Suape. Em maio, a General Motors inaugurou um centro de logística no complexo para distribuir o modelo Agile para as concessionárias dos 14 Estados do Norte e do Nordeste.  

 

Para consolidar esse polo industrial automotivo na região, contudo, será preciso qualificar a mão de obra. A nova fábrica Fiat contará com um centro de treinamento, mas a indústria pernambucana quer envolver escolas técnicas e o Senai na tarefa. 

 

“O desafio é dotar a cadeia produtiva de mão de obra capacitada para aproveitarmos todo o potencial desse investimento”, diz Jorge Côrte Real, presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco.